quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Memórias 1
Inauguro hoje, dia 17 de dezembro de 2009, uma espécie de autobiografia de coisas que eu lembro, e de lembranças inventadas. Se você leitor quiser saber ao certo a veracidade desses fatos e memórias, só posso responder citando o Manoel de Barros: “só dez por cento é mentira: o resto é invenção.”.
Uma das minhas lembranças mais remotas e a sensação de tocar na areia pela primeira vez. Não sei se é uma lembrança da sensação ou se é apenas uma sensação imaginada pelo jeito que minha mãe contou o ocorrido.
Era um dos meus primeiros dias numa creche, quando decidiram me mostrar o parquinho, onde tinha aqueles brinquedos e o chão todo de areia. Pensando hoje, parece que a areia é uma forma de evitar que as crianças se machuquem ao cair. Uma boa idéia. Pois sempre caem, é inevitável.
Eu devo ter pisado na areia e estranhado. Que coisa esquisita...o chão agora não é duro como os outros chãos...Deve ter sido curioso. E com aquelas perninhas tortas eu tentei andar um pouco na areia.
Pelo pouco que me lembro, eu devo ter estranhado tanto, que decidi sentar na areia e analisar aquele chão esquisito, com as minhas próprias mãos, numa atitude claramente experimental, de um futuro homem da ciência, instigado pelo conhecimento. Exagerei um pouco, mas ficou legal. É melhor guardar as imagens e sons com um pouco de exagero nas partes legais, nas partes que animam. Juntando tudo, a vida parece mais viva na memória.
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Quando eu fiz 13 anos decidi mudar minha vida completamente. Já não era mais o mesmo Taiyo. Ou não queria ser. Definitivamente, estava entrando na adolescência. O primeiro passo foi na escolha do presente de aniversário.
Fui para uma livraria dessas enormes que vendem de tudo, direto para a seção de música, cds, dvds. Já tinha algo em mente. Dois cds: um do Jimi Hendrix que eu tinha lido sobre na revista Playboy, e outro do Black Sabbath...acho que era Black Sabbath ou AC-DC.
Segurei os cds nas mãos, todo confiante, e peguei uma daquelas maquininhas para tocar e ouvir o disco no fone de ouvido. Epifania: sem saber, deixei o volume no máximo. Sorte ou não (nada é por acaso), a primeira música do disco do Hendrix começava justamente com uma porrada na guitarra, uma palhetada forte pra cacete, muito alta e distorcida.
Aquele som fudeu qualquer neurônio da criança que existia em mim.
No natal, pedi uma guitarra:
“Igual a do Jimi Hendrix”.
Agora sim, a criança estava morta, e um longo período conhecido como adolescência estava para começar, com muito rock (Hendrix, Sabbath e Zepellin, drogas (guaraná, açaí e paçoca) e sexo (solitário). É triste mas é alegre.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
sábado, 12 de dezembro de 2009
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Felina
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Ela
domingo, 6 de dezembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
domingo, 22 de novembro de 2009
Aquilo
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
Noite anterior
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
Limitedosom - vinhetas no Myspace
terça-feira, 3 de novembro de 2009
A Charrete

às vezes eu me lembro daquela foto.
eu não lembro do que foi aquela foto.
eu lembro da imagem da foto.
às vezes eu sinto o que eu vi, quando tiraram a foto.
o menino estava correndo, junto com os colegas da escola, numa fazenda.
"Piperama".
o menino entrava em uma cidade em miniatura, uma cidade das crianças.
numa dessas casinhas, roupas de adulto, antigas. de quem eram?
o menino coloca a roupa e vê uma professora, ou uma dessas mulheres-senhoras que
cuidavam das crianças.
ela está com uma máquina fotográfica. ela tira uma foto.
o menino cresceu e hoje vê a foto.
o menino morreu, para nascer o garoto, e o garoto morreu, para nascer o homem.
