voltando do trabalho um homem descobre seu rosto numa poça da chuva no chão
a noite convida a entrada para o mundo das imagens
e o homem pisa em seu rosto como se negasse a chuva e o frio
algumas pipocas molhadas alimentam pombos
ou alguns pombos alimentam as poças?
seria o centro do rio um rio sem centro?
perdido em pensamentos sombrios, o homem esbarra num cão
não
era um homem
no chão
enrolado com um plástico preto
em posição fetal
emitindo um latido molhado pela chuva
um cigarro fuma um magro de olhos esbugalhados
e as cinzas do prédio se confudem com a fumaça que os carros
respiram
a noite convida a entrada daquele mundo de imagens
algum passante deixa cair uma moeda de vinte e cinco centavos
um celular toca, é a mulher, hoje ela vai chegar mais tarde do trabalho
escorrega pelas fachadas dos prédios
um líquido escuro
e os bueiros bebem-no como cerveja importada
deixando bigodes de espuma
no vão entre ruas
a chuva aperta e começa a machucar um pouco o couro cabeludo
arranhando a paisagem como se limpasse o asfalto da pele
um táxi freia em cima da linha de pedestres
poderia ter atropelado alguém
poderia ter sido eu
mas não, hoje é o meu dia, minha noite
disse a imagem na poça no chão.
OH YEAH, muito legal.
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