terça-feira, 2 de setembro de 2008

Clube da Esquina I - o início da viagem



O disco começa com "Tudo o que você podia ser", de Lô e Márcio Borges.

O Lô começa na batida do violão de nylon, meio rasgado, está presente uma latino-americaniedade que o Lô coloca em sua música, uma espécie de influência da américa espanhola, nem tanto nessa música, o lance do compasso ternário, mas está bem presente no Lô.

O violão começa, e ele está com uma afinação alternativa, que eles usavam (os "clubistas") com freqüencia: o Mizão é Ré, ou seja, um tom abaixo, tornando o violão de 6 cordas mais próximo do de sete, pelo grave do baixo.

Com essa afinação, a formação do acorde e as inversões são mais ágeis de tocar, o que a galera buscava mesmo, essa flexibilização da harmonia.

E essa harmonia é um negócio muito bonito, utilizando intervalos de segunda, dentro do acorde, dando um colorido bem legal.

Depois entra a voz do Milton, e a suas primeiras frases melódicas colaboram com a dinâmica dos acordes, realçando o lance das segundas. Além disso, tem um reverb-natural-anos-70-roots, que não sei o que era, mas deixa bem característico o som da voz dele no disco todo.

Agora a guitarra e o violão de 12 vão pontuar alguns momentos, utilizando um efeito estéreo muito bem mixado (pra época), e muito bem arranjado, cada um está numa região do instrumento, um faz dedilhado e o outro palheta. Parece que os horizontes do som vão se ampliando.

Quando chegamos no clímax agudo da melodia, com o Milton atingindo com potência, a bateria entra com a virada e o baixo (Beto Guedes) vem junto, assim como a percussão: caxixi, tumbadora. Quem tá na batera é ninguém menos que Robertinho Silva.

O refrão instrumental tem um lance ao mesmo tempo mineiro-caipira, o riff em terças, mas é rock também, pelo modo como é tocado. Esse tipo de fusão vai marcar muito o clube.

O Wagner Tiso vai entrar fazendo uma bela cama com o órgão (meio duplo sentido não?).

É impressionante como som vai ganhando cada vez mais riqueza, sem nunca os instrumentos se esbarrarem ou se anularem. Um excelente arranjo.

A letra é aquela coisa Márcio Borges...

Uma poesia que tá dentro de nós, nem é mais dele, é de Minas e do Mundo...

"Com sol e chuva
você sonhava que ia ser melhor depois
você queria ser o grande herói das estradas
tudo o que vocÊ queria ser

Sei um segredo
você tem medo, só pensa agora em voltar
não fala mais na bota e no azel de Zapata
tudo o que você podia ser, sem medo
E não se lembra mais de mim
você não quis deixar que eu falasse de tudo
tudo o que você podia ser, na estrada

Ah! Sol e chuva na sua estrada
mas não importa, não faz mal
você ainda pensa e é melhor do que nada
tudo o que você consegue ser, ou nada"

Nenhum comentário:

Postar um comentário