segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Emails para Natasha - Parte V

dia 23. escrevi no meu caderno, ontem, coisas que gostaria que você lesse. não é que eu esteja com saudade da vida na cidade. acho que eu sempre tenho saudade de onde não estou. mas quando estou também sinto. então não dá pra fugir. escrevi no caderno em cima da Pedra Riscada, em Lumiar. é uma visão lá de cima. parece aquele quadro alemão, do romantismo alemão, não lembro bem quem era, do cara em cima de uma montanha, de costas, olhando o horizonte montanhoso, cheio de neblina. percebi uma coisa. o mais difícil não é subir, e também não é descer, mas estar sozinho. tanto que às vezes me imagino cercado. parece loucura, mas sinto como se estivesse na companhia de muita gente, no meio do mato fechado, com o grito estridente da araponga e o barulho das folhas. escrevo no caderno também não sei porque. parece as fitas brancas que algum grupo colocou em alguns galhos, durante a trilha, para indicar o caminho: eram brancas, quase não dava pra ver. mas estavam lá. escrevo como quem faz uma trilha e deixa rastros.
dia 24. se eu dissesse que nada de interessante aconteceu, só isso já seria alguma coisa. pois então digo que uma coisa me chamou a atenção. hoje vi um cão de cadeira de rodas. sim, um cão. era uma cadeirinha pequena, com duas rodinhas de bicicleta. parece que ele está com as patinhas traseiras quebradas. anda arrastando as duas da frente e a rodinha roda. um cão de cadeira de rodas.

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