sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Entrevista

Eu lembro até hoje a primeira vez que te vi

Não dei a menor bola, apesar de saber que você foi era será será de novo

a mulher das minhas vidas

Eu membro até hoje a primeira vez que te comi

Você deu-me dentre vista do passado presente futuro

Eu sendo a primeira vez que te vi

Entre vista de tudo

Deturpado

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sobre

o homem começou batendo
ossos em ossos
pedras em pedras
até se perder quebra cabeça das letras
de um papel em branco

eu comecei na poesia batendo
nas letras, em pancadas poliglotas,
digo, trogloditas
até amansar
civilizar
o pensamento
e as sinapses até as mãos

hoje a caverna é um complexo
enraizado no espaço sobre sob sub as palavras
e idéias
no espaço atrás e na frente do texto

como duas telas invisíveis
que juntas se anulam

o homem começou batendo
pé na pedra e fez futebol

talvez precisamos sempre continuar
batendo
até descobrir um novo Sol (que não aqueça nem ilumine!)

talvez precisamos
ba/nas
pal/ter
!!!/avras

embaralhar as cartas de alforrya
dos espasmos de poesia

o homem depois de bater
durante milênios
deixou tomos e átomos
de livros em pedras

- e pedras presas no ideal do livre

junto aos pergaminhos do Mar Vivo, vive:

"1.
A madrugada me escreve de estrelas

2.
O sexo é permitido/proibído se tiver nexo

3.
Não deixarás goteira do teto ao feto

4.
No sétimo dia: cria

5.
A aurora borbulha medo nos que madrugam cedo

6.
O segredo da vida é segredo (e não rima)

7.
A febre se cura com menos poesia na nuca

8.
Não matarás a liberdade com filas na janela do suicídio

9.
Respeite o azeite das palavras

10.
Tudo o que é seu: céu"

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Bastaria?

Haverá um dia ...
ao ver o ar nulo do dia
os olhos respirem debaixo do mar da vida?

Haverá um dia ...
ao ver nadar a poesia
os olhos fujam na borbulhante trilha?

Saberás, filha minha ...
a pular no nada da poesia
e nadar nas lágrimas que tu mesmo crias?

Bastará um dia ...
um dia sem poesia e vida
e sem nem dia que dirias não amar

não bastaria?

domingo, 25 de janeiro de 2009

Duas cores

eu você somos de cores diferentes
emanamos ondas de luz diferentes
em diferentes vibrações e frequências

- você gosta de ordem eu de progresso

a gente é diferente páca

você é de outra geração
outro planeta quase, ou outra época da Terra, do Brasil
não jogou videogame, não navegou na internet
(não tinha nada disso)

eu e você somos de amores diferentes
eu não ouvi Rádio Nacional, mesmo gostando tanto de música
(herdei de você, com certeza)

a gente parece duas cores

que necessariamente precisam se misturar

cor:
seja tom-sobre-tom,
tom-vinícius
céu-e-mar
mijada-da-lua-mijada-do-sol
tom-mijada
tom-sobre-sol

decor

sábado, 24 de janeiro de 2009

A Minha Irene

A primeira vez que vi Irene
achei que ela tinha ouvidos intupidos
achei também que o rosto tinha cara de mãe

Na segunda vez que vi Irene
achei que o parto deveria ter sido difícil
(os olhos eram mais novos que o resto do corpo, como se estivessem
nascido depois)

Na terceira vez não vi mais nada
a enfermeira me colocou no berço
e voltei a sonhar com cores

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cânone

Já disseram
talvez concorde
poesia é ginástica do vazio
é harmonia sem acorde
já disseram
poesia é o Brasil
Tratado de Tordesilhas
A amada, A rosa, O povo, O cotidiano, A merda
Datado de todos dias
Desde que o primeiro poeta (que necessariamente tinha 3 anos de idade)
olhou a Lua

- A Lua

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tempero

dar tempo ao tempo
dar tempo às coisas

até as coisas mais
temporais
até as chuvas mais
temporais

aprender com o dedo mindinho na água morna

o passarinho que pousou em cima do ar-condicionado

o tempo que uma gota da goteira da pia demora para atingir a panela

dar vento ao tempo
dar, vendo, venda
ver, d'ar, tempo, fenda
vento, vende, vendo

ver o tempo das coisas
o ventre das coisas

o tempero

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Arquitetura

Não saco nada de arquitetura
Mas quando passo e sinto e passa o vento
Por entre as colunas do Palácio Gustavo Capanema
Eu sinto que a tinta vale à pena.

