segunda-feira, 8 de agosto de 2011

civilização

passa tempo
passa o carro
passa tempo
passa vento
eu vejo a cidade passando
passeando no rodopio
dessa bicicleta
dessa fantasia
passam reis e estátuas
passam sociopatas
os cavalos das carroagens
e os cagos dos cavalos
de mil anos atrás
eu não quero saber
da história com h maiúsculo
eu só preciso continuar
passando o tempo
passando a marcha
passando pelo rio
rápido
como
Sena

o rio passa por mim
a bicicleta me pilota
a torre me escala
os reis me decoram nos livros
estou vivo no passado
com caixão e tudo
meu caixão é feito de asfalto

(não estou em paris e nem estou ouvindo caetano)

eu quero sorrir na calçada
para uma prostituta
que usa meia-calça rasgada

parece que a cidade está dormindo acordada
numa festa de formatura
há milênios atrás
passa um mendigo com as calças arregaçadas
a garrafa de vinho
tinto
a garrafa bebe o bêbado
corre! corre! corre!
eu pego velocidade
na decida do rio
perto, quase junto
o vento tenta me alcançar
consegue! eu vejo as luzes da minha imaginação
elas não me alcançam
pode ser uma chuva que vem ai
pode ser
foda-se
a lua está em cima
a lua está em mim
foda-se
eu corro mais rápido do que essa cidade gira
numa valsa sangrenta de cem anos
uma foto tira um chinês
um crepe faz um africano
com a própria massa
da civilização
C I V I L I Z A Ç Ã O !!!!!!

eu quero vender pastel na índia
comprar escravos
e fazer palácios de areia
e pisar em cima
e mijar em cima
você ouviu a civilização chamando
na estação de metro?
você ouviu o som
que as flores minuciosamente colocadas
entre uma linha e outra
você ouviu?

passa o tempo
rodopiando na minha correia de metal
a roda gira na direção da rotação da translação da terra sobre o céu
a terra é o centro do meu universo
e ela pedala na minha cabeça
carregando os sons
e o sol
nas mãos

posso encontrar poeira das estrelas
no seu sapato de duzentos anos
cheio de promessas de danças tradicionais
e de poemas românticos
posso encontrar escondido num armário de madeira
que a tataravó de algum rei esqueceu de abrir

eu pedalo
em cima dos telhados
atropelo um carrasco que tirou minha cabeça
na revolução passada
ele tem um sorriso de quem comeu um kebab
ontem de manhã

os árabes vão fazer um cruzada ao contrário

o tempo não passa
na minha bicleta
eu posso ver o meu futuro
sentado na calçada
fumando os jornais
não sei das notícias do brasil
nem quero saber

eu quero saber de civilização

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