domingo, 28 de julho de 2013

rodovia

janela do ônibus
de um ônibus entre milhares de outros que ninguém sabe onde estão
(e se soubessem onde estão, o que saberiam?)

dais para o mistério de cidadezinha qualquer
vida mixuruca
constantemente cruzada por caminhões
com os cartazes mal-escritos a anunciar lojas e igrejas
com os móteis com nomes de músicas de roberto carlos
com essa solidão lotada de gente
e esses vira-latas mancos a esmolar pedaços de pão e carinho

(vivi, estudei, amei, e até cri
e hoje
não há mendigo na beira de estrada que eu não inveje
só por não estar nessa janela do ônibus)

não há nada que aconteça
nessas cidades
nunca nada vai acontecer
não se pode querer que aconteça nada
à parte isso, vem na janela um homem sem dentes
que diz ser Deus



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