quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

desperto

desperto novamente aqui na beira do abismo
tenho 22 anos de idade
mas o espírito é velho caduco
mas se esqueceu
que bom!

desperto novamente, estou no abismo
encarando o rosto descendente e vertical
de minha queda
o cabelo ainda é negro
forte
e não caiu

desperto novamente
a gravidade me abraça
com sorrisos newtonianos
mas eu continuo desperto
perto do abismo
longe de mim mesmo
alcançando as distâncias que vão dar no meu umbigo

desperto e novamente
percebo a quantidade de gás carbônico
ajeito o meu bigode
e vou dançar o twist na beirada da pedra
olhando a minha morte
bailando invisível em cima de algum vazio

desperto, novamente, desperto
consciente de que isso é apenas um sonho
doce de leite
é melhor do que creme
mas todos ainda são ilusão

desperto
longe de casa
longe da minha família
mas com o coração cheio de quedas
por mim e pelo mundo

lista

recuperar o meu relógico biológio.
recuperar o meu fogôlego
recuperar o meu ethos
recuperar o meu lego (aquela peça que não encaixava)

preciso fazer uma lista das coisas que preciso listar
1- escrever essa linha
2- pelo som dessa linha que eu escrevo agora, escrever automaticamente a outra linha
3- estabelecer alguma rima, nem que seja de idéias
4- às vezes voltar e ler em voz mental para poder cantar as próximas linhas

pagar o que devo
preciso pagar o que devo
devo pagar o que preciso
tirar todos os documentos
elaborar as aulas
inscrições e certidões

preciso meditar, ou seja, preciso não precisar de nada, por alguns minutos ou horas
estar com saúde
praticar esporte
preciso praticar poesia
todo dia
cada dia mais
se eu quiser me tornar um poeta será preciso praticar
nada, com afinco.

comprar chocolate

polisnização

depois de um tempo
o vento vindo
transforma o clima
com mãos invisíveis
tocando a pele
das folhas verdes
cheirando as moças
e os sinais de civilização

o vento passa
por entre as casas
apartamentos
e a mente presa
burocracias
enquanto cozinham
feijão e bife

por entre janelas
daquela cidade
que dentro da gente
cantava hinos
desesperados em juventude
permanece um coro
desabrigado

o vento fica
roçando as árvores
queimando raízes
passado e promessas
descobre um futuro
por entre formigas
cava um muro
ergue um buraco
no meio do caminho
sem pedras

depois de um tempo
o ritmo lento
da clorofila
do pensamento
do sol batendo
a seiva bruta
penetra as ruas
da minha cidade
só de saudade
e escreve cartas
que ninguém vai ler

e as letras fogem
dos meus cadernos
das minhas telas
computadores
são mantras cegos
que esbarram em prédios
sem perceber

e os poemas
por mais pequenos
podem crescer

sábado, 19 de fevereiro de 2011

era uma vez um homem que se apaixonou pela coerência

era uma vez um homem que se apaixonou pela coerência.
todo dia de manhã ele acordava, tomava o café, ia ao trabalho.
voltava do trabalho e ia dormir.
ele era coerente.

até para escrever ele era coerente.
começava sempre com "era uma vez"
e terminava com "e assim foram felizes para sempre".

até que um dia ele acordou.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

era uma vez um homem que se apaixonou

era uma vez um homem que se apaixonou por uma reportagem de jornal.
ou seria melhor uma reportagem que se apaixonou por um homem de jornal?
um jornal que se apaixonou por um ou.

às vezes a gente embaralha as coisas na vida.
a vida é um barato. é um baralho de tarot.

era uma vez um homem que se apaixonou.
ele se apaixonou por um pedaço de madeira que estava escondido atrás da escrivaninha.

atrás da escrivaninha tinha um pedaço de madeira, um clips, cabelo e uma aranha.
a chamada dona aranha.
a história da dona aranha é muito grande, então eu vou resumir.
fim.

era um homem que se apaixonou por uma vez.
e a madeira que ele escondia apareceu amanhã.
era um negócio muito comum isso de aparecer coisas amanhã.
antes acontecia isso de vez em nunca.

era uma vez um homem que nunca se apaixonou por uma vez amanhã.
ele tinha um amanhã com aranhas.
ele sonhou que em sua nuca nunca passariam passarinhos.

eu sei. eu te contei isso agora.