Descarte

Não me ensinaram a catar coquinho

Tomar banho

Me ferrar

Ver se outros estão na esquina

Cagar no mato

Me danar

Enquanto isso eu penso

E longo

existo

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Risos não identificados

o riso de criança é o riso de criança em qualquer lugar
do planeta
e atinge meteoricamente o nosso
mau-humor

na superfície de sua atmosfera
se evolui o amor
células com micro-risos se espalham
e se reproduzem em velocidade recorde

nós astronautas lembramos a infância
astro-nadas, sem estrela: o céu cresceu

expandindo o universo
expandiu-se nosso medo de escuro
enxergamos pouco
do resto infinito

mas de repente
meteoricamente
esquecemos as metáforas
e o riso se espalha
contagiante e vírus
na nossa nave errante

viramos e olhamos para o semblante redondo
da Terra

A nossa casa

jardim
com flor
bonita

você na
varanda
flor no
cabelo

chão com formiga
farelo
doces

filho
bola
riso
choro

mesa com livros
para escrever
ler dormir

você é bonita
na janela
passarinho

o garoto cresce
rápido

maior que
o pai

comeu peixe arroz banana e
bebeu suco

você deita
na cama
teto pintado
cor

beijo amor corpo gozo
dormir junto
sonho

sol no teu rosto

Posse

o relógio também espera
olhando por entre a multidão
os ponteiros querem ser bússola
querem olhar as estrelas (ou a única)
ele também espera, de ter esperança,
que o seu mecanismo, hoje, possa
tomar partido na posse,
andar com segurança e em sentido horário,
e em cada marcação refletir o tempo
presente

as bandeirinhas também esperam
olhando por cima da multidão
as cores querem ganhar os ares
colorindo o incolor do céu de frio em calor
e enrubrescendo os rostos
querem se entregar aos bons ventos
não como bandeiras, mas asas
pulsando nos ares em bando, do céu distribuindo
presentes

e no centro das atenções
a palavra, mais que a imagem?
quer ser feita relógio e bandeirinha
quer ser de vento morno
quer entregar doces e levantar caídos
a palavra não quer mais ferir
não quer esconder murmúrios de dor
a palavra quer o seu destino na História
presente

e lentamente, abraçando a todos com seu hálito
toma posse dos nossos sentidos, ainda inebriados,
deixando nos sorrisos fragmentos de perguntas
filosóficas

e ainda viva, a palavra percorre os cantos do mundo
abraçando outras palavras de crítica
como uma família de palavras que se encontra depois da
guerra

uma conversa
calçada
palavras ou não

só precisa a presença

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Confusão

A letra do teu nome
é a mesma forma da lua minguante
isso me confunde bastante
como um animal dentro de mim
que eu não dome
como um não dentro do sim
que você sempre me oferece em pílulas
de subtexto

O teu nome completo
eu leio no formato do teu corpo
mas isso continua me confundindo
como um mapa torto
a sinuosidade me perde
sou um cego

Ao escrever teu sonho
as palavras me fogem
como um animal dentro de mim
e sem coragem, nego

eu continuo confuso
com teu sorrisolhar obtuso
um fenômeno ainda não estudado

Por ser palavra, inicia
na memória lavra, busca
por buscar ainda palavra, cria
uma memória coletiva, brusca
de eu e você, palavra companhia

e eu continuo confuso.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Abafado bastante (o tempo) está

um mormaço
não sou de aço
mas esquento pra burro
se eu pudesse
ligar pra Deus
e pedir pra que ele
ligasse o ar-condicionado
seria bom demais
esse calor tá de derreter sorvete
mole mole
imagina derreter minha cabeça
de poeta

Fotossíntese

A folha da árvore está virada para o Sol.
Ela está rezando.
Ou ouvindo uma boa história.

Philme Mudo

Scena Hum - Pharmácia Central

Anthero Domingas, o phamozo prepheito da cidade
está a sofrer doloroza cephaléia. Argumenta
com o vendedor sobre medicamentos prophiláticos.

