segunda-feira, 29 de setembro de 2008

CD de Choro

Entrem nesse link e baixem um belíssimo cd de choro,

com a primeira música arrebentando geral:

"pedacinhos do céu" com "o cara" no cavaco.

http://musicaecerveja.blogspot.com/

domingo, 28 de setembro de 2008

Cavaquinho


Meu amigo Ribamar acabou de emprestar-me um cavaquinho!

Agora sim, juro, irei estudar chorinho, samba, a escola brasileira de música popular.

A grande escola dos músicos desse país. Irei estudar, já estou estudando.

Em breve, postarei aqui no blog, o link no youtube onde tocarei "pedacinhos do céu" de Waldyr Azevedo.

Chora, chora, cavaquinho
chora, chora, cavaquinho...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Moviemento

como cinema vivo eu te enrolo de filme
e movie mente o corpo fílmico em movie mento
o pensamento foge corre contra o tempo
como num filme de ação do século mal-passado

como o cinema com os dentes do pensamento
o seu dilema de ser ético ou ser-imônia
o espetáculo de sonhar bem acordado
o corpo atado nas cadeiras da insônia

cin - é - isso - nemas - tê - ria - baixo

moviemento

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Chama



essa chama
essa pequena chama
queimando na vela
não é metáfora
não é bela
essa chama
não chama
não tem nome
é antes
o ato de olhar
a chama
que, de fato,
é chama

sem nomear
sem buscar entender
pois as palavras são como vento
vão como vento
vãs quando tentam
apagar a chama
envolvê-la com palavras

sem pensar
você apenas é
a chama

chamamahc
chamamahcha
chamamahcham
chamamahchama

até que

ama

sábado, 20 de setembro de 2008

Pasmoderno

fico pasmo com a velocidade das coisas
ando lento ando lendo pouca coisa
as palavras vãs de vento e polpa
fruta pouca frui da casca da cidade

caminhando pelas ruas da minha casa
vou perdido vôo por cima das idéias
indo baixo do bairro todo toda praça
é do mundo todo muito grande pouca fala

tanta máquina passeando livremente
livre mente em livros falsos indecentes
web desse ai web desse ai desenha o eterno

o éter tenro preso ao terno executivo
tívole parque porque na vida eu pasmoderno

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Desculpas em grande estilo

Desculpem, meus milhares de leitores pelo Brasil e ao redor do mundo.
Estou há 4 dias sem escrever aqui, por motivos de trabalho, gripe, cansaço, tá bom,
preguiça também.

Volto então em grande estilo:


a desculpa morreu de culpa
quando andava adulta em cima da corda
bamba, subiu nos sonhos, caiu da
culpa a cor da corda fugiu e virou céu
é a culpa do sonho do homem que subiu o céu

a frase perdida, nesse grito de caída,
ao som do mar e a luz do céu de chumbo,
como a cor da corda a cor da corda, acordaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!

bum, caiu eu sei, eu vi no chão a marca com fita crepe

o rap descontruí-se no í-se do disse me disc

foi se embora pra bem longe de Minas Jornais

estampado nos pés daquele malabarista
a história de cem anos de sol e dão
até hoje cordas de várias cores para se enforcar depois
de se desequilibrar e cair no não

o som agora foi seco como vertigem caindo em pétala de pão
como papelzinho jogado da janela quando tem passeata no centro
quando a faca corta o bife e o coentro
quando o silêncio corta o salão quando ela passa, a desculpa

de olhar a calcinha dela que passa distráida a culpa
sonhando acordada com o dia que será deflorada
depois do baile de formatura
a ditadura da desculpa, sozinha no altar, na imagem que a mãe lhe dizia

cuidado minha filha com a fila que te esfria a Frida

calo! disse a culpa pensativa, o sonho adormeceu na barriga
quase como quando o pão dormingo xinga a padaria

se pelo menos o mais dessa paixão platônica
se concretiza-se nas paredes de São Paulo, concretista, quase de aço
Oh! desculpa que pulsa nas veias da cidade, da cidadania que faço, daci ribeiro, daci
se fosse apenas um pulo um
salto
pra
baixo

caía pra linha do horizonte em falso

a culpa de tanto corpo caindo
tocando no chão se des-culpam

crupiê do cassino cacique das tribos das palavras

how much is your dream?

"eu valho a pena quando a calma é serena"

desse a culpa

domingo, 14 de setembro de 2008

Noite de Chuva

hoje a chuva
há chuva pelas janelas da cidade
há idade
pela chuva da paisagem
cai e age
como chuva na janela
até que é bela
hoje a chuva se encerra
enferruja a casa dela
garagem da minha solidão
hoje a janela deixou uma brecha
uma gota dessa chuva
dilúvio, dilúvia,
de noite essa chuva espurga
a noite, da sua própria fluidez
foi às dez, da noite
que o céu se abriu brilhante
sem chuva, e as nuvens dessa lua
sussuram a fuga dessa chuva que passou
na noite quase nua
me lembro da sua
cara redonda feito a chuva
chorando de amor

sábado, 13 de setembro de 2008

Aliás

Aliás, uma interna me abordou e disse:

você é da Seleção , né? gosta de jogar bola

(eu tava com uma camisa tipo a de futebol, com numero atras, amarela)

- ah, gosto sim

você parece aquele jogador, aquele que joga bola na seleção

- ah, é? quem

é aquele, o Kaká!

- caramba! ah , é? então eu ganhei o dia hoje, caramba, tô bem!

Tupi, o papo, o Pinel, o campo.

Ontem, por acaso (não existe acaso), estava no refeitório da reitoria da Unirio, indo almoçar, e encontrei meu amigo (amigo?) Tupi, amigo do meu primo.

