sábado, 26 de setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ontem descobrirei a minha mão voando aqui no longe.
amanhã o seu antigo sorriso me contou um segredo.
é preciso ter medo para conquistar a poesia

domingo, 20 de setembro de 2009

A Melhor Poesia que eu Já Li

pode ser uma gota de chuva que cai no metal do ar-condicionado e faz um barulho
pode ser o barulho das teclas do teclado do computador enquanto eu digito esse poema

essas pequenas coisas são pra mim as mais valiosas
porque elas são a minha existência

a minha namorada dormindo na sala
no sofá da sala
e o mundo podendo terminar nesse instante

estou feliz
feliz como alguém que sonhou e lembrou
que o sonho era gostoso

estou feliz como quem ainda não acordou de um sonho

estou feliz como daquela vez que olhei pro mar numa praia que não me lembro
e pensei comigo
estou feliz

e se o tempo é mesmo relativo
eu posso engrandecer esse momento
torná-lo um quadro
um poema

e toda vez que eu o ler
vou sentir a mesma sensação

pra mim, vai ser uma ótima poesia
foda-se a linguagem, as normas ou transgressões delas

pra mim,
essa é a melhor poesia que eu já li

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

você já esqueceu as havaianas na praia?
esses chinelos na infância são quase como
canetas bic

para onde vão as canetas bic perdidas?
você já achou uma?

você já estava pegando um jacaré em búzios, leblon
e, no meio da onda, avistou uma havaiana, ou melhor, duas, juntas,
pegando a mesma onda, como que calçando os pés de um surfista fantasma?

já disseram que as canetas bic são o símbolo maior do socialismo.

mas eu não quero falar de canetas bic.
quero falar do serumano. o serumano é um negócio que me intriga.
computadores vão compor sinfonias e pintar quadros.
mas o seruamano resiste, mesmo perdido.

um amigo do c.a tinha um estojo manerão. era retangular, de madeira, com uma tampa que encaixava. tava na moda esse tipo de estojo. eu era fissurado naquele estojo.
troquei com o cara. nem lembro o que aconteceu com o estojo.

eu tinha um videogame nintendo com várias fitas. jogava direto.
mas ai fiz 13 anos e quis tocar roquenrol na guitarra.
vendi tudo. até gameboy. e comprei uma Stage tipo strato do Jimi Hendrix.

nem lembro o que aconteceu com a Stage.

as coisas perdidas, mesmo perdidas, resistem.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Carta para o Fim de um Namoro

o que mais me irritou não foi a tua cara
foi o disco do bituca que você pegou
sem ter me pedido

eu perdôo tudo, as palhaçadas
aquela vez que você ficou bêbada
mas o disco do bituca...

o que que deu errado com a gente?
eu sei, fui eu e foi você
mas parecia durante um bom tempo
que era certo

agora as coisas ficaram um pouco mais difíceis por aqui
não podemos nos falar como antes

é diferente

eu sei que você queria, mas, só escrevo essa mensagem agora
porque só agora pude escrevê-la

quero que lembre dos momentos bons
as coisas que ficaram realmente
no teu coração
e no meu

ass: F. P. Tostes

psicografia do médium Almeidinha


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isso foi uma proposta de texto do somesentido.blogspot.com

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Meus olhos estão voltados para o tempo
e movimentam-se como não houvesse tempo

meus olhos estão voltados para o mundo
e movimentam-se como fossem meus

meus olhos estão voltados para o retorno
o eterno retorno que volta nos meus olhos

meus olhos estão voltados para os meus olhos
e vejo o tempo desvencilhar-se dos sentidos

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Emails para Natasha - Parte V

dia 23. escrevi no meu caderno, ontem, coisas que gostaria que você lesse. não é que eu esteja com saudade da vida na cidade. acho que eu sempre tenho saudade de onde não estou. mas quando estou também sinto. então não dá pra fugir. escrevi no caderno em cima da Pedra Riscada, em Lumiar. é uma visão lá de cima. parece aquele quadro alemão, do romantismo alemão, não lembro bem quem era, do cara em cima de uma montanha, de costas, olhando o horizonte montanhoso, cheio de neblina. percebi uma coisa. o mais difícil não é subir, e também não é descer, mas estar sozinho. tanto que às vezes me imagino cercado. parece loucura, mas sinto como se estivesse na companhia de muita gente, no meio do mato fechado, com o grito estridente da araponga e o barulho das folhas. escrevo no caderno também não sei porque. parece as fitas brancas que algum grupo colocou em alguns galhos, durante a trilha, para indicar o caminho: eram brancas, quase não dava pra ver. mas estavam lá. escrevo como quem faz uma trilha e deixa rastros.
dia 24. se eu dissesse que nada de interessante aconteceu, só isso já seria alguma coisa. pois então digo que uma coisa me chamou a atenção. hoje vi um cão de cadeira de rodas. sim, um cão. era uma cadeirinha pequena, com duas rodinhas de bicicleta. parece que ele está com as patinhas traseiras quebradas. anda arrastando as duas da frente e a rodinha roda. um cão de cadeira de rodas.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Emails para Natasha - Parte IV