Eu lembro daquele menino. eu não lembro daquele menino.
e na lembrança do menino?
como ele lembrará o homem?
domingo, 1 de novembro de 2009
zentimental
na janela do sol que bate no brilho
eu vejo só o miró do mirror
eu vejo, só, o sozinho de mim
eu vejo o Tejo e a liberdade
a pátria a morte oh liberdade
eu vejo o Oriente a oriente do oriente sorridente
o rio rente o Rio
eu rio do que vejo por que vejo o sole mio
eu canto o beijo que recebo do sol
na testa na cabeça no trem asul
zentimentos em meu peito eu tenho demais
zentimentos em meu peito eu tenho eu
o eu zente muito a minha mente
e zentimentalmente falando a gente não mente
fosse um samba seria canção
fosse uma cueca seria branca
fosse uma bandeira seria do Brasil
tenho em mim todas as respostas para as perguntas que elas geram
mas tenho em mim todas as respostas para as respostas que elas não respondem
fosse eu Deus e transformaria arte em ouro
poesia em ouro
e ouro em poesia
mas sou humano, demasiadamente humano
e só opero equações de primeiro grau
e ditado com 10 palavras. ponto final.
eu aprendi na escola como escrever as palavras
mas o significado eu aprendi na rua
em todas as minhas pequenas mortes
e pequenos nascimentos
em todos os cuspes e tapas na cara
e carrinhos do futebol
se você queimou aquelas poesias
feitas de caderno amarelo e lápis
só fez questão de ilustrar o que estava escrito
cinzas e promessas e futuros já passados
poesia de criança só serve para queimar papéis
e embrulhar balas ice-kiss
a verdadeira poesia
ficou guardada no meu futuro
a verdadeira promessa
já pegou o primeiro ônibus escolar
a verdadeira canção
eu cantei e esqueci
estou de pé e pulo e grito e gesticulo com o abismo
numa luta eu me domino e continuo a continuar
piso duas vezes no mesmo rio
jogo a piada no lixo
e planto um som no mundo
domingo, 25 de outubro de 2009
a alegria existente em cada mínimo objeto e em cada mínima criatura
quando eu perceber que a alegria é minha e Tua
quando eu perceber
que o Eu não existe
a alegria que persiste e me persegue, me fecundará do presente
quando eu perceber
a música do silêncio
a musa de-quando-fecho-os-olhos
a poesia dos corpos em movimento
a vida nascendo nas nuvens
os sonhos trazidos pela chuva
a história dos meus ancestrais
a minha história ancestral
o meu futuro ancestral
o nosso futuro ancestral
quando eu perceber
que perceber é mais Ser do que ter
quando eu dar sem procurar receber
quando eu perder o medo
da morte
do desafio
de revelar a minha ignorância
quando eu perceber
que somos Um
será poesia
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
coisas
mas as coisas acabam.
até uma poesia acaba.
o fim é uma etapa importante
de todos os processos.
a memória acaba?
pode ser. até a memória pode acabar.
é preciso o fim para que venham novos começos
e novos fins para outros novos começos.
o fim evidencia a mudança, o movimento do mundo.
a saudade acaba?
pode virar memória. e até a memória pode acabar.
saudade só tem no português. maldita e linda língua essa que
espalha saudade pelos portos. até a língua portuguesa terá seu fim.
fernando pessoa, de certa forma, voltará para o rio de sua aldeia, o rio nenhum,
em formato de pó e silêncio.
e o amor?
o amor pousou de levinho em nosso futuro, só pra fazer cosquinha, contar causos
e partir,
mas deixou o sorriso. o amor é generoso. deixa coisas, mesmo que seja nada,
deixa coisas.