Scena Doz - Digníssima Residência

O Mordomo entrega o recipiente d'água, cujo
estardalhasso al cair acaba por maximizar
as dores do prepheito.

Scena Trez - Casório

Ewiges de Almeida, filha mossa de sr. prepheito está
a esposar-se com Hepaminondas Mello, o filho varao
mais intranzigente de Hermínio Cezar Mello, o
industrial em desavenças com o prepheito.

Scena Cuatro - Balbúldias

O Prepheito insulta Hepaminondas, chingando-o de
nomes exdrúxulos. O dito cujo reclama a desonra.
Tortas avoam.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Casa da vó

O chão de madeira
O cheiro de feijão
Suco de cajú
A vitrola
Armário imbutido
Televisão aberta

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A frase ficou...

A tua frase ficou soando na minha cabeça
Fez cosquinha no meu nariz
Plantou pequenas travessuras na hora de dormir

A frase ficou lá, soando na minha cabeça-oca
Dentro da minha oca, onde faço farinha de palavras
que você sempre me diz
e quando eu sonhei de filmes histórias non-sense
a frase colada nas paredes do sonho
eu tateava o raso do mar do sonho
com a tua frase voando com asas deixando trilhinhas de vento
em marolas
em maria-moles...mamolengos...malediscências...mallarmè...

a frase...ficou...soando...
e
o raso do mar do sonho agora não dava pé

Almoço no Escritório

O chefe já saiu para almoço
O pensamento preso diante da janela do
é difícil
conhecer os Estados, os pré-princípios
das leis, da lei que rege a orquestra dos carros
edifícios claros e cinzas
na rua central do centro diagonal d’água com cheiro
de asfalto molhado
o pensamento preso diante da janela do
cérebro

Mas na verdade ele é solto
e corre por cima da cidade olhando as pessoas
mas na verdade ele é louco
e pula a janela do difícil e pula a paisagem de
Google maps e pula a passagem de metrô
as ortografias das ruas e as meninas
ele é um pulador
burlador de leis que regem a orquestra dos karmas
pichador dos viadutos
com mensagens poesia verde e roxa

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Enquanto cago

enquanto cago, escrevo poesia num caderninho

ou melhor: enquanto cago poesia, escrevo com o barro
no azulejo submerso uma mensagem submarina em código
Morte

putrefato
artefato
artesanato do barro mais meu

do barro que também é de Deus

enquanto cago
me torno um Criador.

Email

olhei no email a sua despedida final
e novamente concluí a indiferença
das palavras virtuais, da própria virtualidade

olhei no email a sua despedida final
foi para a Europa, levando meu filho
irônico destino, lembrando aquele verão
seu rosto era mais jovem antes do acidente
mas desde aquela época você mentia
dizia querer rodar o mundo apenas
e eu embarquei numa viagem sem volta
na verdade sem ida, meu coração era vento

depois de ler novamente o email
deletei-o como quem apaga o próprio passado
mesmo a memória sendo feita de vida latente
que ainda pulsava incessantemente na minha retina
daqui do alto desse edifício a cidade é uma maquete
acho que quero voar, diferente daquela vez que recusei
nas nossas férias de julho

voar não pode ser brincadeira, eu acredito
entre todos os eufemismos eu escolho o efêmero
vou me jogar daqui, acho que vou
é teatral demais para uma poesia, mas vou
apesar de não ser tanto uma poesia, mas vôo
e de repente num passo em falso o vão se faz chão
flutuando sobre o ar o corpo humano cresce
alonga-se pela concretude dos gazes e vai minguando sua Lua
enquanto flashes do email alteravam a fisionomia das coisas

minha cabeça girava ou era a rotação terrestre?
o contato com o asfalto se deu de súbito
e o escuro também rapidamente se desfez em papel
as páginas caindo dos olhos, a sensação de retorno
o eterno retorno dos Heróis consumia a poesia
o papel de luz e dígitos camuflados brilhava
era a tela do computador, interlocutor do esporte-vida

contando baixinho o placar do novo jogo do amor
1 X 0 para mim mesmo
o email, sua despedida final, já nem é sua
o que se escreveu foi uma história nula
a transformação veio antes na realidade que na imaginação

como toda história deve surpreender
reescrevendo a memória que não me era
encontrei a resposta para o que nunca perguntei

naquele teu email, que não era teu, que meu talvez fosse
num momento os mitos estão no pão e na faca:

histórias em pedaços de elétrons.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Heranças

