quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Caderno de viagem (27/12/08 - 01/01/09) - parte III
meu amor por você não se explica
não se divide, compara, classifica
ela vai apenas existindo
como se estivesse lá, desde sempre
carrega dentro dele os sentimentos que conheço
que a vida ensinou a seu preço
também carrega o que nunca ví
embrulhado com as fitas elásticas da imaginação
quando olhei nos teus olhos, primeira vez
te disse: como são grandes! vêem tudo!
e não é que eu estava certo, você sonda
a casa a roupa a alma o olhar
o nosso amor não se explica, se complica
dentro das armadilhas da minha juventude
às vezes se perde, mais tarde se acha
pergunta sempre as mesmas perguntas
esse nosso amor vence distâncias
deixa na saudade uma ânsia de se ver
traz um calor animal, quase humano
às vezes põe tudo a perder
esse amor tem dor também
dor boa e dor ruim
as marcas de um começo errante
os erros de marcar a certeza de um fim
é uma espécie de amor-tudo
tenta conjugar todas as coisas da vida
quando quer ser culto lê trechos banais
de poetas, lê rimas
é um amor inventado
mas tão bem que a gente acredita
como um show, um filme, um teatro
termina em aberto
até porque não termina
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você deitada na natureza
uma beleza natural
deixando os pés na correnteza
tenho certeza que o sonho é real
simula os montes
horizontes longes
longevidade do amor
paisagem nua do amor
o Sol e a Lua
de carona na paixão
você deitada na beleza
natureza surreal
deixando os pés na certeza
correnteza de que o sonho é natural
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Uma forma de chorar
Vinícius era um copo
cheio de emoção
transbordando
sua poesia também era esse
transbordar
todo poeta tem um pouco isso
a poesia não deixa de ser
uma forma de chorar
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Despedida
o que ficou
no final
foi o que sou
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é tudo pura saudade
é tudo saudade crua
é tudo mudo na estrada
paisagem feita de curva
é tudo tão de passagem
é tudo saudade pura
é quase um véu de grinalda
malvada saudade sua
parece um poste da estrada
parece um corpo na rua
é tudo feito poeira
na esteira verde e madura
parece chuva pingando
parece pinga quentura
é tudo cinza na estrada
malvada saudade tua
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era apenas uma daquelas
perguntas sem resposta
mas deixou sequelas
a cama feita, a mesa posta
era uma miragem
um certo oásis no deserto
um amor de passagem
o crescer da distância tão certo
era uma menina séria
sorriso-disfarce de moça
humor variante, esotérica
sonhando lavando a louça
era uma bela e uma fera
as duas coisas sempre juntas
mordia a nuca, chorava à espera
na cama, puta, na rua, "nuncas"
era apenas uma mulher
dessas tantas outras que não existem
era de Atenas, Freud, Voltaire
era Picasso, Ford e Einstein
era uma dona de casa
dona dos breves mistérios
era uma Faixa de Gaza
destruidora de impérios
era uma daquelas
perguntas sem resposta
só deixou uma sequela
teu amor na poesia exposta
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sobrenome de flor
na mochila um pavor
de se apaixonar
sobrenome de flor
na virília um calor
de se apaixonar
sobrenome de flor
vergoínha, pudor
de se apaixonar
sobrenome de flor
vive agora o amor
de se apaixonar
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A Lú olha a Lua
a Lua olha ela
A Lua e a Lú são belas
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