quinta-feira, 12 de agosto de 2010

mapa

escrevo um soneto com meu corpo
e percebo que não é um soneto
já que não tenho forma
nem conteúdo

sou todo nada.

escrevo um soneto com meu corpo
e bebo lágrimas da lua sem copo
direto no gargalo do galo da noite
gauche na garganta um grito entalado

sou todo nada.

escrevo um poema com meu sangue
mas não serve
porque poema que é poema
não coagula

sou quase tudo errado.

escrevo um silêncio com berros
acasalando socos com borboletas
acasalando formigas com bombas atômicas
acasalando olhos de moscas com boings 747

sou enquanto não me sou.

escrevo sinceridades falsas
sobre tudo o que não sei
sobre eu e você
sobretudo: nada

soumos eus e voceus numa jangada.

escravo com meu corpo
de palavras cativadas

escracho - SKASHOW - SCJAJREUH - SCRSJFCO
esterco - 01111100001101000100110100111000101111110100010010010

escrevo com meus medos
pesadelos mais sonháveis que a vida

escrevo com meus nadas
naus e as náuseas
de navegar por mares ias
como quem navega bacias
quentes de barrigas lisas
meninas

escrevo com meu desejo
de querer tudo ao contrário

odut oa oirártnoc aroga

só te prometo uma coisa:

minto

mato

meto
---------------------
não tenho mapa
a não ser meu corpo




3 comentários:

  1. Soneto mata e o corpo mente, quando quem mete escapa, você segue rimando em frente.

    Fiz um procê. Dá uma olhada lá!

    Abraz!

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  2. É foda... no final das contas é vida é estar perdido mesmo, não é?! Humpf!

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