Da música herdei essa mania
de subir escalas e calar a harmonia
da poesia só herdei a vida
de escalar palavras e colar harmonias

você sabe que é minha tônica
a altura que subordina
onde atua mais forte a gravidade
as notas ou maças que a poesia imagina

você também sabe acordes
afinar cordas que delimitam a saída
modulando emoções em verdades fingidas
em mentiras em tiras, compassos irregulares (do coração)

de você eu herdei essa mania
de querer voar num céu de cacofonia
da poesia só herdei a rima,
o seu querer voar de poesia

da poesia só herdei melodias antigas

que minha vó cantava pra mim.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Clube da Esquina

Não faz muito tempo
ouvi o Clube da Esquina
eu lembro bem do momento
exato do barulho da agulha
numa renda de poeira
que tinha em cima

E uma teia bonita
mais que bonita de beleza ainda
uma teia de renda que não tinha renda
ainda, uma tenda divina, de vinil e ao mesmo tempo
vazia, cheia de vida
ainda não vivida

O Clube da Esquina me ensinou a ser vivo
me ensinou o que não se ensina
me vivificou a minha sina
levantou a saia da vida
e observou-a, vívida, vitrine
vulva

Deixei de ser virgem com o Clube da Esquina
ouvindo nas tardes
vendo o disco rodar
vendo eu mesmo rodar
um radar procurando Deus
um amar decifrando breus
nas tardes claras de Sol bonito
que nem Sol é ainda, nem noite, nem dia

Ainda choro

Dia quente

Hoje até o Sol se escondeu na sombra

domingo, 11 de janeiro de 2009

Vão

"Observe atentamente o espaço entre o trem e a plataforma."

Observe atentamente o espaço entre o trem e a plataforma.

Observe atentamente o espaço entre o que vem e o que vai embora.
Observe atentamente o espaço entre o trem de dentro e o trem de fora.
Observe atentamente o espaço entre o sem e o que tem de sobra.
Observe atentamente o espaço entre o zen e o que a cidade torna.
Observe atentamente o espaço entre a poesia e o chão.
Observe atentamente
o espaço entre
o espaço entre
o espaço entre

Observe atentamente
o observe atentamente
atento
espaço

vão

sábado, 10 de janeiro de 2009

Rolo Compressor

eu não quero ser um rolo compressor,
um império,
destruindo e subjulgando as línguas com meu poder
e minha força bélica,
e arrancando raízes e devastando terras.

eu não quero elevar muros em fronteiras, aplicar multas em
dias quentes,
obrigar o Sol de levantar-se daquele lado do horizonte.

também não quero eu ensinar o padre a rezar a missa,
catequizar o índio, prender o passarinho na gaiola,
jogar fora a vitrola.

mas principalmente:
eu não quero o óbvio, a fila de espera em linha reta,
a fala certa, a seta e a meta, o desrespeito ao Totem brasileiro,
a proibição do dizer verdeiro, a sala de espera, a sala de espera,
a espera.

o rolo compressor ainda está ali, no meio da rua, olhando com sorriso,
comendo asfalto, gritando palavras de ordem.

o rolo compressor ainda lembra do dia em que foi para escola,
da cola, do osso.

o rolo compressor não é o sistema,
não cai, não diz o que vale a pena, não pensa, não sai.

o tolo compressor,

o tolo com pressa.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Cansaço

dentro do teu abraço-agasalho
me protejo do Sol, forte pra caralho
que derrete as almas penadas do centro da cidade
a camisa social deixa pizzas
os carros avançam as pistas
deixando saudade de outros tempos de mocidade
me protejo do nó
com um não vindo do bocejo
na palma do pé o desejo

de pisar grama, areia, mar

algo assim

Burocra(poe)cia

Faltava um documento
e o processo de alguém
caiu no esquecimento

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Para aquela atendente da junta militar

(para os jovens de 18 anos da Zona Sul do Rio de Janeiro)



cheguei querendo uma informação.
estava preocupado com a minha situação.
relativa ao estágio.

você, com sua doçura de um canhão.
gritou: vai pra fila! - como quem cospe no chão.
e me veio o mau-presságio.

