segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

lá fora o sol está tão forte que até acho que é o sol
(e não o que eu acho que é o sol)

as árvores com suas folhas de verdes de diferentes cores
parecem explodir de tanto verde

pingam gotas do ar-condicionado do vizinho de cima
na beira da minha janela
(ou seria da beira da minha visão?)

o tempo está abafado
uma estufa de cidade

a cidade quase não respira
está de boca aberta na paisagem

seria interessante notar que essas ilusões
me enclausuram no calor de segunda-feira
mesmo que o tempo não exista

talvez o calor seja essa mania de sentir que o eu existe
e seja toda a energia desperdiçada nessa tarefa árdua
de existir o que não-existe

percorro livros
percorro ruas
as pessoas caminham segurando pastas, mochilas e pesadelos.
carregam correntes entre eles mesmos
pesadas
imperceptíveis

e os laços mais sutis se perdem
na confusão dos sinais

além do bem e do mal
e além da poesia
poderemos esperar um pouco mais esse ódio?

espremer os cravos da nossa face mental
e enxergar as impurezas do branco?

na sala alguém vê videoshow
um passarinho canta lá fora
vejo mosquitos, ouço crianças aqui embaixo
sinto calor

Um comentário:

  1. pois é, sentei ontem pra escrever e o poema derreteu antes de chegar ao papel.

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