coisas que não pesam e pesam mais do que bagagem
coisas que lembram do futuro
coisas que resolvem poesias
coisas feitas de pedaços de parede e mel
coisas pequenas que você deixou cair
coisas que voam de carona em perfumes
coisas que alguém se esqueceu de dizer e vento às vezes trouxe
coisas
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
e mastigo, castigo
eu guardo sentimentos no peito
e grito, mito
histórias que existem desde o começo do mundo
desde quando as águas andavam na face do nada
e quando o verbo se fez árvore
dentro de mim tem uma casca
e fora tem um centro
quem quiser saber meu nome
é só olhar no espelho
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
ele refletiria
se ele fosse um reflexo
ele fingiria
as batidas de coração
vêm do centro da terra
um centro onde todas as bocas do mundo
urram
se as batidas fossem minhas
elas seriam de todos
em cada boca e em cada beijo
se espera um segredo
embrulhado em saliva
se meu coração fosse de plástico
estaria boiando na baía
com uma carta ainda vazia
que eu mesmo leria
um dia
se meu coração fosse seu
ele seria meu
se meu coração fosse real
ele seria feito de sonhos
o mundo dorme sonos dogmáticos
e nós preparando o jantar para a morte
se meu coração fosse
ele seria
domingo, 4 de outubro de 2009
sábado, 26 de setembro de 2009
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
A Melhor Poesia que eu Já Li
pode ser o barulho das teclas do teclado do computador enquanto eu digito esse poema
essas pequenas coisas são pra mim as mais valiosas
porque elas são a minha existência
a minha namorada dormindo na sala
no sofá da sala
e o mundo podendo terminar nesse instante
estou feliz
feliz como alguém que sonhou e lembrou
que o sonho era gostoso
estou feliz como quem ainda não acordou de um sonho
estou feliz como daquela vez que olhei pro mar numa praia que não me lembro
e pensei comigo
estou feliz
e se o tempo é mesmo relativo
eu posso engrandecer esse momento
torná-lo um quadro
um poema
e toda vez que eu o ler
vou sentir a mesma sensação
pra mim, vai ser uma ótima poesia
foda-se a linguagem, as normas ou transgressões delas
pra mim,
essa é a melhor poesia que eu já li
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
esses chinelos na infância são quase como
canetas bic
para onde vão as canetas bic perdidas?
você já achou uma?
você já estava pegando um jacaré em búzios, leblon
e, no meio da onda, avistou uma havaiana, ou melhor, duas, juntas,
pegando a mesma onda, como que calçando os pés de um surfista fantasma?
já disseram que as canetas bic são o símbolo maior do socialismo.
mas eu não quero falar de canetas bic.
quero falar do serumano. o serumano é um negócio que me intriga.
computadores vão compor sinfonias e pintar quadros.
mas o seruamano resiste, mesmo perdido.
um amigo do c.a tinha um estojo manerão. era retangular, de madeira, com uma tampa que encaixava. tava na moda esse tipo de estojo. eu era fissurado naquele estojo.
troquei com o cara. nem lembro o que aconteceu com o estojo.
eu tinha um videogame nintendo com várias fitas. jogava direto.
mas ai fiz 13 anos e quis tocar roquenrol na guitarra.
vendi tudo. até gameboy. e comprei uma Stage tipo strato do Jimi Hendrix.
nem lembro o que aconteceu com a Stage.
as coisas perdidas, mesmo perdidas, resistem.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Carta para o Fim de um Namoro
foi o disco do bituca que você pegou
sem ter me pedido
eu perdôo tudo, as palhaçadas
aquela vez que você ficou bêbada
mas o disco do bituca...
o que que deu errado com a gente?
eu sei, fui eu e foi você
mas parecia durante um bom tempo
que era certo
agora as coisas ficaram um pouco mais difíceis por aqui
não podemos nos falar como antes
é diferente
eu sei que você queria, mas, só escrevo essa mensagem agora
porque só agora pude escrevê-la
quero que lembre dos momentos bons
as coisas que ficaram realmente
no teu coração
e no meu
ass: F. P. Tostes
psicografia do médium Almeidinha
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isso foi uma proposta de texto do somesentido.blogspot.com
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
e movimentam-se como não houvesse tempo
meus olhos estão voltados para o mundo
e movimentam-se como fossem meus
meus olhos estão voltados para o retorno
o eterno retorno que volta nos meus olhos
