quarta-feira, 31 de março de 2010

Poema retirado de uma notícia do jornal nacional

acabei de ver no jornal nacional que os cientistas estão estudando os passarinhos e fazendo descobertas incríveis sobre a relação do canto e genes do DNA.

grande merda!

o meu bisavô-de-poesia
Manoel de Barros

já será pré-doutorado em pássaros.

os sabiás querem sonhar ele.

até preferem ele para entregar o azul.

já o preparam para árvore. (cientificamente falando: bosteiam e ninham ele)

e os cientistas o denominam
bocó.

eu o desdenomino
poeta.

se pois bem dá que no mesmo.

segunda-feira, 29 de março de 2010

heresias

o cristo apagou o dia com a bunda.

pronto. inventei essa frase, e me diverti.

vó falou que era heresia.

eu achei que era

poesia mesmo.

sábado, 27 de março de 2010

vendinha

na quinta série eu comecei a vender coisas.
criei uma vendinha de venda e aluguel.
tinha de tudo, cds, revistas, brinquedos...

quase ninguém comprava.
mas o pedro pereira, um garoto muito sacaneado lá,
comprava e alugava tudo.

eu fazia uns 20 reais por semana.

até que a coordenadora mandou me chamar na sala dela.

disse que era proibido fazer comércio na escola.

acho que eu tinha futuro.

quarta-feira, 24 de março de 2010

cheiro de mulher

ela tinha cheiro de pipoca doce
ou melhor
de algodão doce

as patricinhas tem cheiro suave
as medianas tem cheiro mediano
as mais pobres
tem que ter cheiro mais forte

pode ser uma flor
fruta, planta
maresia
doce

depende

sexta-feira, 19 de março de 2010

A História de Nana

o segredo dela era passear pelas manhãs como quem vai comprar um pão na padaria.
e só com isso em mente, ela desafiava as leis da gravidade.
pulava cocôs de cachorro com a plasticidade de um Nijinski.
quebrava o pescoço dos pedestres.
e ela nem tinha um poodle.

encontrou um bebê num lixo.
lavou-o com sabão de coco.
colocou numa prateleira.
e vendeu.

já senhora, lembrou de quando dançava na festa junina
vestida de marinhachiquinha
com sardas de mentira
de braços dados com um menino
que ela não lembrava o nome.

depois se casou e teve 4 filhos.
só 2 vingaram.
era pra lá de Getúlio Vargas.

as cartas de amor e poemas foram queimados
no dia em que flagrou o marido com a secretária.
recortou o corpo dele das fotografias
e comprou um poodle.

depois, saiu pelas ruas da capital
distribuindo beijos e bolinadas boas.
ela tinha uma bunda boa.

ainda bebê
só queria o peito da mãe, mamou até os 4 anos.
dormia com o dedo na boca
até morrer.

um dia ela sonhou que estava indo comprar pão
e todo mundo da cidade parecia que estava num filme
musical, dançando
como um balé de Nijinski.

no ato final, ela terminava seu número
abrindo os braços
e desaparecendo.

domingo, 7 de março de 2010

certa manhã, quando Caio acordou de uma noite mal-dormida, viu-se transformado em um bebê de 1 ano de idade.

sexta-feira, 5 de março de 2010

o menino

naquele tempo de mandar papelzinho de bala ice-kiss
e escrever recados num pedaço de caderno
você sorria

jogava paredão

se escondia nas pilastras

se jogava no chão e
chegava com o uniforme todo sujo de chão

no pátio da goiabeira
falar besteira
lutar kung-fu com flauta-doce
e apertar as bundas das meninas

pedia um xis do zé
que alguém até um dia encontrou uma piaçava de vassoura

dançava o claudinho e buchecha fazendo elefantinho com os braços pulando
como um doido

dançava música lenta nas festinhas
com o rosto colado
mas vergonha de beijar

escrevia poesias metafísicas de alto-nível
e teorias revolucionárias para mudar o mundo
enquanto algum professor
explicava a teoria de báscara

tocava a música do titanic no teclado
para impressionar as meninas
que gostavam do leonardo dicaprio

aliás, no bate-papo da uol
todos os meninos eram Jack
e as meninas Rose

mas ninguém sabia o que era cu