quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

minha vó dorme ouvindo rádio.
a cidade dorme ouvindo a cidade.
eu durmo ouvindo minha respiração.
contando até vinte e um.
e depois voltando.
contando até vinte e um.
e depois voltando.

às vezes parece que a gente não é só
de carne e osso.

e é verdade.

Rui de Paquetá

Rui era um senhor de 56 anos, barriga de chope, leve barba. Morava em Paquetá. Uma casa modesta, quadro de Jesus, tv 29 polegadas. Coisas compradas no Ponto Frio do centro. Gostava de fumar cigarro, sentado na sua poltrona. Tinha um canário, Sinatra. Usava sandálias de couro. Gostava de pescar com os amigos Gomes e Ademar. Era viúvo.

Um dia, fumando e olhando a janela, viu dona Lorena, a nova vizinha. Ela estava regando as mudas de violeta. Os dois se olharam. Lorena fechou a cortina.

Assistindo Faustão, Rui foi pegar uma cerveja na geladeira, escorregou e caiu. Com o traseiro doendo, observou um objeto brilhante envolto de poeira embaixo da geladeira.
depois de semanas tentando retomar a lucidez dentro dos sonhos,
ou já entrar lúcido neles

consegui acordar já sonhando e estabelecer mais nitidez.

depois de algumas imagens borradas e entrada no vazio.

deparo-me com um senhor, meio sorridente.

ele diz - aprende a viver.