o trem para Tiradentes é uma coisa de outro mundo. primeiro porque é antigo pra cacete, é uma maria fumaça, bem estreitinha, barulhenta, vermelha, cruzando São João e as fazendas até Tiradentes. e segundo porque a gente vai passando por pessoas, aquelas que me lembram a viagem da escola, as crianças dão tchau, passando rápido junto com a paisagem. a vida acontecendo e passando pela janela, o vento saboroso na cara, a fumaça do trem. tinha um menino, e desde o momento que o vi percebi que era muito parecido comigo criança. ele chupava um pirulito daqueles de vendedor na madeirinha tlec-tlec, tinha cabelos noturnos como os meus, e olhava o horizonte, como sempre fiz. tirei uma foto dele.
comi frango ao molho pardo numa panela de barro bem grande. sentei no banco da praça. olhei e vi as crianças, como pombos em volta do pipoqueiro, em volta do vendedor de bolhas de sabão. as bolhas refletiam a luz do sol da peneira das grandes árvores expressionistas enraizadas na praça. foi então que uma delas foi voando na minha direção. uma criança veio seguindo e ela, vagarosamente, parou no ar, entre nós dois. esplodiu. eu e o menino levamos um pequeno susto, e percebemos a nossa proximidade. era o menino do trem. engraçado, senti novamente o que tinha sentido naquela pousada fedorenta, olhando no espelho do banheiro. senti que eu não reconhecia mais aquele rosto. mas mesmo assim ainda era eu.
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