vi você se transformando e ouvi trovão.
um ser das cavernas, com um porrete na mão.
subervertendo Darwin.

me revoltei, mas pensei, coitada, é a educação.
que nesse país se faz menos pelo leitor mais pela eleição.
que vergonha, que coisa ruim.

a fila tava uma bagunça, sem senha, só a multidão.
tivemos que organizar nós mesmos, na base da discussão.
confiando na hora que cada um disse chegar.

o que era um simples documento, virou tortura ilusão.
graças a você, seu jeito troglodita, rindo ao dizer não.
um dia você vai ser legal, atendente da junta militar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A Phorma

Ao contrário do maior poeta,

Sym, sym quero tudo.

Já disse que quero tudo.

Sou tudo, sempre serei tudo

numa syna de soturno:

Sou tudo. Sou todo ouvidos e olhos.

Sortudo. Por conhecer a poesia dos seus olhos.

Já disse e não direi mais: o disseste nunca mais.

My venham com conclusões que eu virei com colhões.

Sim, as ciências são pura alquimia perto do que my fazia ser feliz.

Sem saber. Sem abc. Da poesia que quero tudo.

My entrego numa rua pra depois ser um trago de leitora nua. Depois.

Deposithoras e desposithores, desposo horrores num papel de phlora.

De phora para dentro, num ritual meio sedendo, bebendo, a tua voz que chora.

Sou todas as phormas e normas que phortes ou nortes my escapam,

propondo processos projetos de casas phortes my escapam,

desperto disperso diz: pressa numa tarde,

desrespeito meu próprio medo, em favor de um segredo, que gela, que arde.

Esse é meu depheito: ser tudo.

Ser a antítese, o antygo título, a vertigem tímida, a caligraphia, a antí-matéria viva
da poesia quântica, a quase-tirana vida, num tigre de pedra e ferrugem: antes.

Esse é meu mais maior de direito, mais melhor dos pheitos, mais mais-valia, mais ali que a saliva,
mais mistério metido em myseros versos: ti dizer a verdade em phorma de saudade.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Poetiza

Não sou dessas meninas
que tecem lindas rimas
com lapiseiras caras (japonesas)

All-star e cachecol
aquela brancura de sem-sol
bordando suas loucas taras

Não estudo na Alliance (Française)
nem falo sobre cinema, Scorcese,
nem tenho camisa com Ches Guevaras

Falseando sexos, escondidas
falando de paixões perdidas
na verdade tão raras

Sou apenas uma menina
que faz juz a sua sina
de cobrir o mundo com palavras

Arrisco sempre muito
amo, sofro, insulto,
revelo-me livre de caras (que em mentiras erotizas)

Sou apenas uma menina
que faz do pús e da lágrima
o pão e a rima de cada poesia (sou apenas poetiza)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

amoranimal

acho que achei teu segredo
ali, escondidinho naquele sinalzinho do teu pescoço
teu ponto fraco
teu ponto morto
quando eu te dou um beijinho ali o bicho solta
o galo mantra
o leite: moça

teu segredinho é sakana
(pra quem não sabe é peixe em japonês, ou pode ser também uma comida que acompanha uma bebida alcoólica)

essa cara de santa não engana
não esgana nem uma galinha
esse rosto de morena esse gosto de goiaba

não abre o sorriso se não eu te mordo

domingo, 4 de janeiro de 2009

Marcação

eu Quiz marcar teu corpo
com a impressão digital
com a identidade falsa
com a jura de amor
com os juros do cartão
com o perdigoto de falar
com a vida
com a vida

eu Quiz rasgar o teu corpo
tornar a tua carne tua e minha

não deixar você marcar o gol

sábado, 3 de janeiro de 2009

Reza para Guilherme Mandaro

"...na calçada um lenço vermelho nega o cimento."