Diferentemente daquelas conversas de oi tudo bem beleza depois a gente se fala tchau, começamos a conversar sobre os assuntos mais variados e metafísicos. Como se algo precisasse ser dito entre nós. Como se tivessemos marcado de bater um papo.

Nunca chegamos a nos conhecer direito.

Apenas nos encontramos algumas vezes, ele já tocou violão na casa da minha vó, e fizemos uma filmagem, há bastante tempo atrás, onde eu era um terrorista japonês.

Lembro que ao pular no tronco de uma árvore, joguei farpas no olho do Tupi, que estava deitado no chão.

Conversamos no campus da UFRJ. Ele está fazendo psicologia. Andando e conversamos, fomos parar numa área do Instituto Pinel, que trata de "doentes mentais". Nunca tinha entrado lá. Nesse lugar específico era como uma vila.

O bonito é que tinha jardins, árvores, e plaquinhas pintadas pelos internos com escritos e desenhos:

"o EU é essa árvore"

"precisamos é de injeção de alegria"

depois entramos no tal "campinho" do pessoal da ufrj.

É um lugar bem grande, com vários campinhos de futebol, com árvore, grama, estava rolando um pagode com os funcionários, era sexta, futebol, cerveja, pagode, crianças, enfim, Rio de Janeiro.

Às vezes, por caminhos mais inesperados, oportunidades aparecem de se comunicar, contactar pessoas e lugares que, por alguma razão, precisavam desse contato.

Um stop.

Pensar um pouco o que está acontecendo.

Desacelerar a vida que já não é sua, para voltar a engrenar em direção aonde se realmente deseja chegar.

"o Eu é essa árvore"

Às vezes penso que minha missão é jogar farpa nos olhos dos outros para eu mesmo enxergar melhor.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Coração Digital

Meu coração bitrate por você
no compasso binário de zero-e-um
dar-te-ei um free download
frio de longe deleta-se
chat-o mesmo é não poder te tocar

Meu coração só reconhece seu pendrive
conexão acelerada na internet
na web cão eu me babo na tua cam
se tu me bit eu vou te byte
uploadeio no youtube o telecat

Meu coração escreveu no blog um poeminha
falando o quanto pode compactar o nosso amor
em mil formatos, tanto mac ou pc
meu coração tá com um tilt por você

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Aprendiz

penso no silêncio que deixaste para contemplar
tenso no momento que deixaste de contemplar
penso na contemplação do teu pensar-silêncio
tento imaginar-te lutando palavras, gozando o tempo

fígado ferido que enferruja o signo
ligado feito feto tirando o sono do choro
tento imaginar-te finjindo o humor maligno
finjo tua memória do tumor do destino

sinto como quem bebe da mesma cerveja de mal-te
tinto, tonto, titubeio as sílabas do perdigoto vadio
mijo, cago, o gozo da linguagem no próprio exprimí-lo
paulo, leminski, te aprendo textualmente vivo

O RESTO IMORTAL



Paulo Leminski, 1944-1989

Queria não morrer de todo. Não o meu melhor. Que o melhor de mim ficasse, já que sobre o além sou todo dúvidas. Queria deixar aqui neste planeta não apenas um testemunho de mi­nha passagem, pirâmide, obelisco, verbetes numa obscura enciclo­pédia, campos onde não cresce mais capim.

Queria deixar meu processo de pensamento, minha máquina de pensar, a máquina que processa meu pensamento, meu pensar transformado em máquinas objetivas, fora de mim, sobrevivendo a mim.Durante muito tempo, cultivei esse sonho desesperado.Um dia, intuí. Essa máquina era possível.

Tinha que ser um livro.Tinha que ser um texto. Um texto que não fosse apenas, como os demais, um texto pensado. Eu precisava de um texto pensante. Um texto que tivesse memória, produzisse imagens, raciocinasse.

Sobretudo, um texto que sentisse como eu.

Ao partir eu deixaria esse texto como um astronauta solitário deixa um relógio na superfície de um planeta deserto.

Claro, eu poderia ter escolhido um ser humano para ser essa má­quina que pensasse como eu penso. Bastava conseguir um aluno. Mas pessoas não são previsíveis. Um texto é.

A impressão do meu processo de pensamento não poderia estar na escolha das palavras nem no rol dos eventos narrados. Teria que estar inscrito no próprio movimento do texto, nos fluxos da sua dinâmica, traduzindo para o jogo de suas manhãs e marés.

Um texto assim não poderia ser fabricado nem forjado. Só podia ser desejado.

Ele mesmo escolheria, se quisesse, a hora de seu advento.

Tudo o que eu poderia fazer nessa direção era estar atento a todos os impulsos, mesmo os mais cegos, nunca sabendo se o texto está vindo ou não.

Era óbvio, um texto assim teria, no mínimo, que levar uma vida humana inteira.

