ela desenha sem lápis
e agora tá desenhando com lápis
o processo dela parece ser
bem legal
pra desenhar sem lápis
ela inventa uma caligrafia com as imagens do mundo
de dentro
de fora
e nem de fora nem de dentro
pra desenhar com lápis
ela dança a coreografia que o mundo conduz
de dentro
de fora
e nem de fora nem de dentro
o desenho ficou legal
sábado, 25 de agosto de 2012
sem você no apartamento
to que nem um cão
trancado no apê
procurando a dona
rasgando o sofá
roendo o pé da mesa
fazendo xixi de protesto
trancado no apê
procurando a dona
rasgando o sofá
roendo o pé da mesa
fazendo xixi de protesto
terça-feira, 21 de agosto de 2012
tal!
encontrei o amor em todas as coisas
encontrei um mosquito numa garrafa de cerveja
luzes poesiam o céu numa tempestade com ideogramas japoneses
não há como descrever o que se vê
o que se viu
escrever é descobrir
o que nunca se poderá ver
e ver é ser escrito
como raios no céu
poesiando o horizonte
com poemas japoneses
encontrei um mosquito numa garrafa de cerveja
luzes poesiam o céu numa tempestade com ideogramas japoneses
não há como descrever o que se vê
o que se viu
escrever é descobrir
o que nunca se poderá ver
e ver é ser escrito
como raios no céu
poesiando o horizonte
com poemas japoneses
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
sabor
atrás daquela grade do pátio tinha um mato
o matinho
quando a bola do futebol caía ali
parece que não tinha mais jeito
todo mundo tinha medo do que tinha lá
diziam que tinha cobra
e outras coisas que a gente não sabia
não saber aumentava o saber
na praia
as areias que ficavam duras
como pequenas pedras de areia
eram legais de se quebrar
e de repente
aparecia por dentro delas
um bicho
aquela barata de areia de praia
que eu chamava de fumiga
praia sempre foi um lugar que nunca vai ficar chato
sempre tem alguma coisa
quelque chose
nos bailes de carnaval
minha mãe pintava um coração
na minha bochecha
e eu usava uma faixa na testa
eu gostava de pintar a cara
no dia do índio
me lembro de pensar brevemente
que gostaria mesmo de ser índio
enquanto cantava a música da xuxa
segurando um arco e flecha feitos de jornal
com fita crepe
o mundo parecia imenso
era realmente imenso
mas eu fui crescendo
e veio a internet
e a mente
parece que os braços da gente
vão abraçando mais o mundo
e saber vai diminuindo o saber
por outro lado
é possível brincar de não-saber
ou inventar um outro saber
e dessa forma
inventar um não-saber vai aumentando
o sabor
o matinho
quando a bola do futebol caía ali
parece que não tinha mais jeito
todo mundo tinha medo do que tinha lá
diziam que tinha cobra
e outras coisas que a gente não sabia
não saber aumentava o saber
na praia
as areias que ficavam duras
como pequenas pedras de areia
eram legais de se quebrar
e de repente
aparecia por dentro delas
um bicho
aquela barata de areia de praia
que eu chamava de fumiga
praia sempre foi um lugar que nunca vai ficar chato
sempre tem alguma coisa
quelque chose
nos bailes de carnaval
minha mãe pintava um coração
na minha bochecha
e eu usava uma faixa na testa
eu gostava de pintar a cara
no dia do índio
me lembro de pensar brevemente
que gostaria mesmo de ser índio
enquanto cantava a música da xuxa
segurando um arco e flecha feitos de jornal
com fita crepe
o mundo parecia imenso
era realmente imenso
mas eu fui crescendo
e veio a internet
e a mente
parece que os braços da gente
vão abraçando mais o mundo
e saber vai diminuindo o saber
por outro lado
é possível brincar de não-saber
ou inventar um outro saber
e dessa forma
inventar um não-saber vai aumentando
o sabor
sábado, 18 de agosto de 2012
voa pensamento
vôa na madrugada um pensamento
passeando apressado