Guilherme Mandaro



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Na calçada, descalço, o cimento nega o silêncio
de tanto tontura sem teu poeta marginal
sentado na margem, no meio-fio, atento
sem deixar cair nenhuma página dos olhos
Deus abençoe, Mandaro, onde quer que estejas

a morte ainda está sobre a mesa
e tem sobremesa

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

abismo

amor
é se jogar no abismo
mais ou menos sabendo
que não tem abismo

Rimas de desintoxicação

ainda com as vibrações da mata
dos lugares que toquei que vivi
descarrego nessa tela que me mata
com a toxidade das letras que escrevi

no planeta da poesia me abasteço
de noite tardo de dia aqueço
o grande óvni feito de palavras
a grande nave-mãe de mágoas

numa ânsia de sofrer o tempo
bordoada de vida na cara
pajelânça de europeu gemendo
feijoada de escargot bem cara

essa poesia vai voar pelas cabeças
vai bater na mente dos loucos
vai fazer sonhar em plenas terças
vai libertar o desejo de ser, ter pouco

uma luta diária contra a mediocridade
nos braços a juventude nos pés a saudade
de ser criança, ser inocente, indecenteidade
quem me dera ser poeta, quem me dera ter idade

a censura desses tempos amplos
a mesura desses templos antros
só me deixa ainda mais raivoso
são milênios de revolta adolescente num poema uivoso, idoso

nas ruínas da sociedade componho música
feita dos barulhos do apocalipse
o que é o poeta senão o eclipse
sempre a ocultar o lado negro da lua

nos jornais o retrato bizzaro de nossa ignorância
no telejornais a violência na esquina dança
nos livros os best-sellers servem de travesseiro
na travessa da lucidez um poeta declama grosseiro:

jogais fora os mapas antigos que a nada conduzem!
jogais agora o jogo da vida que as propagandas reduzem!
jogais o corpo ao vento, dais o amor em cada momento,
em forma de poesia pura!

me agarro nos poetas porque é deles o coração do mundo
e de seu sangue beberei, pulsante e profundo
das profundezas da superfície mais prosaica: sonhar
das estranhezas tão queridas do que está na nossa frente: sonhar
o sonho incessante de amar o que é vivo
o amor onírico de saborear os teus livros
a doçura de deixar livre os ouvidos
para a palavra permanecer em seu estado de criação
em seu estado de puro coração

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Caderno de viagem (27/12/08 - 01/01/09) - parte III


meu amor por você não se explica
não se divide, compara, classifica
ela vai apenas existindo
como se estivesse lá, desde sempre

carrega dentro dele os sentimentos que conheço
que a vida ensinou a seu preço
também carrega o que nunca ví
embrulhado com as fitas elásticas da imaginação

quando olhei nos teus olhos, primeira vez
te disse: como são grandes! vêem tudo!
e não é que eu estava certo, você sonda
a casa a roupa a alma o olhar

o nosso amor não se explica, se complica
dentro das armadilhas da minha juventude
às vezes se perde, mais tarde se acha
pergunta sempre as mesmas perguntas

esse nosso amor vence distâncias
deixa na saudade uma ânsia de se ver
traz um calor animal, quase humano
às vezes põe tudo a perder

esse amor tem dor também
dor boa e dor ruim
as marcas de um começo errante
os erros de marcar a certeza de um fim

é uma espécie de amor-tudo
tenta conjugar todas as coisas da vida
quando quer ser culto lê trechos banais
de poetas, lê rimas

é um amor inventado
mas tão bem que a gente acredita
como um show, um filme, um teatro
termina em aberto

até porque não termina


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você deitada na natureza
uma beleza natural
deixando os pés na correnteza
tenho certeza que o sonho é real

simula os montes
horizontes longes
longevidade do amor
paisagem nua do amor
o Sol e a Lua
de carona na paixão

você deitada na beleza
natureza surreal
deixando os pés na certeza
correnteza de que o sonho é natural


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Uma forma de chorar



Vinícius era um copo
cheio de emoção
transbordando

sua poesia também era esse
transbordar

todo poeta tem um pouco isso
a poesia não deixa de ser

uma forma de chorar


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Despedida



o que ficou
no final
foi o que sou


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é tudo pura saudade
é tudo saudade crua
é tudo mudo na estrada
paisagem feita de curva
é tudo tão de passagem
é tudo saudade pura
é quase um véu de grinalda
malvada saudade sua

parece um poste da estrada
parece um corpo na rua
é tudo feito poeira
na esteira verde e madura
parece chuva pingando
parece pinga quentura
é tudo cinza na estrada
malvada saudade tua