Na melhor das hipóteses.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Bonsai:niponização e miniaturização da poesia brasileira

Paulo Leminski

Felizmente, não se realizou a profecia de Rudiard Kipling: "o Ocidente é o Ocidente, o Oriente é o Oriente, jamais se encontrarão".
Por desencontrários caminhos e variadas encontrovérsias, Oriente e Ocidente, cada vez mais, trocam sinais, apressando a unidade cultural da espécie humana, agora, em velocidade cibernética.
Todos os homens são, enfim, herdeiros da produção cultural de todos os homens, de todos os povos, de todas as épocas.
Os indus são meio ingleses. A China adota Marx, e o chineseia. Os beatniks e os hippies da Califórnia e do mundo descobrem o continente-zen.
A Ásia incorpora a tecnologia e a ciência européia. Mas o Ocidente é inundado pela yoga, pelas artes marciais, pela macrobiótica, por técnicas de massagem, pela acupuntura, pelo I Ching, pela ginástica "tai-chi", por mantras, tantras, nirvanas, "gurús" e "hare-krishnas".
No plano horizontal, a influência do Ocidente, infinito da técnica, de horizonte a horizonte, como esta frase que escrevo, na horizontal, da esquerda para a direita.
O Oriente, o vertical, o mergulho nos abismos dos signos ancestrais, os mantras, o inconsciente coletivo, a "alma", o universo esquecido, lá em baixo (na escrita chinesa e japonesa, as frases são escritas de cima para baixo).
O Japão é o olho-de-ciclone do entrecruzamento Oriente/Ocidente, horizontal/vertical.
Estranho de tudo é que as mais recentes conquistas da arte ocidental coincidem com características da arte japonesa mais tradicional:

- "montagem atrativa" (Eisenstein): ideograma, nô, kabúki;
- "distanciamento épico" (Brecht): Nô, kabúki;
- "port-manteau-worlds", montagens verbais lewis-carrol-joycianas: "kakekotoba", as "palavras penduradas", da literatura japonesa (Nô, waka, tanka, senryu, hai-kai);
- música "minimal" (Glass): música japonesa tradicional;
miniaturização e síntese poética (e. e. cummings, Pound, Wiliam Carlos Wiliams, Oswald, poesia concreta) hai-kai, waka, tanka.
- linguagem analógica, ideogrâmica, não discursiva (Mc Luhan, poesia concreta).
No Brasil, a primeira influência direta da poesia japonesa parece ter sido sobre os Modernistas de 22, através de traduções francesas.
Guilherme de Almeida, nos anos 20. fez os primeiros "hai-kais", adotando as três linhas (versos com cinco, sete e cinco silabas), mas introduzindo um artificioso e maneirista sistema de rimas, que não existem em japonês (o super-ego parnasiano do soneto era muito forte.
Oswald de Andrade, amigo e parceiro de Guilherme, deve ter tirado do hai-kai a idéia para seus "poemas-minuto", milionários segundos de ultra-informação.
O ideal de brevidade advindo do hai-kai não morreu com 22. Encontramo-lo no Drummond, em cujo caminho havia uma certa pedra.
Ou no Drummond, que se perguntava: "Stop. A vida parou. Ou foi o automóvel?
O imagismo do hai-kai ainda compareceria na poesia altamente icônica de Murilo Mendes. Ou na do isolado Mário Quintana.
A soneteira e soporífera Geração de 45 demonstrou todo o seu baixo repertório, ignorando-o.
Nos anos 50, a palavra "hai-kai" é incorporada ao vocabulário brasileiro, através do humorista Millôr Fernandes, que popularizou a palavra entre nós. Millôr é autor de inúmeros hai-kais notáveis.
Nessa mesma década, em S. Paulo, a poesia concreta proclamou a excelência do "pensamento ideogrâmico", como método de composição poética. E começou a praticar uma poesia breve, sintética, anti-discursiva, verdadeiros hai-kais industríais.
Nos anos 70, por fim, a garotada da "poesia marginal" ou "alternativa", crescida com manchetes de jornal, frases de "out-door" e grafittis nas paredes das cidades que inchavam, começou a fazer hai-kais, até sem querer. Waly, Chico Alvim, Chacal, Régis, Ana Cristina César, Alice Ruiz, todos o fizeram. Fazem. E farão.
Hai-kai é o nosso tempo, baby. Um tempo compacto, um tempo "clip", um tempo "bip", um tempo "chips".
Essas brevidades lembram aquelas árvores japonesas, as árvores "bonsai", carvalhos criados dentro de vasos minúsculos, signos de seres vivos, produtos da arte e da paciência.
"Hai-kai" é "bonsai" da linguagem.
Explique quem puder. Os japoneses já estavam lá.

in Revista Ímã, Espírito Santo, Brasil, nºIII, p. 37/38.

http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/kamiquase/ensaioPL5.htm

Algumas idéias de Stanislavksi

Através de debates em sala muito interessantes, e leituras de trechos dos livros de Stanislavski, começamos a estudar a direção de atores, suas especificidades e importância num trabalho audiovisual, seja ele ficcional ou documental.
Apreciei a abordagem que mesclava conceitos das artes e da fotografia. Ajudou na melhor compreensão dos modos de representação, pois associamos com noções já estudadas: Barroco, Clássico e Moderno.
Stanislavski e seu “sistema”, podem ser considerados os grandes expoentes do teatro realista, clássico, bem como a escola de atuação em cinema derivada desse sistema: o Actor’s Studio nos EUA.
O “sistema” de Stanislavski, importante frisar, não era nem é para ser interpretado como A verdade, O método, rígido, inflexível. O russo sempre fez questão de afirmar o caráter de ferramenta maleável de seu sistema, que deveria ser adaptado para as necessidades de cada ator. Um guia seguro, sujeito à transfomações, para o auto-conhecimento das possibilidades do ator. Um processo que deve fornecer bases para o estudo da interpretação.
Debatemos em sala alguns conceitos chave:
- Para uma caracterização física
- Vestir a personagem
- Personagens e tipos
- Tornar expressivo o corpo
- Unidades e objetivos
- Superobjetivo

Para uma caracterização física

Quais as ferramentas de trabalho do ator?
Seu corpo, sua voz, suas expressões, seu jeito de andar, de falar...enfim, toda sua fisicalidade.
Como potencializá-las?
O ator deve conhecer seu corpo, ter o domínio de suas possibilidades e buscar expandí-las sempre.
Stanislavski nos chama a atenção para a importância do trabalho físico do ator, a caracterização física do personagem. Cada ator deve desenvolver uma caracterização exterior utilizando, seja sua vivência real, ou a imaginação, conforme a sua intuição, e observando a si mesmo e os outros.

