domingo, 23 de setembro de 2012

testando quantos leitores tenho e pedindo sugestões para poemas

Olá, você costuma ler este blog? No começo, a gente escreve mais pra gente mesmo. Depois de um tempo (quanto tempo tem esse blog, uns 4 anos?) acho que chega a hora de dialogar mais. Então estou fazendo esse teste aqui. Você costuma ler essas poesias daqui? Se sim, me dá uma resposta ai no comentário. Aproveita e me sugere algo para escrever, como: temas, coisas, idéias, algo.

Abraço carinhoso.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

o livro dos cabelos

teus cabelos me curam da idéia de que sou diferente do universo
posso decompor o movimento de um beija-flor através do perfume negro dos seus cabelos
se uma gota de chuva escorrega pelo ar rarefeito e encontra abrigo nos teus cabelos
as moléculas se reorganizam em formações geométricas distintas
pequenos diamantes de vento por entre suas tranças criando prismas de luz negra

teus cabelos são rios caudalosos de terras imaginárias onde a civilização ainda não chegou
não há bússolas, mapas, cartas marítimas, nem sinais de estrelas, não há caminho
seguindo o fluxo dos fios é possível atingir perfeitamente a perdição
e mesmo que sábios do oriente, mesmo que matemáticos árabes, intentem descobrir as saídas
teus cabelos são rios infinitos em espirais de labirintos
de onde não se sai, não se entra, não se caminha, nem se pára

dez mil seres da terra podem tentar pentear os teus cabelos usando as dez mil maneiras
assim como os reis e príncipes podem oferecer toda a riqueza de seus palácios
ainda assim não haverá vento bravo que possa invadir a forma natural de seus cabelos
como não se invade o palácio de mil muralhas e dez mil soldados
para contemplar a ondulação de teus cabelos a Terra inclina levemente seu eixo
o jasmim modifica levemente sua cor, o Sol levemente se esconde atrás de uma nuvem

aquele que quiser conhecer os não-caminhos de seus cabelos
deve percorrer a leitura atenta do livro dos cabelos, escrito no tempo onde não havia tempo
escrito com a tinta negra da noite no papel amarelo do dia
escrito com a pena mais fina da fênix mais antiga, do vermelho como sangue de mil rosas em mantra

no livro dos cabelos é possível recitar as sete mil formas de imaginar seus cabelos, agradecer
e visualizar o futuro
aquele que compreender a sua essência poderá caminhar acordado dentro de sonhos
bem como libertar-se da atmosfera ilusória da própria existência terrena e sonhar de olhos abertos

na primeira página do livro dos cabelos há um desenho colorido de uma das formas de seus cabelos
para enxerga-la é preciso fechar os olhos e sacrificar uma imagem em frente a um abismo de si mesmo
caminhar nu pela floresta negra de seus cabelos e se deixar cortar pelas pontas afiadas de seus cabelos
fazer um manto negro de seus cabelos e se deixar banhar pela cascata negra de mel e perfume de seus cabelos

em cada capítulo do livro se encontra uma ponta de um fio de seus cabelos
da primeira ponta até a raiz da segunda percorre-se a circunferência de uma libélula
da segunda ponta até a raiz da terceira percorre-se a circunferência de um ipê-roxo
a partir da terceira, cada ponta de cabelo se enlaça com a seguinte, gerando uma mandala infinita

observando essa mandala do ponto de vista zenital do Uno
é possível visualizar a formação suave de uma figura moldada na capa de um livro:
um rosto de mulher
e o título

o livro do rosto

sonho pina bausch

Tive um sonho em que visitava o grupo de teatro-dança de Pina Bausch, junto com alguns amigos e colegas da universidade. Participávamos de um espetáculo, improvisando com os dançarinos da companhia. Eu usava uma calça preta larga, daquelas de aluno de teatro. Comecei a suar bastante, enquanto acompanhava os movimentos. Depois comecei a entrar no jogo de improviso. A platéia estava lotada. Começaram a sair aos poucos, depois de um tempo. Terminou com um professor meu dizendo - isso não é teoria, estamos botando vocês para agir.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

viajar é levar vento nas mãos

viajar é levar vento nas mãos
e deixar a brisa semear dúvidas
é esconder novas nuvens no casaco
e descobrir um som colorido pela chuva

viajar é pegar nas mãos do vento

não entendo o que falas
o seu círculo, seu vulcão de fogo e brasa
não entendo seu segredo fraco
não entendo sua lava