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era apenas uma daquelas
perguntas sem resposta
mas deixou sequelas
a cama feita, a mesa posta

era uma miragem
um certo oásis no deserto
um amor de passagem
o crescer da distância tão certo

era uma menina séria
sorriso-disfarce de moça
humor variante, esotérica
sonhando lavando a louça

era uma bela e uma fera
as duas coisas sempre juntas
mordia a nuca, chorava à espera
na cama, puta, na rua, "nuncas"

era apenas uma mulher
dessas tantas outras que não existem
era de Atenas, Freud, Voltaire
era Picasso, Ford e Einstein

era uma dona de casa
dona dos breves mistérios
era uma Faixa de Gaza
destruidora de impérios

era uma daquelas
perguntas sem resposta
só deixou uma sequela
teu amor na poesia exposta


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sobrenome de flor
na mochila um pavor
de se apaixonar

sobrenome de flor
na virília um calor
de se apaixonar

sobrenome de flor
vergoínha, pudor
de se apaixonar

sobrenome de flor
vive agora o amor
de se apaixonar


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A Lú olha a Lua
a Lua olha ela
A Lua e a Lú são belas

Caderno de viagem (27/12/08 - 01/01/09) - parte II



ainda buscamos a rima
mesmo em tempos pós-modernos
já esquecemos do que Chaplin ensina
no calor agora usamos ternos

ainda buscamos a trilha
dos eternos jovens eternos
já nos perdemos na ilha
onde o mar é lava dos 7 infernos

quero gritar e não posso
tamparam os ouvidos do povo
o poeta não é meu, nem nosso
e cada um finge que é o novo

está chegada a hora de quebrar
o ponteiro das horas
matar o cordeiro do tempo
num banquete literário
deglutir o horário

caos/cosmos

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ela acordou feliz
pegou a toalha e colocou na varanda
o Sol entrou no quarto
ela sorriu
o calor do sorriso e do Sol
entraram na minha pele
eu acordei feliz

------------------------------------

os butijões de gás
me encaram
a motocicleta passa
me motorizo
a poesia vira bússola
propondo caminhos e trilhas
o motor é a poesia
consumindo o cotidiano
quando digo que te amo
a fagulha do amor
me chama

---------------------------------

um amigo me contou
que a experiência é uma coisa
que chega quando já é inútil tê-la

uma música diz
que o importante da vida é a travessia

a rima às vezes está na não-rima
pude perceber isso várias vezes
a gente não deve temer
a beleza que não se vê
o ser que vive precisa ser poeta
ou ator, dá no mesmo
as angústias são as mesmas sempre:
o medo de amar

o amor é um espelho
que quando existe realmente
entre dois, frente a frente
vira um infinito

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sonhar não deixa de ser
brincar de cinema
por mais que possa parecer
a vida é um filme sem tema

plano de Deus ou plano em close
a técnica ainda não é tudo
um misto de lucidez e esclerose
um filme moderno em um filme mudo

a diferença entre o sonho e cinema
é tão óbvia quanto pequena:
a luz do sonho é de olhos fechados
a escuridão do cinema é de olhos abertos

Caderno de viagem (27/12/08 - 01/01/09) - parte I


Nos beijamos no meio da ponte
divisa entre Rio e Minas
foi um beijo meio malandro
foi um beijo Clube da Esquina

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minha namoradinha está gripadinha
tadinha
nariz ficou vermilhinho do Sol da montanha
ela é minha

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uma suspensão do tempo
num feriado de ano-novo
o passado ainda é novo
e o futuro continua o mesmo
subindo pela trilha até chegar
na cachoeira

não é besteira
as coisas realmente passam mais devagar
pois a atenção é menos depressa
pelas luzes da cidade, barulhos, anúncios

aqui dá pra prestar atenção
na natureza
seu ciclo
seu eterno movimento
até o clima é suspenso no tempo
é ambíguo, Sol e Chuva

o único padrão é Deus

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o calor do teu sexo ainda está no meu
e uma poesia sem nexo veio no meu papel
o teu corpo vadio, teu sorriso cor de mel
já perdeu os limites, não sei o que é seu

nesse quarto tem janela que dá pro rio
barulho de cigarra e barulho de rio
baralho na mochila e casaco de frio
as botas sujas em frente a porta

teu amor me adormesse e me entusiasma
ainda não tive crise de asma
apesar do frio o calor do teu corpo me
mantém vivo, sou o agora