quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Diálogos Catárticos - cena I

- Fui eu.
- Não acredito.
- Pode acreditar.
- Como pode?
- Não sei.
- E agora?
- Não sei. Não sei. Eu nunca...
- A gente tem que limpar tudo. A gente tem que limpar essa sujeira toda.
- Minha camisa tá com sangue.
- Eu não acredito! A gente tinha combinado outra coisa!
- Meu tênis também...
- Você tá me ouvindo! Não era esse o combinado!
- Não grita comigo não! Você não tava lá! Você não tava lá! Você não viu os olhos dele, você não tava lá e olhou, de frente, olhou bem nos olhos dele!
- Pára!
- Isso, chora, você num ia aguentar um segundo olhando os olhos dele.
- Não era pra ter sido assim. A gente falou que não ia...
- Foi um acidente!
- Como pode? Como pode? O Juninho, porquinho preferido do Dudu...
- Não sei...
- E o que eu digo pro Dudu? "Papai matou o Juninho"?"Hoje vamos comer porco, Dudu"?
- Diga a verdade. Ele já é grande.
- É. Já está quase um homem.
- Quando eu tinha a idade dele, já tava matando, e não era porco não, era gente mermo.
- Eu lembro.
- Então. Vai dizer?
- Tá. Mas pelo amor de Deus, limpa isso ai. Mais em cima.
- Eu te amo.
- Sei.
- Dudu? Você tava ai?
- Dudu, meu filho! Você tá ai há muito tempo?
- Dudu! A arma do papai! Coloca no ch...
- Gomes!!! Ahhhhhh!!!
- Mãe, fica quieta.
- Meu Deus!!!
- Fica quieta!
- AHHhhhhh...
- Agora sim. Já falei pra não mexerem no meu porquinho. Eu sempre falei pra não mexerem no meu porquinho! Vocês mexeram no Juninho, porra!!! Vocês não tinham o direito!!! Ouviu mãe, ouviu?

Nenhum comentário:

Postar um comentário