Vestir a personagem

Contando-nos sobre uma “mascarada”, onde todos os atores de sua companhia se caracterizavam com figurino e maquiagem, Stanislavski demonstra como conseguiu encontrar em modo eficaz de entender o personagem e dar corpo e voz a ele: “Dividi-me, por assim dizer, em duas personalidades, uma permanecia ator, outra era um observador.”
Interessante essa via de mão dupla para se entender um personagem. O estudo parte de um processo interior, do entendimento do texto, e ao mesmo tempo, ao vestir o personagem, fisicamente, a criatividade e a intuição trabalhadas corroboram para uma melhor caracterização. O exterior moldando o interior.

Personagens e tipos

Podemos observar nas novelas de TV algo que Stanislavski já analisava. Com reduzido tempo de preparação, e muitas cenas para gravar, os atores geralmente se utilizam dos recursos próprios mais fáceis, muitas vezes alterando o persongem para se adptar ao “encanto pessoal”.
Para entender os tipos de personagem, é útil pensar em graduações, níveis de representação, para achar os que melhor se adequem ao personagem, evitando exageros, ou inverossimilhanças. Um trabalho realmente de desconstrução do corpo e voz do ator, para que ele domine e molde o personagem, buscando dimunuir a influência de suas características pessoais (do ator).

Tornar expressivo o corpo

Stanislavksi valorizava bastante o trabalho de corpo do ator, seja com a dança, exercícios, percebendo a necessidade básica da atuação: tornar expressivo o corpo.

Unidade, Objetivos e Superobjetivo

A obra (teatro/cinema/tv) pode ser dividida em diversas unidades, para o melhor compreendimento do ator.
O personagem tem um objetivo principal. Algo o move, o faz agir (mesmo em filmes do Antonioni – mas estamos falando de atuação clássica e filmes clássicos, inicialmente) consciente e inconscientemente. Tem um Superobjetivo que o guia em todo o filme. Mas, até alcançá-lo, ou não, ele passa por vários objetivos menores.

“O objetivo é que lhe dá confiança (ao ator) em seu direito de entrar em cena e lá permanecer.”
Como exemplo, falamos em sala sobre um personagem que tem como objetivo sair da UFF e ir para casa. Podemos dividir, ou seja, decupar (num raciocínio realmente análogo à montagem) as ações: o personagem levanta da cadeira, abre a porta, sai do portão da UFF, anda na rua. Sem se desligar de seu objetivo maior: chegar em casa.
Chegamos a brincar que se ele estivesse, ao invés de indo para casa, indo para a aula de manhã na UFF, sua atuação seria completamente diferente, pois seu objetivo era outro.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Cidadão do Mundo

O mundo de primeira vista parece que é grande.

Talvez seja. Mas, tudo de perto fica mais parecido. O mundo cabe na palma da visão.
"Estrangeiro eu não vou ser"

Amigos viajam para terras outras. Londres, Barcelona, Santiago e até Letônia.
Como será a Letônia?
O fascínio adolescente de viajar o mundo tem sua razão. Precisa-se conhecer outras culturas. Outros lugares, outras pessoas. Para se conhecer melhor como único e universal.

Meu amigo André está em Londres. Vivendo o english dream, o english way of life.

"Pertenço a um gênero de portugueses
Que depois da Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes."
Pessoa

Pertenço a um gênero de brasileiros
que depois do mercado descoberto
ficaram atordoados. A morte não existe.
Tenho pensado nisso um pouco.

Pertenço a um gênero de brasileiros
que nasceram na Holanda em 1988 e
depois de chegarem ao Brasil não são
mais de uma pátria só.

Pertenço a um gênero de brasileiros
que depois que o Brasil foi descoberto
ficaram sem emprego, a morte é incerta
Tenho pensado nisso, de vez em quando.

Pertenço a um gênero de Holandeses
que depois que descobriram o Brasil
ficaram por lá, a vida é certa
Nunca pensei nisso antes.

Aprender novas linguagens, conhecer novas pessoas, estar-no-mundo-como-dizia-drummond,

ser cidadão do mundo
antes que o mundo seja descoberto

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Poesia vinda de Crosby, Still, Nash e Young

andando pelas estradas do caminho errado
uma manhã a gente acorda e já sabe,
que uma nova estrada está no nosso pé
um novo horizonte vem cavalgando em nossas pálpebras

o Sol chama para o desafio de te ver de novo
o Sonho de chama esquenta na nuca, a sua vida em jogo,
nada a perder a não ser o medo,
cantando o blues pelas estradas solto a voz pelo nada
carregando o peso dos medos, os medos dos erros
poeira, poeira, poeira

areia do deserto nos olhos,
queimando a vista, a prazo, cheque sem fundo do baú,
no fundo dos olhos um perfume de futuro,
no fundo do silêncio um vadio vagabundo
pede esmolas de vida, pedaços do amanhã
quem tem medo de escuro não aceita o futuro

a felicidade de correr pela estrada com um copo de tequila
jogar o tequila como um ritual abençoando a estrada
cantar a felicidade da cidade da cidade da estrada errada
cadilac ao vento, cai de lado o tempo, corre o vento na cara

o Sol já passou pelo retrovisor
visão retrógada do futuro promissor
quem sabe o futuro está naquele pneu furado
em cima da carcaça de bois secos
minha garganta pede por sede
a miragem da verdade é a margem da saudade de casa
casa longe, já não tem casa

o rádio toca aquela canção
que nos perdemos dentro dela
que nos procuramos em outras eras
meditação transcendental, não faz mal ser feito de vento

bom dia poeira, toda poeira é feita de medo da viagem
viagem que não leva, só traz
viagem sem volta para a terra do nunca mais

Sérgio Mendes X Mário de Andrade

Continuando a discussão sobre a História da Música brasileira, o professsor Avelino nos trouxe um texto do compositor Sérgio Mendes.

