quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

papel encontrado no chão de uma rua imaginária

não se pode entrar no mesmo rio duas vezes
não se pode entrar no mesmo rio de janeiro
não se poda as entranhas do riso
não se pode entrar no mesmo siso
não se pode
si
perder
de si

então escrevo essa carta
direcionada para o passado
enquanto a memória do futuro
nos lembra do que estamos vivendo agora

nada permanece
mas como seria
poder lembrar de tudo
se os poderes nos fazem amnésia
e a cada dia somos mais esquecidos

escrevo essa carta para me lembrar
de que alguém escreveu essa carta

Um comentário:

  1. "A nossa memória alimenta-se, em larga medida, daquilo que os outros recordam de nós. Tendemos a recordar como sendo nossas as recordações alheias - inclusive as fictícias.

    - É como o Castelo de São Jorge, em Lisboa, conheces? Tem ameias, mas as ameias são falsas. Antônio de Oliveira Salazar ordenou que acrescentassem as ameias ao castelo para que este ficasse mais verídico. Um castelo sem ameias parecia-lhe um erro, eu sei lá, algo até vagamente monstruoso, como um camelo sem bossas. O que hoje há de falso do Castelo de São Jorge é que o torna verossímil."

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