segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Pequenas coisas

Hoje pequenas coisas tornaram o dia mais alegre, mais diferente.

Assim que saí de casa para ir para a UFF, vi uma mulher com um cachorro de cadeira de rodas.

Nunca tinha visto um cachorro com cadeira de rodas. Era um salsichinha. Bonitinho. As patas traseiras ficavam suspensas e tinha duas rodas, quando ele andava pra frente as rodas rolavam.

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Tomei a vacina da rubéola. Mas antes, encontrei meu amigo Filipe. Ele já tinha tomado, mas me acompanhou. Foi lá na escola de enfermagem da Unirio. Quando chegou a hora, pedi para pegar na mão dele, de sacanagem. "Tenho medo de agulha tia". "Você já fez isso antes?".

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Na aula de História da Música II, falamos sobre o chato do Mário de Andrade.

O cara escreveu sobre seu ideal de música, no livro, "Evolução Social da Música".

Percebe-se a busca nacionalista por uma música com função social e vinda das pesquisas com o folclore. O desprezo pelos outros tipos de música. O ideal de "falar pelo povo".

Essa busca pela identidade brasileira pura, com extremo radicalismo xenofóbico, ao mesmo tempo justificando-se para o europeu...O cara tinha complexo de inferioridade. Queria ser europeu, mas não conseguiu. Ai quis ser brasileiro.

A História soube muito bem aonde foi dar o nacionalismo exacerbado.

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O poema "Morte do Leiteiro" de Drummond é cinematográfico :

A Cyro Novaes
Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafase seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizeras coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiroestatelado,ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

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