O texto dada de 1972, cinquentenário da Semana de Arte Moderna em SP, e se posiciona criticamente quanto a visão nacionalista de Mário de Andrade, e como ela significou um retrocesso no desenvolvimento da linguagem musical brasileira.

A ênfase de Mário era no folclore, como base do nacional e conduzindo para o universal.

Defendia, no final das contas, contraditóriamente, um modelo neo-clássico enxertado de folcore.
Ou seja, norteado pelos padrões tradicionais da música européia, Andrade prega um retorno ao final do século XIX em termos de linguagem musical, enxertando o folclore, e vendo nisso a "verdadeira e única" música brasileira erudita.

Esse patrulhamento ideológico será predominante após a semana de 22.
Até a semana de 22 a música brasileira está próxima do desenvolvimento europeu, afinada com o debate musical.

Para Mendes, Villa-Lobos é um inventor, está atualizado com as questões européias, experimenta novas formas, novos modos de fazer e pensar a música.

Sérgio Mendes vai pensar: quanto mais inovação pessoal do artista, mais nacional é.

O critério agora é a criação.

Parte da vanguarda dos anos 60 - chamada Música Nova - da qual participava Rogério Duprat, e que mais tarde iria aplicar na música popular - Tropicália - os conceitos experimentais ; Sérgio Mendes, ao contrário de Mário de Andrade, achava que "modernismo" não erasinônimo de "nacional".

domingo, 7 de setembro de 2008

Parte da palavra

é feita de letras, como retas e terras pretas,
são feitas palavras de cada língua, religião,
forjadas em brasa, as letras do brasão,
catadas no lixo as letras do chão

parte da palavra se vai nas letras
parte se perde na fala
parte
par-te

para ti, par da palavra, sentido
parte da boca pra fora do ninho,
ganha o rumo de pássaro que não tem destino,
e cai no sentido de outro passarinho,
sem asas, sem crases, sem casas
sem quases pedaços de frases,

parte da palavra se vai no infinito

Noel Rosa em um filme - LINK

http://www.youtube.com/watch?v=26GAxh6_aKI

Noel Rosa em um filme

A única imagem em movimento de Noel Rosa.

"O Bando de Tangarás" em 1929.

Um marco da sincronização de som na película.

O vocalista é Alimirante, o pandeiro é de João de Barros (Braguinha) e Noel está tocando violão.

Saiu no O GLOBO falando sobre as raridades do Youtube.

http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2008/09/06/veja_50_videos_culturais_do_brasil_do_mundo_no_you_tube-548117213.asp

Imperdível.

IV Encontro do Corpo na Dança e no Teatro

Ontem não postei porque não parei em casa, fui assistir minha querida amiga Rosana Seager numa das apresentações do IV Encontro do Corpo na Dança e no Teatro.
Foi lá no SESC Copacabana. Estará rolando até hoje (domingo).

"Uma programação especialmente preparada para percorrer a trajetória de Klauss Vianna e seus desdobramentos. O evento é sobretudo uma reflexão desses 15 anos passados sem Klauss Vianna. Este projeto, explica Angel, sua companheira e parceira pela vida toda, é um resgate de memória mesmo, que parece um lugar comum, mas sabemos o quanto é imprescindível sublinhar este aspecto, num país que tem memória curta. Nos 15 anos de sua morte, queremos homenagear esse grande pensador da dança que foi Klauss Vianna (1928-1992), que lançou um novo olhar sobre a dança e o teatro, amplificado numa forma de ver o mundo, influenciando toda uma geração de artistas cênicos, e cujas idéias continuam tão vivas nesse limiar do século XXI. E quando se fala de memória não podemos esquecer de Rainer (1958-95).
Um outro propósito é colocar o Rio de Janeiro na "rede Klauss Vianna", formada por ex-alunos que levam adiante um trabalho de pesquisa em dança e no teatro, tendo desdobramentos na área terapêutica e educacional. Por fim, o objetivo é também aprofundar a reflexão e o intercâmbio de experiências entre os profissionais da dança e do teatro com suas conexões no campo da saúde e da educação.
Klauss iniciou sua vida profissional em Belo Horizonte onde, juntamente com Angel, criou o Balé Klauss Vianna. Espírito inquieto, passou por várias cidades, deixando sua marca revolucionária em todas elas. Em 1964 o casal muda-se para o Rio de Janeiro, onde morou cerca de 16 anos e, além de ter desenvolvido um trabalho como professor, coreógrafo e crítico de dança, aqui se deu sua aproximação com o teatro onde "foi o pioneiro na transposição da dança (movimento corporal) para a dramática da cena (a palavra na raiz do movimento)..." como bem disse Macksen Luiz." extraído do site do SESC - Copacabana


Olha a programação de hoje:

http://www.sescrio.org.br/main.asp?View=%7B1EA3936A%2D90BA%2D4C11%2D96FB%2D808D29710862%7D&Team=&params=itemID=%7B31859ABD%2DF6D9%2D4DFB%2D832F%2D2BF86413B7C7%7D%3B&UIPartUID=%7B174F2932%2DD66D%2D4353%2DB6B5%2D5793371C8959%7D.


