quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

uma noite qualquer

no meu quarto
à noite
ponho-me em silêncio

de pronto os grilos dormem alto
na paisagem desse silêncio
cães conversam sobre ossos
carros insistem em descobrir o fogo
e o calor de estar vivo
põe preguiça até nas estrelas
(cogitam parar de brilhar)

meu corpo quer dizer algo
ou melhor, quer dançar algo
mas faltam-lhe palavras
ou melhor, sobram-lhe sonhos
de modo que é fácil se perder

em cada nervo uma gaveta
nas dobras do joelho cultivo sonetos
no suvaco, descrevo poentes com o suor
e em cada vértebra os versos vergam vocábulos
que, tortos, desabrocham na superfície aberta
da mente

seria mais uma noite qualquer
não fosse essa gritaria toda



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