o trem para Tiradentes é uma coisa de outro mundo. primeiro porque é antigo pra cacete, é uma maria fumaça, bem estreitinha, barulhenta, vermelha, cruzando São João e as fazendas até Tiradentes. e segundo porque a gente vai passando por pessoas, aquelas que me lembram a viagem da escola, as crianças dão tchau, passando rápido junto com a paisagem. a vida acontecendo e passando pela janela, o vento saboroso na cara, a fumaça do trem. tinha um menino, e desde o momento que o vi percebi que era muito parecido comigo criança. ele chupava um pirulito daqueles de vendedor na madeirinha tlec-tlec, tinha cabelos noturnos como os meus, e olhava o horizonte, como sempre fiz. tirei uma foto dele.
comi frango ao molho pardo numa panela de barro bem grande. sentei no banco da praça. olhei e vi as crianças, como pombos em volta do pipoqueiro, em volta do vendedor de bolhas de sabão. as bolhas refletiam a luz do sol da peneira das grandes árvores expressionistas enraizadas na praça. foi então que uma delas foi voando na minha direção. uma criança veio seguindo e ela, vagarosamente, parou no ar, entre nós dois. esplodiu. eu e o menino levamos um pequeno susto, e percebemos a nossa proximidade. era o menino do trem. engraçado, senti novamente o que tinha sentido naquela pousada fedorenta, olhando no espelho do banheiro. senti que eu não reconhecia mais aquele rosto. mas mesmo assim ainda era eu.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Emails para Natasha - Parte III

dia 14. a gente nunca sabe o que nos espera, não é mesmo! tanta coisa aconteceu nesses dois dias e tanta coisa não aconteceu do que havia planejado, que só pude escrever algo agora, neste exato momento, aqui numa pequena lan house de São João del Rey. Meu ônibus quebrou perto de Juiz de Fora, ainda bem que foi perto de uma parada, um restaurante, e demorou tanto pra arranjar tudo que peguei minhas coisas, eu não tinha nenhuma mala pesada, e saí do ônibus, e conversei com umas meninas que estavam almoçando. bonitas elas, a morena se chama Paola, é descendente de italianos (tem uns peitões daqueles de filme de Fellini, boca carnuda, coxas grossas) a loira (falsa loira) é a Deyse, usa um óculos de professora do primário, um pouco mais feia que a Paola, mais ainda sim bonita. As duas são do Espírito Santo e estão indo conhecer as cidades históricas. Depois de algumas conversas, alguns guaranás, elas me aceitaram na carona. No caminho, inventei uma história de que eu era artista (eu disse que era famoso ai no Rio), falei das poesias, e tal, fiz o jogo e elas fizeram os delas. As coisas foram acontecendo rápido e eu me lembro pouco do que aconteceu no quarto do hotel aqui em São João. Ah, bom, esqueci de mencionar a pinga daqui de Minas mesmo que compramos, boa! E então só lembro de flashes, pedaços de braços, pernas, bocas, vertigens, os gritinhos delas, o cheiro de pinga e de gozo que sujou a cama toda. Acordei com a cabeça explodindo, e como se o corpo tivesse separado da cabeça, lembrando daquela piada que o Diego contava "Deus deu ao homem 2 cabeças mas sangue o suficiente pra só 1 funcionar por vez". O cheiro do quarto era uma mistura indefinível de suor, mofo, e pinga. Para a minha surpresa, as duas não estavam lá. Tinha um bilhete na cabeceira: "fomos pra Tiradentes". Me levantei sem pressa e liguei a TV, estava passando um programa hilário sobre rock, era um mineiro, bem mineiro falando a história do rock e os diferentes movimentos do gênero. enquanto isso fui no banheiro e levei um susto quando me olhei no espelho. não reconheci o meu rosto. fazia tempo que eu não me olhava no espelho. mas o rosto que eu vi não era de um cara triste. aliás, era o rosto de um cara diferente, ou seja, tudo o que precisava, a pessoa que eu precisava pra me ajudar a mudar a minha vida estava ali, na minha frente, num espelho do banheiro de um hotel em São João del Rey. a gente não sabe mesmo o que o amanhã vai trazer. vou ter que sair daqui, meu tempo de internet acabou, e hoje vamos andar pra conhecer a cidade. ah, sim, pode deixar que eu não me esqueci do César.