por entre acordes de piano
e cidadãos indo dormir
a cidade calma, serena, espera o sol
na solidão dos poucos carros
das luzes coloridas
dos papéis que se arrastam ao vento
um olho de gato brilha
um homem dorme envolto em papelão
meu coração se aproxima do mundo
como se fosse o próprio vento
um bafo de algo maior, mais profundo
mas é apenas o vento
o pensamento, voando
pousa de passagem
nas asas de algum sonho
que alguém deixou por sonhar
na beira da cama
parece um filme antigo
em preto e branco
mas não
é a própria história da humanidade
encarcerada na vontade de ser feliz
e de voar pensamentos
e num breve momento
o pensamento se olha em reflexo
e ri desse espelho maluco
a imagem se desdobra em relógios
pendurados no pescoço de santos
que se multiplicam na paisagem dormente
cercando a cidade num ataque aéreo
os ponteiros jogam pequenas bombas de tempo
e os segundos vão caindo
acordando os homens
e adormecendo as crianças
envelhecendo as mulheres
e as plantas que vivem em busca da luz
o pensamento não pára
e continua voando
seus olhos agora pesados
pestaneja, chega a dormir
e num sonho
parece que acorda ao som de acordes de piano
na madrugada uma sinfonia de luzes coloridas
e pequenos fragmentos do vento
de outros tempos, muito tempo atrás
vêm distorcendo a cidade, as ruas, os homens
os sonhos das crianças
andando no asfalto vazio
o pensamento vê uma asa cortada
metade de uma asa
metade de um sonho
sente um desconforto na coluna
e repara, é sua outra metade da asa
não é sangue que se esvai
é um rolo de filme mudo
envolto não pelo vento
mas por alguns acordes no piano
de algum sonho perdido
do século passado
o filme se desenrola em guerras em danças e músicas mudas
rolando ladeira abaixo na cidade
rolando ladeira abaixo no equador
dando a volta na Terra e se encontrando novamente com o pensamento
que se vê enrolado
mumificado em ser humano
condenado a ser livre
fica todo coberto
completamente submerso em ficção
até os olhos cobertos começarem a sonhar
as imagens
pequenos fragmentos de tempo
cortados como frases
que alguém balbuciou
em algum sonho
que alguém deixou por sonhar
na beira do mundo
na beira do dia
que já acorda a cidade
pronta para sonhar
com novas madrugadas
novos ventos
de tempos atrás
dorme o pensamento
mumificado em cotidiano
condenado a ser livre
pronto para sonhar
com novas madrugadas
novos ventos
tempos atrás
passeando apressado
por entre acordes de piano
e cidadãos indo dormir
a cidade calma, serena, espera o sol
na solidão dos poucos carros
das luzes coloridas
dos papéis que se arrastam ao vento
um olho de gato brilha
um homem dorme envolto em papelão
meu coração se aproxima do mundo
como se fosse o próprio vento
um bafo de algo maior, mais profundo
mas é apenas o vento
o pensamento, voando
pousa de passagem
nas asas de algum sonho
que alguém deixou por sonhar
na beira da cama
parece um filme antigo
em preto e branco
mas não
é a própria história da humanidade
encarcerada na vontade de ser feliz
e de voar pensamentos
e num breve momento
o pensamento se olha em reflexo
e ri desse espelho maluco
a imagem se desdobra em relógios
pendurados no pescoço de santos
que se multiplicam na paisagem dormente
cercando a cidade num ataque aéreo
os ponteiros jogam pequenas bombas de tempo
e os segundos vão caindo
acordando os homens
e adormecendo as crianças
envelhecendo as mulheres
e as plantas que vivem em busca da luz
o pensamento não pára
e continua voando
seus olhos agora pesados
pestaneja, chega a dormir
e num sonho
parece que acorda ao som de acordes de piano
na madrugada uma sinfonia de luzes coloridas
e pequenos fragmentos do vento
de outros tempos, muito tempo atrás
