segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

verdes

eu atravesso uma baía todo dia
atravesso cidades, cabelos, sinais
transpasso ferrugens, miolos de pão, morcegos
atravesso as linhas da palma da mão
os pedestres passados futuram-me
num tempo presente já findo
eu atravesso estações sem mapa
sem tênis, sem calos nos pés
eu atravesso o mar todo dia
atravesso sofás boiando
na beira da visão
mas canso
e paro

atravessar a noite em sonhos verdes

amarela

os peixes de seda
em cima da mesa
voa uma abelha
no lustre da sala
dorme na rede
amarela
o corpo da bela
janelas do quarto
abrindo a tarde
o sol ao contrário
de ponta cabeça
reflete na mesa
amarela
os peixes de sede
abelha que pousa
no lustre da sala
enfeites de luz