Emails para Natasha - Parte II

dia 12. estou indo embora daqui. aquela sua resposta trouxe uma nova vontade de rever Minas Gerais. eu sei que parece estúpido, mas é a única maneira. estou devendo até o pão na padaria da esquina aqui da rua. você sabe que eu sempre fui assim com o dinheiro. tem gente que liga pra marcas, roupas, jóias, carros, e você sabe que eu to pouco me fudendo pra isso. gasto mesmo é com comida e livros. gasto sem pensar. acabo gastando mais do que tenho. gostei do que você disse, eu também demorei para entender que desde quando nos conhecemos na época da escola, não conseguimos dizer o que realmente sentíamos. ainda guardo algumas fotos daqueles tempos, e toda vez que as vejo vem um cheiro de acne, suor, que deveria ser nojento, mas pelo contrário, me faz bem como cheiro de terra molhada.
há essa hora, você provavelmente deve estar dormindo, e quando acordar eu já vou estar no caminho para Minas, com vento na cara, escutando Clube da Esquina no mp3, dormindo, acordando, babando, olhando as vacas, as fachadas com grafia errada, os esfarrapados em pequenas bicicletas, os vendedores de mel, e tudo aquilo que a gente viu naquela viagem da escola. Foi bom saber que você está bem, que está tudo certo ai com o Roberto. Eu to aprendendo a gostar desse cara, de início eu o odiava. Mande notícias sempre, ein? Se esse babaca fizer alguma coisa...
Como prometi, comprei um caderninho para escrever durante a viagem. Ah, pode deixar que eu vou procurar esse tal de César. É só dizer que sou seu amigo, não é?
To com um frio na barriga, mas não é de medo, cagaço, apesar de parecer. Às vezes eu sinto isso antes de entrar no palco. É como se a barriga estivesse comendo ela mesma, se corroendo. Não consigo dormir. Só de pensar nas coisas por vir, nas paisagens da janela, na concretização dos nossos ingênuos sonhos de criança, dá uma vontade de escrever e aqui estou, com saudade de tudo, da gente, da escola, e até do que acabo de escrever, sinto tanta saudade da vida e dos segundos que passam que até sinto saudade dessa frase, não consigo terminá-la, preciso escrever, preciso, a vida é muito bonita para a gente dormir, amanhã espero a sua resposta e as coisas que ainda vão acontecer.

Emails para Natasha - Parte I

era a primeira vez que eu estava dizendo a minha história, a verdadeira, e não aquela que eu te disse antes da morte da tua avó. você estava desamparada, eu não podia contar tudo aquilo. tudo isso. o lance é que nesses três meses muita coisa aconteceu, diferente, muito diferente do que eu mesmo imaginei que aconteceria. os meus emails esparsos demonstram a instabilidade cambaleante em que tentava sobreviver. a verdade é que os papéis do meu suposto livro se acumulavam, espalhados pelo apartamento inteiro, o vizinho até reclamou quando escorregou num deles, que saía da fresta da porta da frente. eram tantos e em lugares tão inusitados que só a tarefa de juntá-los seria maior do que a realizada na própria escrita. peço desculpa pela demora, mas só hoje encontrei a parte que realmente queria te mostrar. não saberia explicar exatamente como aconteceu. já tinha ouvido ou lido experiências de quase-morte, nas quais as pessoas se deslocavam de seus corpos, viviam uma realidade paralela ao corpo, tinham visões de familiares já mortos. posso te dizer que foi algo parecido. coloquei o cd do Lô, aquele do tênis, e numa velocidade impensável escrevi umas 37 páginas. eram imagens da infância, misturadas com brigas familiares, sonhos, pesadelos, acontecimentos banais, e que na verdade, coisas que nem sabia explicar o que eram. foi então que percebi que não era eu quem escrevia, ou era, pois me vi fora do corpo olhando-me a escrever no computador. você pode imaginar a sensação maluca, começei a suar frio, e rezei, como nunca antes tinha rezado na vida. chamei Cristo, Buda.
e, então, nesse ato que te falei, chamei por você. é sério. eu também só fui entender isso na tarde de hoje, quando acordei. eu cansei. cansei do que eu era, do que a gente não era ainda. eu, fora do corpo, percebi que te amava. você pode imaginar também o quanto isso é confuso pra mim. mas é a mais pura verdade.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Não me recordo

Não me recordo a primeira vez que pisei na areia.
O que ficou, relatos de minha mãe.
Parece que estranhei.
Algumas imagens perduram, outras não, como se ainda não existissem, mas já passaram.
Filmes que no final você jura que já viu antes. E viu.
Frases escondidas em pequenos movimentos do cotidiano.
Silêncios e sombras que já estavam lá antes.
Demora-se um tempo para perceber quem somos.
Ainda mais tempo perceber o que somos.
E estamos sempre, ainda, buscando um sentido.

Não me recordo a primeira vez que escrevi poesia.
Provavelmente, foi por uma menina.
Ou, por mim mesmo.
As correrias da infância são mais donas de mim que eu as sou.
A cada instante meu corpo indaga esse formato atual. Cresci muito.
Mas serei o mesmo?

Quando eu tinha consulta na pediatra, sempre escutava um pouco temeroso quando diziam que eu teria um metro e noventa. Estiquei. Tenho quase isso. Um e oitenta e seis.
Parece que isso teve algum efeito na minha alma também, no meu jeito de enxergar o mundo.
O mais óbvio é a minha miopia. Vejo tudo embaçado.
O mais óbvio é a poesia.
Vejo tudo embaçado.