terça-feira, 13 de março de 2012

Notas encontradas no futuro

fragmentos datados de 13 de julho de 2037 - arquivo pessoal


I

Por acaso, assistindo a uma entrevista num video na internet de Patch Adams, o médico-palhaço mundialmente famoso após o filme, interpretado por Robin Williams, um intenso desejo de finalmente escrever um livro tomou conta de mim. A visão da arte como medicina para a sociedade caduca e doente, compartilhada por outro mestre que admiro, o cineasta e tarólogo Alejandro Jodorowsky, parecia criar forças, ou melhor, despertá-las de um sono há muito tempo dormido.

II

Por volta dos onze anos senti que era poeta.

III

Depois de ler A Invenção de Morel, e de ter visto os filmes do Chris Marker, notadamente o La Jettee, volta aquela sensação incrível de como seria intrigante escrever uma estória com um pano de fundo de ficção científica. Seria uma maneira eficaz de engajar o leitor, para, durante a trama, tecer observações e filosofar mais profundamente, sem nenhuma culpa de talvez ser chato.

Eu sei que teria que envolver alguma coisa em relação ao espaço-tempo. Algo que criasse um ambiente surreal.

Nessa salada doida, de alguma forma eu poderia tentar conjugar:

- memórias autobiográficas da infância.
- a minha relação com meu pai.
- reflexões poéticas.
- reflexões filosóficas.
- a questão dos sonhos lúcidos.
- achar uma maneira intrigante de desenvolver cenas de sexo.

IV

Realmente, o assunto mais intrigante que experimentei na prática: sonhos lúcidos. E a experiência com ópio no jazz da praça Tiradentes na quarta-feira de cinzas... Um misto desses dois. Um ponto de partida mais eficaz seria o de um livro de contos, linkados por essa temática, ou estilo. Ou personagem. Enfim, as conexões são feitas pelo leitor. Se forem bem escritas. Algo de Twilight Zone. Um cotidiano comum de onde irrompe o inexplicável. Escrever um livro imaturo mesmo. Para perder a virgindade da prosa.

Pode começar assim: Sempre conversava com amigos sobre sonhos, e um dia, seguindo a instrução de um deles, decidi começar um diário de sonhos.

V

Essa coisa de fragmentar por um lado é praticidade e por outro é preguiça.

VI

            Assim como o Keith Johnstone fala sobre Impro, vou seguir o conselho de dizer pra mim mesmo – vou escrever um livro medíocre. Partir de clichês. Assim a gente se solta mais e não precisa ser genial. Acho que vai ser bom para a produtividade da coisa


VII

Decidi. Vai ser um livro de contos. Contos que tratam de uma mistura de psicomagia, twilight zone, poesia e palhaço. Cada conto estimulando a imaginação. Decidi também organizar a minha agenda de tarefas pessoal. Sempre reservar momentos de leitura e escrita diária. Usar menos internet. O próximo passo é me relacionar mais e melhor com as pessoas, como fala o Patch Adams.

VIII

O mote, a unidade, pode ser justamente: a transformação do mundo através da poesia, do olhar poético. Como podemos olhar diferentemente as coisas e mudar nossas vidas. Não deixa de ser um livro como de auto-ajuda, mas com um viés literário e não tão declaradamente místicos como livros de Paulo Coelho e afins.

IX

Um dos contos pode ser baseado nas tardes dentro da kombi do marcos. As aventuras, as descobertas, os pensamentos daquela época.As apreciações roqueiras. As lutas corporais. Os causos do próprio marcos. O cd do Fênix. Mas teria graça isso tudo? Como escrever isso de modo diferente do que simplesmente contar? Aliás, qual o problema de simplesmente contar? Tudo não se baseia na velha arte de contar estórias? Como nossos ancestrais, desde o início da humanidade, em volta das fogueiras?

X

Finalmente entendo o que faltava para eu ter mais gosto e vontade de escrever prosa. Ler.

XI

Penso que um mote bom seria uma espécie de diário. Uma reportagem poética. No sentido de experimentar na prática coisas e relações interessantes para escrever não sobre, mais por sobre aquilo tudo experimentado. Como fala o Castello no Ribamar. Acho uma boa idéia. O que poderiam ser essas experiências? Algo do tipo do Patch Adams? Algo do tipo drogas? Algo do tipo sexo?

XII

Numerar os capítulos dá um prazer de avançar, uma sensação de que se está andando para frente. Mas queria mesmo era experimentar o livro-jogo como aqueles da adolescência. Não conhecia Cortazar, Borges. Então para mim o legal mesmo era o livro-jogo de RPG. Você podia escolher qual caminho tomar. Cada caminho correspondia a uma página. Pode ser o caso pensar em um livro desse tipo.










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