Através de debates em sala muito interessantes, e leituras de trechos dos livros de Stanislavski, começamos a estudar a direção de atores, suas especificidades e importância num trabalho audiovisual, seja ele ficcional ou documental.
Apreciei a abordagem que mesclava conceitos das artes e da fotografia. Ajudou na melhor compreensão dos modos de representação, pois associamos com noções já estudadas: Barroco, Clássico e Moderno.
Stanislavski e seu “sistema”, podem ser considerados os grandes expoentes do teatro realista, clássico, bem como a escola de atuação em cinema derivada desse sistema: o Actor’s Studio nos EUA.
O “sistema” de Stanislavski, importante frisar, não era nem é para ser interpretado como A verdade, O método, rígido, inflexível. O russo sempre fez questão de afirmar o caráter de ferramenta maleável de seu sistema, que deveria ser adaptado para as necessidades de cada ator. Um guia seguro, sujeito à transfomações, para o auto-conhecimento das possibilidades do ator. Um processo que deve fornecer bases para o estudo da interpretação.
Debatemos em sala alguns conceitos chave:
- Para uma caracterização física
- Vestir a personagem
- Personagens e tipos
- Tornar expressivo o corpo
- Unidades e objetivos
- Superobjetivo
Para uma caracterização física
Quais as ferramentas de trabalho do ator?
Seu corpo, sua voz, suas expressões, seu jeito de andar, de falar...enfim, toda sua fisicalidade.
Como potencializá-las?
O ator deve conhecer seu corpo, ter o domínio de suas possibilidades e buscar expandí-las sempre.
Stanislavski nos chama a atenção para a importância do trabalho físico do ator, a caracterização física do personagem. Cada ator deve desenvolver uma caracterização exterior utilizando, seja sua vivência real, ou a imaginação, conforme a sua intuição, e observando a si mesmo e os outros.
Vestir a personagem
Contando-nos sobre uma “mascarada”, onde todos os atores de sua companhia se caracterizavam com figurino e maquiagem, Stanislavski demonstra como conseguiu encontrar em modo eficaz de entender o personagem e dar corpo e voz a ele: “Dividi-me, por assim dizer, em duas personalidades, uma permanecia ator, outra era um observador.”
Interessante essa via de mão dupla para se entender um personagem. O estudo parte de um processo interior, do entendimento do texto, e ao mesmo tempo, ao vestir o personagem, fisicamente, a criatividade e a intuição trabalhadas corroboram para uma melhor caracterização. O exterior moldando o interior.
Personagens e tipos
Podemos observar nas novelas de TV algo que Stanislavski já analisava. Com reduzido tempo de preparação, e muitas cenas para gravar, os atores geralmente se utilizam dos recursos próprios mais fáceis, muitas vezes alterando o persongem para se adptar ao “encanto pessoal”.
Para entender os tipos de personagem, é útil pensar em graduações, níveis de representação, para achar os que melhor se adequem ao personagem, evitando exageros, ou inverossimilhanças. Um trabalho realmente de desconstrução do corpo e voz do ator, para que ele domine e molde o personagem, buscando dimunuir a influência de suas características pessoais (do ator).
Tornar expressivo o corpo
Stanislavksi valorizava bastante o trabalho de corpo do ator, seja com a dança, exercícios, percebendo a necessidade básica da atuação: tornar expressivo o corpo.
Unidade, Objetivos e Superobjetivo
A obra (teatro/cinema/tv) pode ser dividida em diversas unidades, para o melhor compreendimento do ator.
O personagem tem um objetivo principal. Algo o move, o faz agir (mesmo em filmes do Antonioni – mas estamos falando de atuação clássica e filmes clássicos, inicialmente) consciente e inconscientemente. Tem um Superobjetivo que o guia em todo o filme. Mas, até alcançá-lo, ou não, ele passa por vários objetivos menores.
“O objetivo é que lhe dá confiança (ao ator) em seu direito de entrar em cena e lá permanecer.”
Como exemplo, falamos em sala sobre um personagem que tem como objetivo sair da UFF e ir para casa. Podemos dividir, ou seja, decupar (num raciocínio realmente análogo à montagem) as ações: o personagem levanta da cadeira, abre a porta, sai do portão da UFF, anda na rua. Sem se desligar de seu objetivo maior: chegar em casa.
Chegamos a brincar que se ele estivesse, ao invés de indo para casa, indo para a aula de manhã na UFF, sua atuação seria completamente diferente, pois seu objetivo era outro.
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