quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Emails para Natasha - Parte II

dia 12. estou indo embora daqui. aquela sua resposta trouxe uma nova vontade de rever Minas Gerais. eu sei que parece estúpido, mas é a única maneira. estou devendo até o pão na padaria da esquina aqui da rua. você sabe que eu sempre fui assim com o dinheiro. tem gente que liga pra marcas, roupas, jóias, carros, e você sabe que eu to pouco me fudendo pra isso. gasto mesmo é com comida e livros. gasto sem pensar. acabo gastando mais do que tenho. gostei do que você disse, eu também demorei para entender que desde quando nos conhecemos na época da escola, não conseguimos dizer o que realmente sentíamos. ainda guardo algumas fotos daqueles tempos, e toda vez que as vejo vem um cheiro de acne, suor, que deveria ser nojento, mas pelo contrário, me faz bem como cheiro de terra molhada.
há essa hora, você provavelmente deve estar dormindo, e quando acordar eu já vou estar no caminho para Minas, com vento na cara, escutando Clube da Esquina no mp3, dormindo, acordando, babando, olhando as vacas, as fachadas com grafia errada, os esfarrapados em pequenas bicicletas, os vendedores de mel, e tudo aquilo que a gente viu naquela viagem da escola. Foi bom saber que você está bem, que está tudo certo ai com o Roberto. Eu to aprendendo a gostar desse cara, de início eu o odiava. Mande notícias sempre, ein? Se esse babaca fizer alguma coisa...
Como prometi, comprei um caderninho para escrever durante a viagem. Ah, pode deixar que eu vou procurar esse tal de César. É só dizer que sou seu amigo, não é?
To com um frio na barriga, mas não é de medo, cagaço, apesar de parecer. Às vezes eu sinto isso antes de entrar no palco. É como se a barriga estivesse comendo ela mesma, se corroendo. Não consigo dormir. Só de pensar nas coisas por vir, nas paisagens da janela, na concretização dos nossos ingênuos sonhos de criança, dá uma vontade de escrever e aqui estou, com saudade de tudo, da gente, da escola, e até do que acabo de escrever, sinto tanta saudade da vida e dos segundos que passam que até sinto saudade dessa frase, não consigo terminá-la, preciso escrever, preciso, a vida é muito bonita para a gente dormir, amanhã espero a sua resposta e as coisas que ainda vão acontecer.

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