meus olhos estão voltados para os meus olhos
e vejo o tempo desvencilhar-se dos sentidos
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Emails para Natasha - Parte V
dia 24. se eu dissesse que nada de interessante aconteceu, só isso já seria alguma coisa. pois então digo que uma coisa me chamou a atenção. hoje vi um cão de cadeira de rodas. sim, um cão. era uma cadeirinha pequena, com duas rodinhas de bicicleta. parece que ele está com as patinhas traseiras quebradas. anda arrastando as duas da frente e a rodinha roda. um cão de cadeira de rodas.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Emails para Natasha - Parte IV
comi frango ao molho pardo numa panela de barro bem grande. sentei no banco da praça. olhei e vi as crianças, como pombos em volta do pipoqueiro, em volta do vendedor de bolhas de sabão. as bolhas refletiam a luz do sol da peneira das grandes árvores expressionistas enraizadas na praça. foi então que uma delas foi voando na minha direção. uma criança veio seguindo e ela, vagarosamente, parou no ar, entre nós dois. esplodiu. eu e o menino levamos um pequeno susto, e percebemos a nossa proximidade. era o menino do trem. engraçado, senti novamente o que tinha sentido naquela pousada fedorenta, olhando no espelho do banheiro. senti que eu não reconhecia mais aquele rosto. mas mesmo assim ainda era eu.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Emails para Natasha - Parte III
Emails para Natasha - Parte II
há essa hora, você provavelmente deve estar dormindo, e quando acordar eu já vou estar no caminho para Minas, com vento na cara, escutando Clube da Esquina no mp3, dormindo, acordando, babando, olhando as vacas, as fachadas com grafia errada, os esfarrapados em pequenas bicicletas, os vendedores de mel, e tudo aquilo que a gente viu naquela viagem da escola. Foi bom saber que você está bem, que está tudo certo ai com o Roberto. Eu to aprendendo a gostar desse cara, de início eu o odiava. Mande notícias sempre, ein? Se esse babaca fizer alguma coisa...
Como prometi, comprei um caderninho para escrever durante a viagem. Ah, pode deixar que eu vou procurar esse tal de César. É só dizer que sou seu amigo, não é?
To com um frio na barriga, mas não é de medo, cagaço, apesar de parecer. Às vezes eu sinto isso antes de entrar no palco. É como se a barriga estivesse comendo ela mesma, se corroendo. Não consigo dormir. Só de pensar nas coisas por vir, nas paisagens da janela, na concretização dos nossos ingênuos sonhos de criança, dá uma vontade de escrever e aqui estou, com saudade de tudo, da gente, da escola, e até do que acabo de escrever, sinto tanta saudade da vida e dos segundos que passam que até sinto saudade dessa frase, não consigo terminá-la, preciso escrever, preciso, a vida é muito bonita para a gente dormir, amanhã espero a sua resposta e as coisas que ainda vão acontecer.
Emails para Natasha - Parte I
e, então, nesse ato que te falei, chamei por você. é sério. eu também só fui entender isso na tarde de hoje, quando acordei. eu cansei. cansei do que eu era, do que a gente não era ainda. eu, fora do corpo, percebi que te amava. você pode imaginar também o quanto isso é confuso pra mim. mas é a mais pura verdade.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Não me recordo
O que ficou, relatos de minha mãe.
Parece que estranhei.
Algumas imagens perduram, outras não, como se ainda não existissem, mas já passaram.
Filmes que no final você jura que já viu antes. E viu.
Frases escondidas em pequenos movimentos do cotidiano.
Silêncios e sombras que já estavam lá antes.
Demora-se um tempo para perceber quem somos.
Ainda mais tempo perceber o que somos.
E estamos sempre, ainda, buscando um sentido.
Não me recordo a primeira vez que escrevi poesia.
Provavelmente, foi por uma menina.
Ou, por mim mesmo.
As correrias da infância são mais donas de mim que eu as sou.
A cada instante meu corpo indaga esse formato atual. Cresci muito.
Mas serei o mesmo?
Quando eu tinha consulta na pediatra, sempre escutava um pouco temeroso quando diziam que eu teria um metro e noventa. Estiquei. Tenho quase isso. Um e oitenta e seis.
Parece que isso teve algum efeito na minha alma também, no meu jeito de enxergar o mundo.
O mais óbvio é a minha miopia. Vejo tudo embaçado.
O mais óbvio é a poesia.
