domingo, 14 de agosto de 2011

falsa valsa

não sei se Paris é falsa
mas o que sinto é verdadeiro

desço de velib
na madrugada veloz

uma garrafa de vinho
canta na madrugada amarela

não sei se estou na Grécia
na Renascença
na Revolução

alguém no escuro fuma um charuto
cubano

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

eu queria escrever alguma coisa
que envolvesse as pessoas
como música.

é melhor eu fazer uma música.

minha lua

ela desrespeitava as leis da gravidade. com o seu cabelo fazia o dia acordar mais cedo. segurava a manhã com os olhos fechados. nos seios, espalhava a primavera e fartura. tinha um par de luas quando olhava o céu. nos pés, poeira das estrelas. tinha os sonhos de menina. o travesseiro dormia abraçado nela. ela não dormia. acordava o dia mais cedo.

no horizonte céu sol e lua

civilização

passa tempo
passa o carro
passa tempo
passa vento
eu vejo a cidade passando
passeando no rodopio
dessa bicicleta
dessa fantasia
passam reis e estátuas
passam sociopatas
os cavalos das carroagens
e os cagos dos cavalos
de mil anos atrás
eu não quero saber
da história com h maiúsculo
eu só preciso continuar
passando o tempo
passando a marcha
passando pelo rio
rápido
como
Sena

o rio passa por mim
a bicicleta me pilota
a torre me escala
os reis me decoram nos livros
estou vivo no passado
com caixão e tudo
meu caixão é feito de asfalto

(não estou em paris e nem estou ouvindo caetano)

eu quero sorrir na calçada
para uma prostituta
que usa meia-calça rasgada

parece que a cidade está dormindo acordada
numa festa de formatura
há milênios atrás
passa um mendigo com as calças arregaçadas
a garrafa de vinho
tinto
a garrafa bebe o bêbado
corre! corre! corre!
eu pego velocidade
na decida do rio
perto, quase junto
o vento tenta me alcançar
consegue! eu vejo as luzes da minha imaginação
elas não me alcançam
pode ser uma chuva que vem ai
pode ser
foda-se
a lua está em cima
a lua está em mim
foda-se
eu corro mais rápido do que essa cidade gira
numa valsa sangrenta de cem anos
uma foto tira um chinês
um crepe faz um africano
com a própria massa
da civilização
C I V I L I Z A Ç Ã O !!!!!!

eu quero vender pastel na índia
comprar escravos
e fazer palácios de areia
e pisar em cima
e mijar em cima
você ouviu a civilização chamando
na estação de metro?
você ouviu o som
que as flores minuciosamente colocadas
entre uma linha e outra
você ouviu?

passa o tempo
rodopiando na minha correia de metal
a roda gira na direção da rotação da translação da terra sobre o céu
a terra é o centro do meu universo
e ela pedala na minha cabeça
carregando os sons
e o sol
nas mãos

posso encontrar poeira das estrelas
no seu sapato de duzentos anos
cheio de promessas de danças tradicionais
e de poemas românticos
posso encontrar escondido num armário de madeira
que a tataravó de algum rei esqueceu de abrir

eu pedalo
em cima dos telhados
atropelo um carrasco que tirou minha cabeça
na revolução passada
ele tem um sorriso de quem comeu um kebab
ontem de manhã

os árabes vão fazer um cruzada ao contrário

o tempo não passa
na minha bicleta
eu posso ver o meu futuro
sentado na calçada
fumando os jornais
não sei das notícias do brasil
nem quero saber

eu quero saber de civilização

anotações de viagem 1

o exílio
dá para entender
é aquela saudade de casa
ou do que inventamos que era
nossa casa.

escrever me traz para casa
e me afasta dela
escrever é como viajar
para bem longe
carregando sua casa
dentro

acho que desacostumei
a escrever com caneta
digo, escrever no papel
acho que já acostumei
e acho mais prático
e rápido
escrever no computador

a vantagem do papel é escrever em qualquer lugar

a vantagem do computador é não escrever em qualquer lugar

a vantagem do lugar é não escrever em qualquer

----------------------

quando eu fizer 26 anos
vou me dedicar à pintura
como Van Gogh.

tomara que eu não corte minha orelha.
gosto dela.

----------------------

dentro de um pub inglês
calor
humano
- a bebida é fundamental para o inglês
um ser teatral por natureza
deve ser chato o frio
então se bebe
para tentar
lembrar o jeito que se é

----------------------

edimburr

os pássaros gargalham.

----------------------

o cinema é só uma continuação natural do trem

----------------------
no vondelpark (não sei escrever)

o sonho dos pássaros
é sonhar acordado
um cão late no fundo
os cães aqui só obedecem
ao dono
as moças falam
é também
mais elegante que
francês, pode parecer estranho
mas é

escuto o segredo
dos pássaros
as moças portuguesas
com certezas
sobre o mundo
ficam voando no verde

é saudável
lulu se perdeu da dona

(vamos chamar o vento)

o sol resiste
as pedras
estão
em cima
do rio
o rio está debaixo
da pedra

quando eu inverto
(manoelizo)

a tarde permanece
na aranha

acho que entendi

---------------------

amsterdã
começou
com 2 caras
e um cão
num barco
na chuva.

---------------------

escrever é algo que só se pode
fazer sozinho
mas a poesia é contato
com o mundo
de fora e de dentro

perder o dente numa briga de rua
jogar no bicho
escrever o nome de Deus em vão

escrever é algo que só se pode
fazer
e se eu fechar os olhos,
Paris ainda é um carrossel
que gira
em torno de Deus
em torno do poeta
o cara dorme no trem
ouvindo no fone
heavy metal
uma mulher está vestida de
tigre
um pai de família
tem um coração em chamas
tatuado na perna
aqui as coisas são longe
tudo é tão longe
a gente nem andou na rua direito
tem sempre, no mínimo,
umas quatro línguas sendo
faladas ao mesmo tempo
não sei por que
pensei nos EUA
no velho oeste

domingo, 7 de agosto de 2011

tudo

ouço Saraband - tema do Barry Lyndon
http://www.youtube.com/watch?v=Cr_fsGEW2-A

e consigo ver tudo
de novo
e consigo ficar cego
de tanto ver
e consigo ficar livre
de tanta prisão
e consigo ficar leve
de tanto peso
e consigo ficar firme
de tanto vento
e consigo ficar sóbrio
de tanto sonho
e consigo ficar jovem
de tanto velho
e consigo ficar sombra
de tanto sol
e consigo ficar apaixonado
de tanto ódio
e consigo ficar breve
de tanta pausa
e consigo ficar febril
de tanto frio
e consigo alcançar o céu
de tanta terra
e consigo encostar nas estrelas
de tanta distância

e consigo ficar cego
de tanto ver