faço casa em qualquer poeira
em todo canto tem quatro cantos
eu sempre canto por onde passo
criando um outro tipo de espaço
e de espanto

daqui até lá
é saudade

de lá até aqui
é a viagem

entre um e outro meu destino pega carona

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Viagem à Lua

olhar a lua
apenas olhar a lua
pode ser como no filme
viagem à lua
ou
voyage dans la lune
em francês tudo fica mais chique
mas a lua
mesmo que sempre
vemos diferente
se mantem igual
se queda igual
la luna misma
a lua que esta no céu agora
não é a mesma que vi
quando eu era criança
mas
a lua que está no céu agora
é a mesma
desde de sempre
desde que a lua existiu

tenho vinte e quatro anos
e poucos sonhos
resumindo
é amar e ser amado
e fazer coisas que amo
andar de bicicleta
conhecer os lugares mais inóspitos do mundo
lugares que eu nunca imaginaria conhecer
outros, queria conhecer de novo
ou melhor
desconhecer
me perder
como se perder
na poesia

"és peligroso, pero fascinante"

cabelos ruivos
cabelos negros
cabelos cheios
luas cheias
quarto minguante
o que mais importa
quando se olha a lua?

ou
o que a lua vê
quando nos olha de volta?

estaria ela vendo
seres escuros
de um planeta azul?

estaria ela com vergonha
de mostrar suas rugas
marcas do tempo e de cometas
passados
como amores fugazes
que marcam a pele cinza
de um planeta esquecido
hoje apenas satélite
hoje apenas em órbita
ao redor de um planeta azul
para seres escuros
que sonham e poesiam
com a lua
e que cantam canções românticas
para seus amores
olhando a lua

ontem eu vi o filme do Méliès
e não sabia porque precisava vê-lo
mas sinto que nele está alguma chave
para desvendar meu passado
meu futuro
e meu presente

nao sei o que é
se é a imagem colorida à mão
mudando como mágica
ou se é o sentimento
de que só através da mágica
se pode atingir a realidade
se pode chegar ao verdadeiro

será por isso
que a carol gosta tanto de desenho animado?

todos temos uma lua
para qual podemos viajar
em algum tempo da vida
a lua é um lugar escondido
no canto do quarto

depois
pode ser uma bola de futebol
que seu pai não te deu no natal

mais depois
aquela carta
daquela menina
que se perdeu
antes de entregar
e que hoje
talvez vague
poeira cósmica
na calda de estrelas cadentes
no rastro de pedidos de amor
que nunca se cumpriram
amores-poeira
vagando no espaco

mais e mais depois
a lua vai se tornando própria
um lugar escondido dentro da gente
uma bola de futebol de uma infância inventada
uma menina feita de poesia que nasce, vive e morre nos braços
e frases de um poeta
um sonambulo
sonhador

lunático

são tantas imagens
que se pode lembrar
o garoto pescando sentado na lua minguante
o foguete atingindo a lua nos olhos
o anel de lua e estrela
a estrela do numero 5

a pior imagem que vi da lua
foi numa luneta
e percebi
que o que eu mais gosto de ver
é o que não vejo

a poesia parece ser
como olhar a lua na luneta
e ir girando a lente
até nao se enxergar mais nada de nítido
quanto menos nitidez na lua
mais definidas as palavras necessárias
para indefinir o que se vê

vejo a lua
ou vejo luzes da cidade
vejo a lua
ou vejo lugares escuros
vejo a lua
ou viajo à lua
não sei se vejo ou se sou visto
se a inventei
ou se fui inventado
se viajo pra fora
ou pra dentro

na distância tão próxima
que muda marés e reorganiza eixos magnéticos
a lua, muda, viúva
observa sem luneta
um azul, um planeta
um homem numa ilha
com um segredo
um amor, uma filha
um planeta inventado
que ele escreve
por influência da lua
que observa
antiga
a nova descoberta científica
um tanto quanto perigosa

mas fascinante

há vida além da lua
alem dos buracos do meu rosto
cicatrizes cinzas
de tantos outros que vieram
e passaram

enquanto isso
na terra
uma estrela do mar
olha o céu estrelado
em uma ilha distante
levada pelo mar
um siri tropeça no seu sonho
de conhecer as três marias
e prende suas garras
numa rolha da garrafa
que se abre
molhando uma carta
que algum adolescente
deixou de enviar

a carta era um relato
em forma de poema
uma confissão noturna
de um jovem náufrago
que um dia
uma noite
olhando a lua

delirou-a