vêm distorcendo a cidade, as ruas, os homens
os sonhos das crianças
andando no asfalto vazio
o pensamento vê uma asa cortada
metade de uma asa
metade de um sonho
sente um desconforto na coluna
e repara, é sua outra metade da asa
não é sangue que se esvai
é um rolo de filme mudo
envolto não pelo vento
mas por alguns acordes no piano
de algum sonho perdido
do século passado
o filme se desenrola em guerras em danças e músicas mudas
rolando ladeira abaixo na cidade
rolando ladeira abaixo no equador
dando a volta na Terra e se encontrando novamente com o pensamento
que se vê enrolado
mumificado em ser humano
condenado a ser livre
fica todo coberto
completamente submerso em ficção
até os olhos cobertos começarem a sonhar
as imagens
pequenos fragmentos de tempo
cortados como frases
que alguém balbuciou
em algum sonho
que alguém deixou por sonhar
na beira do mundo
na beira do dia
que já acorda a cidade
pronta para sonhar
com novas madrugadas
novos ventos
de tempos atrás
dorme o pensamento
mumificado em cotidiano
condenado a ser livre
pronto para sonhar
com novas madrugadas
novos ventos
tempos atrás
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
boa noite, carol
de noite sinto falta dela
andando pelo apartamento
como quem desfila em passarela
ou tudo abrindo abismo em momento
o mundo em mise-en-abyme em tela
desenha sem lápis uma lua no céu
inventa na cintura violão chocolate ao leite
às vezes pára e me olha de mel
às vezes vai e pede que eu deite
- pode tocar que meu toque é teu.
joga os quadris num riso redondo
girando uma dança no ar flutua
yoga os mistérios da mente rondo
e fica um suave sentido perdido na rua
a coisa mais linda que eu já vi
que eu já li ou fui lido ou fui feito
parece que sou só um bem-te-vi
voando ao redor de um lírio perfeito
andando pelo apartamento
como quem desfila em passarela
ou tudo abrindo abismo em momento
o mundo em mise-en-abyme em tela
desenha sem lápis uma lua no céu
inventa na cintura violão chocolate ao leite
às vezes pára e me olha de mel
às vezes vai e pede que eu deite
- pode tocar que meu toque é teu.
joga os quadris num riso redondo
girando uma dança no ar flutua
yoga os mistérios da mente rondo
e fica um suave sentido perdido na rua
a coisa mais linda que eu já vi
que eu já li ou fui lido ou fui feito
parece que sou só um bem-te-vi
voando ao redor de um lírio perfeito
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
lá no sítio
de noite
lá no sítio
a gente fez uma fogueira
com uns pedaço de pau
pinhas, e madeira seca
tinha bambu também
tava tudo indo bem
até que a suzana
que tava cavucando
no fogo
com um caniço de bambu
disse:
- to aqui com essa varinha de pescar fogo.
ai danou-se
fiquei vidrado naquela varinha
não sei se tava pescando o fogo
ou se era eu mesmo
tem vezes boas que a gente sai da gente
e nem percebe
bom mesmo é escrever de depois
notas
prestar atenção nas coisas
conhecer o timing das viradas
virar e olhar o céu
rabiscar frases que vão durar para sempre
como um cirurgião sem fé
o destino nos presenteia
pessoas são pessoas em qualquer lugar
elas só não sabem que deus são
o meu verso é como uma música
você devia inventar uma maneira melhor
de experimentar o silêncio
conhecer o timing das viradas
virar e olhar o céu
rabiscar frases que vão durar para sempre
como um cirurgião sem fé
o destino nos presenteia
pessoas são pessoas em qualquer lugar
elas só não sabem que deus são
o meu verso é como uma música
você devia inventar uma maneira melhor
de experimentar o silêncio
lapso
eu achei o amor em todas as coisas
achei um mosquito numa garrafa de cerveja
os raios estão poesiando no céu em letras japonesas
Assinar:
Postagens (Atom)