Vejo tudo embaçado.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
repercussões do filme "A Partida" na minh'alma
e foi isso.
um homem olhando os olhos de uma mulher.
todas as histórias do mundo existem aí.
ele fechou os olhos e viu todas as histórias do mundo.
ela fechou o mundo e viu todas as histórias.
e como uma janela sem cortinas ao avesso
eles viram a poesia.
ele olhou os olhos dela
e a poesia sorriu.
nos rostos das pedras portuguesas
o tempo caminhava mancando
o tempo olhou o relógio
e pulsou
o homem olhou a mulher
e ela teve um filho
e eles morreram
o rio flui
o rio tenta subir o salmão
o rio faz toda a sua força
para subir o salmão
e acasalar com a nascente
de que vale o esforço do rio
para subir o salmão
se o rio vai morrer
e o salmão vai cair no mar
eu jogava pedrinhas n'água
para ver quantas batidas faria
o máximo que consegui foi
iludir a pedra
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
nesse mundo e no outro
cada descoberta de América é um segredo
um mar entre os rostos
as cores explodem na minha boca
e começo a cantar uma dança
escrita nas paredes da escola
um, dois, três milênios atrás
o sorriso da mona lisa no estandarte
aparece com um feijão no dente
com a miséria do mundo
nos dentes
terça-feira, 25 de agosto de 2009
em filmes
bebi coca cola
e decorei as paisagens de nova iorque
em todas as décadas
corrijo na rua um assalto amador
com os movimentos que aprendi
de bandidos
dos estados unidos
sei jogar beisebol
e cantar o hino que o jimi hendrix tocou em woodstock há
40 anos atrás
uso jeans
do james dean
e gosto de samba de raiz
sábado, 22 de agosto de 2009
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Foi o que ele me disse, depois de cuspir o sangue da boca.
Minha mão estava doendo.
Foi a última vez que o vi.
Depois disso, larguei tudo. Foi como se tudo o que eu tinha construído até aquele momento não significava nada. Eu precisava sentir o vento na cara.
Na estrada as coisas ficam mais leves. O vento na cara ajuda a limpar as sujeiras da cabeça, as sujeiras que não saem no banho.
"A vida é um ringue...". Idiota. Por que? Por que? Se ele ao menos tivesse falado comigo. Mas agora é tarde. Mais um, garçom. Bares são iguais em qualquer parte. Homens idiotas e bebidas. Só os garçons tem mães. "Só os garçons...". Sem querer eu repito todas as frases dele. Dizem que até o jeito de andar, de falar, é igual. Quando falam isso me dá nojo. Dá vontade de sumir. Saí sem pagar a conta. O segurança encostou em mim. Agora ele vê dois de todo mundo.
Antes eu não faria isso. Agora, já não tenho nada a perder. Vou perder o que?
A estrada é uma coisa bonita. Hoje eu chorei, olhando a estrada. As coisas que passam, as casas ferradas, as crinças ferradas, os pneus furados, os cadáveres de cachorros. Isso me emociona. Não sei por que. Isso me emociona.
domingo, 16 de agosto de 2009
Fazendo uma poesia
No entre-sono, quase-sono, escrevi alguns versos.
Comecei assim:
"Eu quero a ausência de um domingo"
foi a frase inicial que me veio. isso acontece de vez em quando.
uma frase vem. e dela o resto nasce. como se a frase fosse a semente da poesia.
continuei
"Eu quero a ausência de um domingo
e só"
às vezes ficamos procurando as palavras. às vezes ficamos perdendo as palavras.
então escrevi algo que estava procurando sentir. isso acontece também. você escreve como uma forma de sentir
"Eu quero a ausência de um domingo
e só
chegar ao ponto de não pensar
na vida
na morte"
às vezes você de certa forma desiste daquele caminho
"Eu quero a ausência de um domingo
e só
chegar ao ponto de não pensar
na vida
na morte
natural só um satélite feito a Lua
que é mais feio do que você"
essa última frase me trouxe o que eu realmente queria falar.
isso acontece bastante na poesia. você fala muitas coisas para conseguir achar o que realmente quer falar. aquilo então é a poesia.
a última frase me trouxe uma coisa infantil, que eu estava buscando. tenho buscado bastante uma espécie de libertação do pensamento, do jeito de pensar 'normal'. tenho tido vontade de falar como falava criança. então a verdadeira poesia começou e veio numa tacada só. com velocidade.
geralmente acontece isso. quando se sabe o que vai falar. quando você sente que ali tem petróleo, que o chão é fértil, a poesia vem acelerada.
veio assim:
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eu sou pequeno
mais menor do que um pedaço de unha
caído no canto da sala que tem uma
dona aranha cuidando
com suas patinhas e teias
eu sou bem pequeno
menor do que o brilho que tem
nos seus olhos
quando você chora ou sorri
eu sou muito pequeno
que quase sumo
quando você pisca
enquanto você lê
enquanto
essas palavras
também somem
e só restam
os sonhos, os amores, as promessas do mundo
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não sou de reescrever poesia.
pode ser um grande erro, de principiante.
ou talvez seja o meu jeito de errar.
aprender com os erros.