Pude ver muitas coisas interessantes para estudar com a dança. A sua aplicação na atuação em cinema e no teatro. Não somente o movimento, mas a interação com o espaço e com o espectador. Não somente a narrativa que se estabelece, mas a infinita subjetividade do espectador que molda o espetáculo em seu corpo, como se sente o espetáculo.

Não só o movimento da balarina, mas a repercussão desse movimento em você.

Coisas para se estudar.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

The History of Western Theatre - em 8 partes

Achei esses videos no youtube. Muito interessante. Contando um pouco da história e das transfomações do teatro ocidental. Vale a pena conferir.

The History of Theatre I
http://www.youtube.com/watch?v=xlP3IEInowM&feature=related
The History of Theatre II
http://www.youtube.com/watch?v=rkaMaeHNSR8&feature=related
The History of Theatre III
http://www.youtube.com/watch?v=UIZqHEy_z5g&feature=related
The History of Theatre IV
http://www.youtube.com/watch?v=zp_5tubNoKc&feature=related
The History of Theatre V
http://www.youtube.com/watch?v=aTNVogznHnI&feature=related
The History of Theatre VI
http://www.youtube.com/watch?v=1lV5eYbN2JU&feature=related
The History of Theatre VII
http://www.youtube.com/watch?v=SOvVH0KKZlc&feature=related
The History of Theatre VIII
http://www.youtube.com/watch?v=VXk7vuTQV5o&feature=related

A Viagem do Capitão Tornado II

Cena maravilhosa:

http://www.youtube.com/watch?v=1V-xOsYRWfY

A Viagem do Capitão Tornado

Esse filme tem tudo haver com o texto de baixo.

Mostra essa transformação do teatro da comédia dellarte.

Além de ser Ettore Scola. O mestre italiano. Não tem em dvd, consegui uma cópia com o Pierre (prof. de Direção de Arte), talvez se ache em VHS.

Portanto, vamos fazer um exercício diferente. Ver um filme pela música. Bom filme.

http://www.youtube.com/watch?v=aUdaEIwf-fI

Modos de pensar/fazer o teatro

Hoje na aula de Direção de Arte falamos novamente sobre as mudanças do modo de pensar e fazer o teatro.


No final da Idade Média, a Comédia Dell'arte foi se transformando no teatro Renascentista.

Baseada no improviso, na caracterização exagerada, caricata, com uso de máscaras, impostação da voz, técnicas de circo, arquétipos presentes na metanarrativa (arlequim, o amoroso, o soldado, o criado astuto, o fanfarrão).

Com a "apropriação" e o "seqüestro" das companhias para dentro dos palácios, juntamente com o surgimento da figura do diretor, o teatro do Renascimento traz a idéia de sujeito universal como ponto de fuga, racionalidade, encenação em função do texto (textocêntrica), realismo. A nobreza e a alta burguesia querendo ver seus dramas num espelho, numa caixa fechada em seu palácio.


E essa subordinação ao texto é o que o teatro moderno buscará romper para dar lugar às especificidades fisicas, concretas da encenação teatral.

Antonin Artaud, estupefato ao assistir o teatro de Bali, propõe um retorno ao teatro primitivo, ou seja, um olhar para o teatro das colônias africanas e orientais.

Estamos numa época de "contaminação" da Europa por outras culturas, um descentramento, que vai caracterizaro modernismo nas Artes. Início do Século XX.

Artaud vai enxergar no teatro de Bali o aspecto de imagem como alucinação e medo. A dimensão sobrenatural, ritual do teatro. Apesar de não entender muito bem a narrativa, esse teatro se traduz em um texto de corpo/som e imagem, a especificidade da mise-en-scene: JOGO DE ELEMENTOS FISICAMENTE REPRESENTADOS.

Esses gestos, voz, movimentos, físicos, também tem sua dimensão metafísica de sugestão.

UMA LINGUAGEM TEATRAL FÍSICA NA BASE DOS SINAIS, NÃO DE PALAVRAS.

Pensa o figurino como algo que não é só para caracterizar o personagem, mas desenhar no movimento dele um texto que comenta, tenciona. Não é uma mera interpretação do texto escrito.

Artaud busca ir além das convenções naturalistas, busca novos códigos, para a imaginação. Uma métrica que obedece uma visão para além do texto, uma percepção dele na sua perspectiva imaginativa. O diretor como outro personagem dando essa visão. Efeitos mecanicamente calculados.

Um todo orgânico num corpo imagético capaz de repercutir no espectador para um arrebatamento dos sentidos.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mas apesar disso

O Cinema de Kim Ki-Duk nos ensina algumas lições.

- Fugir do esperado (causar estranhamento)


- Pensar em termos de arte

Engraçado. De certa forma ele pensa no "e sês do cinema" que escrevi a alguns dias atrás aqui no blog. Ele pensa em termos físicos, imagéticos, para construir personagens e tramas. Dando isso certo ou não.


- Em todos os filmes, alguns momentos te arrebatam, mesmo que não funcionem no filme como todo. Momentos que se destacam pelo inusitado, escolhas tortas.


Bom, sempre se pode aprender, mesmo de exemplos ruins.

Kim Ki-Duk é um cineasta em busca do seu cinema. Faz referências a sua própria obra. Queremos ver se isso não se torna um vício. Queremos ver a ousadia de retrabalhar a sua própria linguagem, sem apelar para o que já sabe fazer. Queremos os segredos de Kim Ki-Duk.

Onde está Kim Ki-Duk?

