segunda-feira, 20 de agosto de 2012

sabor

atrás daquela grade do pátio tinha um mato
o matinho
quando a bola do futebol caía ali
parece que não tinha mais jeito
todo mundo tinha medo do que tinha lá
diziam que tinha cobra
e outras coisas que a gente não sabia

não saber aumentava o saber

na praia
as areias que ficavam duras
como pequenas pedras de areia
eram legais de se quebrar
e de repente
aparecia por dentro delas
um bicho
aquela barata de areia de praia
que eu chamava de fumiga

praia sempre foi um lugar que nunca vai ficar chato
sempre tem alguma coisa
quelque chose

nos bailes de carnaval
minha mãe pintava um coração
na minha bochecha
e eu usava uma faixa na testa

eu gostava de pintar a cara
no dia do índio
me lembro de pensar brevemente
que gostaria mesmo de ser índio
enquanto cantava a música da xuxa
segurando um arco e flecha feitos de jornal
com fita crepe

o mundo parecia imenso
era realmente imenso
mas eu fui crescendo
e veio a internet
e a mente
parece que os braços da gente
vão abraçando mais o mundo

e saber vai diminuindo o saber

por outro lado
é possível brincar de não-saber
ou inventar um outro saber
e dessa forma

inventar um não-saber vai aumentando
o sabor

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