teus cabelos me curam da idéia de que sou diferente do universo
posso decompor o movimento de um beija-flor através do perfume negro dos seus cabelos
se uma gota de chuva escorrega pelo ar rarefeito e encontra abrigo nos teus cabelos
as moléculas se reorganizam em formações geométricas distintas
pequenos diamantes de vento por entre suas tranças criando prismas de luz negra
teus cabelos são rios caudalosos de terras imaginárias onde a civilização ainda não chegou
não há bússolas, mapas, cartas marítimas, nem sinais de estrelas, não há caminho
seguindo o fluxo dos fios é possível atingir perfeitamente a perdição
e mesmo que sábios do oriente, mesmo que matemáticos árabes, intentem descobrir as saídas
teus cabelos são rios infinitos em espirais de labirintos
de onde não se sai, não se entra, não se caminha, nem se pára
dez mil seres da terra podem tentar pentear os teus cabelos usando as dez mil maneiras
assim como os reis e príncipes podem oferecer toda a riqueza de seus palácios
ainda assim não haverá vento bravo que possa invadir a forma natural de seus cabelos
como não se invade o palácio de mil muralhas e dez mil soldados
para contemplar a ondulação de teus cabelos a Terra inclina levemente seu eixo
o jasmim modifica levemente sua cor, o Sol levemente se esconde atrás de uma nuvem
aquele que quiser conhecer os não-caminhos de seus cabelos
deve percorrer a leitura atenta do livro dos cabelos, escrito no tempo onde não havia tempo
escrito com a tinta negra da noite no papel amarelo do dia
escrito com a pena mais fina da fênix mais antiga, do vermelho como sangue de mil rosas em mantra
no livro dos cabelos é possível recitar as sete mil formas de imaginar seus cabelos, agradecer
e visualizar o futuro
aquele que compreender a sua essência poderá caminhar acordado dentro de sonhos
bem como libertar-se da atmosfera ilusória da própria existência terrena e sonhar de olhos abertos
na primeira página do livro dos cabelos há um desenho colorido de uma das formas de seus cabelos
para enxerga-la é preciso fechar os olhos e sacrificar uma imagem em frente a um abismo de si mesmo
caminhar nu pela floresta negra de seus cabelos e se deixar cortar pelas pontas afiadas de seus cabelos
fazer um manto negro de seus cabelos e se deixar banhar pela cascata negra de mel e perfume de seus cabelos
em cada capítulo do livro se encontra uma ponta de um fio de seus cabelos
da primeira ponta até a raiz da segunda percorre-se a circunferência de uma libélula
da segunda ponta até a raiz da terceira percorre-se a circunferência de um ipê-roxo
a partir da terceira, cada ponta de cabelo se enlaça com a seguinte, gerando uma mandala infinita
observando essa mandala do ponto de vista zenital do Uno
é possível visualizar a formação suave de uma figura moldada na capa de um livro:
um rosto de mulher
e o título
o livro do rosto
Lido o lindo poema, sentido de ficar com cabelos em pé, resistindo ao vento.
ResponderExcluirobrigado desinventora! bom vê-la por aqui!
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