O primeiro que vi dele foi "Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera". Na época não estudava cinema ainda, mas deu pra perceber indícios de uma linguagem diferente da que eu estava acostumado. A fotografia é linda. E um ritmo próprio. Quis saber mais sobre o diretor. Fiquei querendo assistir o próximo filme dele. Guardei aquele nome. Coisas boas poderiam vir. Eu sentia.


Depois peguei o "Casa Vazia". Que filme interessante! Já estava estudando cinema e pude prestar atenção em todo o jogo da mise-en-scene, o silêncio dos personagens, a função da câmera, toda a poesia daquilo tudo. Um filme que me entusiasma. Nesse ele acertou a mão. O roteiro também era inusitado, diferente do mesmismo ocidental. Uma outra vivência das coisas.

Nesse virei fã do coreano. Que aula de cinema!



Depois peguei o "Time".

6 reais. 6 reais mal-aplicados. QUE MERDA DE FILME. Não acreditei naquilo. Meu amigo Ki-Duk, o que foi isso? Te vendeste, amigo Ki-Duk? O que aconteceu? Onde foi parar a força da tua linguagem? Banalisaste a tua própria linguagem? Como tu fazes um filme que desde o primeiro plano sabemos exatamente o final? Como fazes um filme cheio de firulas e imagens pseudo-artísticas sem conteúdo ou de conteúdo forçado? Fiquei chateado. Aquele cara, o cara que fez o "Casa Vazia", me enganou. Restava esperar o próximo, para saber que rumos inesperados a mente do amigo coreano estava tomando.



Acabei de assistir "Fôlego".

Reflito.

Certamente, o brilho de seu cinema vem se apagando. Já não te entendo mais, Ki-Duk. Já não entendo porque ficaste óbvio. E não entendo o óbvio. Quero o simbólico, o verdadeiro simbólico, que é aquele que eu não percebo. Tu estragaste teu cinema, sujando-o com a tinta velha da obviedade. Jogaste em nossas caras o que era pra se esconder. Exageraste, amigo Ki-Duk. Teus personagens já não me atraem, são chatos. Cansei das tuas pinturas no quadro. Quero o fora de quadro. Cansei do teu melodramatismo exagerado. Eu sei que é "sua intenção". Mas cansei. Espero ansioso o dia em que te entenderei de novo. O dia em que brindará o cinema com uma continuação do processo de redescoberta da linguagem que fizeste em "Casa Vazia". Espero conteúdo dialogando com a forma, e não forma que deseja ser conteúdo. Espero que voltes, amigo Ki-Duk. Cadê você?

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Desafilme

Quando entrei na UFF-Cinema, senti aquela vontade juvenil de revolucionar o cinema.
Então pensei numa fomra alternativa de produção e criação de filmes, escrevi isso ai:


novo conceito de filme: "DESAFILME"

princípios básicos

- Liberdade
- Coletividade
- Improvisação
- Reciclagem

1- Não existe a pós-produção.
2- Toda a narrativa é improvisada através das técnicas de impro.
3- O erro deve permanecer, mas sendo justificado com coerência dentro da narrativa.
4- A direção cinematográfica é livre.
5- A trilha sonora do filme só pode ser executada ou reproduzida no exato momento da filmagem.
6- Os figurinos e os cenários deverão ser basicamente compostos de objetos recicláveis.


O que isso implica?
Seria interessante?
Que técnicas teriam de ser desenvolvidas?

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Clube da Esquina I - o início da viagem



O disco começa com "Tudo o que você podia ser", de Lô e Márcio Borges.

O Lô começa na batida do violão de nylon, meio rasgado, está presente uma latino-americaniedade que o Lô coloca em sua música, uma espécie de influência da américa espanhola, nem tanto nessa música, o lance do compasso ternário, mas está bem presente no Lô.

O violão começa, e ele está com uma afinação alternativa, que eles usavam (os "clubistas") com freqüencia: o Mizão é Ré, ou seja, um tom abaixo, tornando o violão de 6 cordas mais próximo do de sete, pelo grave do baixo.

Com essa afinação, a formação do acorde e as inversões são mais ágeis de tocar, o que a galera buscava mesmo, essa flexibilização da harmonia.

E essa harmonia é um negócio muito bonito, utilizando intervalos de segunda, dentro do acorde, dando um colorido bem legal.

Depois entra a voz do Milton, e a suas primeiras frases melódicas colaboram com a dinâmica dos acordes, realçando o lance das segundas. Além disso, tem um reverb-natural-anos-70-roots, que não sei o que era, mas deixa bem característico o som da voz dele no disco todo.

Agora a guitarra e o violão de 12 vão pontuar alguns momentos, utilizando um efeito estéreo muito bem mixado (pra época), e muito bem arranjado, cada um está numa região do instrumento, um faz dedilhado e o outro palheta. Parece que os horizontes do som vão se ampliando.

Quando chegamos no clímax agudo da melodia, com o Milton atingindo com potência, a bateria entra com a virada e o baixo (Beto Guedes) vem junto, assim como a percussão: caxixi, tumbadora. Quem tá na batera é ninguém menos que Robertinho Silva.

O refrão instrumental tem um lance ao mesmo tempo mineiro-caipira, o riff em terças, mas é rock também, pelo modo como é tocado. Esse tipo de fusão vai marcar muito o clube.

O Wagner Tiso vai entrar fazendo uma bela cama com o órgão (meio duplo sentido não?).

É impressionante como som vai ganhando cada vez mais riqueza, sem nunca os instrumentos se esbarrarem ou se anularem. Um excelente arranjo.

A letra é aquela coisa Márcio Borges...

Uma poesia que tá dentro de nós, nem é mais dele, é de Minas e do Mundo...