é difícil se criticar. O blog está ai pra isso também.
Gosto de saber opiniões, dúvidas, sentimentos dos leitores.
Ainda estou procurando a poesia.
e nunca vou achar. Ainda bem.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Diálogos Catárticos - cena I
- Não acredito.
- Pode acreditar.
- Como pode?
- Não sei.
- E agora?
- Não sei. Não sei. Eu nunca...
- A gente tem que limpar tudo. A gente tem que limpar essa sujeira toda.
- Minha camisa tá com sangue.
- Eu não acredito! A gente tinha combinado outra coisa!
- Meu tênis também...
- Você tá me ouvindo! Não era esse o combinado!
- Não grita comigo não! Você não tava lá! Você não tava lá! Você não viu os olhos dele, você não tava lá e olhou, de frente, olhou bem nos olhos dele!
- Pára!
- Isso, chora, você num ia aguentar um segundo olhando os olhos dele.
- Não era pra ter sido assim. A gente falou que não ia...
- Foi um acidente!
- Como pode? Como pode? O Juninho, porquinho preferido do Dudu...
- Não sei...
- E o que eu digo pro Dudu? "Papai matou o Juninho"?"Hoje vamos comer porco, Dudu"?
- Diga a verdade. Ele já é grande.
- É. Já está quase um homem.
- Quando eu tinha a idade dele, já tava matando, e não era porco não, era gente mermo.
- Eu lembro.
- Então. Vai dizer?
- Tá. Mas pelo amor de Deus, limpa isso ai. Mais em cima.
- Eu te amo.
- Sei.
- Dudu? Você tava ai?
- Dudu, meu filho! Você tá ai há muito tempo?
- Dudu! A arma do papai! Coloca no ch...
- Gomes!!! Ahhhhhh!!!
- Mãe, fica quieta.
- Meu Deus!!!
- Fica quieta!
- AHHhhhhh...
- Agora sim. Já falei pra não mexerem no meu porquinho. Eu sempre falei pra não mexerem no meu porquinho! Vocês mexeram no Juninho, porra!!! Vocês não tinham o direito!!! Ouviu mãe, ouviu?
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Primeira namorada
Mas eu sentei no banco que tinha ali
depois de andar um pouco
o som abafado
de festa no longe
Sentei e pensei
na vida
nas palavras que não saíram da minha boca
quando ela sentou do meu lado
o silêncio sempre me acompanhou
quando eu estava sozinho
o silêncio foi minha primeira namorada
sábado, 8 de agosto de 2009
Saudade
Então eu me transformei. Dei-me asas. Voei ao redor do mundo. Percebi que o mundo cabe na palma da visão. Percebi que a Terra tem mais água que terra. Percebi que as pessoas vivem amontoadas, tem muito espaço vazio sobrando. Bateu uma saudade. De quando eu não sabia nada.
Então eu me transformei. Cortei-me as asas. Escolhi um pequeno círculo de terra para viver. Estrategicamente escolhido, havia água, terra, sol, vento. Percebi que existe uma força maior do que podemos entender. Isso me intrigou. Decidi imaginar o que seria essa força.
Então eu me transformei. Dei-me a força. Criei, da água, da terra, da lama, um homem. Não sabendo ao certo como fazê-lo, fiz minha própria fisionomia. Terminei e contemplei. Faltava algo.
Faltava a saudade que batia em mim. Criei uma saudade feita de passarinho. Coloquei no coração do homem. O homem então chorou. Fiquei feliz.
Então eu me transformei. Cortei-me a força. Fiquei nu. Decidi virar algo inútil, pequeno, frágil, sem valor. Virei uma lata. O homem ainda vai me catar. Quando isso acontecer, passarinho vai voar do coração e pousar de novo da minha mão. Pra saudade voltar pra mim.