domingo, 26 de fevereiro de 2012
nesse calor penso no passado. nas mulheres. na infância que inventei. penso em todas as pessoas que esbarraram no meu corpo. todos aqueles desencontros de metro. os telefonemas ocupados. o calor aumenta. não sei se é imaginação. vejo o passado sobreposto ao teclado do computador. pessoas se misturam com letras. seria isso poesia concreta? o jazz etíope me lembra sonhos lúcidos. o ar está parado como se dormisse. penso nas mulheres bonitas. nas charmosas. um ideal talvez seja uma mistura de esperanza spalding, camila pitanga e sharon menezes. bem brasil. o ano só começa mesmo depois do carnaval. a vida só começa mesmo depois da primeira mulher. da primeira transa. do primeiro clube da esquina. do primeiro transa. do primeiro disco do tênis. o calor aumenta mais. na minha mesa eu vejo: o bilhete da loteria, o passaporte, uma luva preta de mímica, e o cortador de unha. o relógio escangalhado do chaplin na parede sorri. tudo está derretendo? penso no romance que vou escrever. quero que seja assim. frases curtas. espaço para o leitor. vou tomar um banho gelado. senão a cordilheira de sonhos da noite não vai apagar.depois do banho vou ler algo do pessoa. é sempre bom para sair de si. o primeiro do vinícius começa com algo assim: "o ar está cheio de murmúrios silenciosos". algo do tipo. não sei porque lembrei disso. só que com mais calor. quando esquentamos demais as coisas dilatam. eu deveria dilatar minhas frases? nesse passado penso no calor. na infância. nas mulheres que inventei. penso em todos os corpos que esbarraram nas minhas pessoas. todos os metros daqueles desencontros. os telefonemas que não atendi. só sei o que é imaginação. vejo o teclado sobreposto ao passado. letras se misturam com pessoas.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
cada coisa você diz uma hora
data estrelar 22 de fevereiro de 2012
calor de 50 graus
condições naturais e imaginárias
no mesmo dia em que morreram
Andy Warhol e Américo Vespúcio
num quarto em cinzas
longe da civilização e da barbárie
em que pretendo relatar nessa carta
os lugares que vi com as mãos
e com os pés
nessa terra sagrada do Sol
o cristo redentor não redimiu ninguém
com seu abraço concreto
fez poemas abstratos
a chuva não veio
nem o silêncio
depois da bateria
sobrevoando a cidade
como moscas famintas
helicópteros lambem o azul
o ventilador agoniza
e só nos refrescamos
com as lembranças
vou mergulhar na piscina
aqui do play?
ou continuo mergulhando
na poesia que sou?
o corpo sua
sendo o que sou
cada coisa você diz uma hora
a escola de samba
não me ensinou nada
que bom!
desaprendi sobre as danças
enquanto desconstruía o samba
dentro do coração
descobrindo américas
e moças
e arte popular
cantando amélias
e coisas
que não vou lembrar
coisas que o vento...
e bla bla bla...
lô, beto, bituca...
só com o nariz vermelho
se pode distinguir
a cor azul do mundo
só com meu corpo aberto
se pode sambar
na miopia de enxergar perto
eu já tomei guaraná
hoje tomo poesia
o mundo vive
eu já comi paçoca
e já brinquei de pique
o mundo vive
cada coisa você diz uma hora
e mesmo assim
o tempo invisível
inventa uma coisa
assim que não sei o que
disfarçado de outra
essa outra pode ser
fora da lógica
fora do óbvio
cada coisa você diz uma hora
e nem tenho relógio
(o meu escangalhou)
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
ai ai ai...
ai ai ai
meu deus
tenho fome
e só há
uma paçoca
ai ai ai
nem só de pão vive o homem
nem só de poesia vive o poeta
nem só de palhaçada vive o palhaço
meu deus
meu deus
pra que tanta perna
branca, preta, amarela
se sabia que eu era poeta
e palhaço
e homem
ai ai ai
tenho fome
tenho fome e tenho sede
minha perna me dói
e eu não tenho rede
meu deus, meu deus
essa paçoca que agora jaz em minhas mãos
esse fogo que agora jorra em minh'alma
essa saliva seca
essa solidão cheia de gente
ai ai ai
meu deus
me ajude
eu já perdi as chaves do carro
eu ja perdi a identidade
o cpf
a certidão de nascimento
o milton nascimento
meu deus ai ai
eu já perdi até o poema
e estou só
gritando nesse meio-fio
num parque de sampaulo
que eu não conheço
ai ai ai
meu deus
ao menos um pastel
ao menos um guaraná
me dai um pão
que seja nosso
mas que seja mel
por todos os poetas
e todos os famintos
eu não quero morrer no asfalto
cinza e sem nariz vermelho
ai ai ai
tenho fome
e só você pode ajudar-me
me dai do que comer
ai meu deus
que eu juro
continuo
são paulo
eu fiquei cego
na estação da luz
chorei
na consolação
queimei
no paraíso
outonei
nos jardins
passei fome
na brigadeiro
caguei
na higienópolis
me rendi
na ipiranga
escapei
no carandiru
me prendi
na liberdade
me prendi
na liberdade
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