"Com sol e chuva
você sonhava que ia ser melhor depois
você queria ser o grande herói das estradas
tudo o que vocÊ queria ser

Sei um segredo
você tem medo, só pensa agora em voltar
não fala mais na bota e no azel de Zapata
tudo o que você podia ser, sem medo
E não se lembra mais de mim
você não quis deixar que eu falasse de tudo
tudo o que você podia ser, na estrada

Ah! Sol e chuva na sua estrada
mas não importa, não faz mal
você ainda pensa e é melhor do que nada
tudo o que você consegue ser, ou nada"

Seja Pollock por um dia



Meu amigo Jesse me mandou essa dica, um link pra quem quer fazer arte mas não quer nem sair da frente do computador.


seja Pollock por um dia:



(movimente o mouse e clique com o botão esquerdo)


o que acharam?

"E sês..." do Cinema - parte I

E sê:

- pensarmos em termos físicos, materiais, toda a idéia de um filme?

ex: um personagem é relacionado à água, líquido, todos os materiais das suas cenas terão relação com a água, e suas cenas serão feitas baseado nessa idéia. outra personagem é fogo, então o fogo estará lá presente, as cenas, os materiais, tudo relacionado, o personagem é criado a partir disso.

- pensarmos a montagem com características de um material físico?

ex: o fogo queima. se espalha. sai faíscas. a montagem, a junção entre um plano e outro pode representar isso, como se um plano queimasse o outro, ou se alastrasse para o outro, a fotografia pode enfatizar isso também. como "esquentar" uma montagem? como "ventar" uma montagem?

- pensarmos os movimentos dos atores no quadro como uma dança?

ex: tornar a própria movimentação parte do jogo cênico. que os personagens, ao se movimentar, expressem relações. que essa dinâmica do movimento no espaço sirva mais que um diálogo.

- pensarmos em construir a narrativa através da música?

ex: subordinar o filme inteiro, em sua gênese criativa, a uma música, ou várias músicas. mesmo que elas não sejam usadas propriamente. pensar as cenas como instrumentos solando. pensar personagens como instrumentos solando, e diálogos como coro, fuga.

- pensarmos em decupar o corpo?

ex: e se os pés do ator fossem um personagem? e se as mãos? e se um dos olhos fosse outro?
pensar o personagem com diversos personagens espalhados pelo seu próprio corpo. Uma luta física externa contra si mesmo.

Em cima da mesa


Em cima da mesa tinha um açaí

Tinha um açaí em cima da mesa

Em cima da mesa tinha

um açaí em cima da mesa


Em açaí de mesa

tinha em cima

da mesa, um açaí

em cima tinha


Nunca me esquecerei daquele dia

em que tinha um açaí em cima da mesa

em cima da mesa tinha um açaí

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Em busca do Cinema

Quando falam sobre a busca pelo específico do cinema, se seria a montagem, a busca pela linguagem cinematográfica pura, livre das outras artes, reflito.

O cinema que eu busco é também o que todas as artes tem para oferecer de melhor para o filme.

O específico também é o universal.

O específico vem da junção das outras artes, numa outra coisa. Uma adaptação aquisitiva.

Já se inventou um instrumental grande para o cinema. Ao mesmo tempo, ele é muito novo. Por ser a mais nova das artes, buscou amadurecer precocemente. Pulou etapas. E os avanços da linguagem são sempre retornos, releituras.

"Um museu com grandes novidades" (CAZUZA)

Esse retorno com outro olhar parece ser fundamental nesse processo de transformação.

Ainda sou adepto da síntese forma/conteúdo. Que dessa união simbiótica se redescubram linguagens antigas para um novo cinema. Um cinema feito de passado, que fala no presente, projetando um futuro.

Sempre no presente.

Penso que uma forma interessante é aquela que, em sua apresentação inicial, se faz valer de formúlas conhecidas, seduzindo o espectador, para a identificação ocorrer, e a partir dai, um crescente em exploração formal, de modo mais ou menos suave, para que o espectador seja conduzido para um êxtase de ampliação sensorial e simbólico.

São um tipo de filme que busco.

Pequenas coisas

Hoje pequenas coisas tornaram o dia mais alegre, mais diferente.

Assim que saí de casa para ir para a UFF, vi uma mulher com um cachorro de cadeira de rodas.

Nunca tinha visto um cachorro com cadeira de rodas. Era um salsichinha. Bonitinho. As patas traseiras ficavam suspensas e tinha duas rodas, quando ele andava pra frente as rodas rolavam.

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Tomei a vacina da rubéola. Mas antes, encontrei meu amigo Filipe. Ele já tinha tomado, mas me acompanhou. Foi lá na escola de enfermagem da Unirio. Quando chegou a hora, pedi para pegar na mão dele, de sacanagem. "Tenho medo de agulha tia". "Você já fez isso antes?".

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Na aula de História da Música II, falamos sobre o chato do Mário de Andrade.

O cara escreveu sobre seu ideal de música, no livro, "Evolução Social da Música".

Percebe-se a busca nacionalista por uma música com função social e vinda das pesquisas com o folclore. O desprezo pelos outros tipos de música. O ideal de "falar pelo povo".

Essa busca pela identidade brasileira pura, com extremo radicalismo xenofóbico, ao mesmo tempo justificando-se para o europeu...O cara tinha complexo de inferioridade. Queria ser europeu, mas não conseguiu. Ai quis ser brasileiro.

A História soube muito bem aonde foi dar o nacionalismo exacerbado.

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O poema "Morte do Leiteiro" de Drummond é cinematográfico :

A Cyro Novaes
Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafase seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizeras coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiroestatelado,ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.