sábado, 8 de agosto de 2009

Saudade

Eu comecei catando latas. Depois transformava-as em arte. Esculturas, objetos de decoração. Quem me falou sobre isso foi o tio Roberto. Ele disse que as coisas podiam se transformar em tudo aquilo que a gente quiser, que a gente imaginar.

Então eu me transformei. Dei-me asas. Voei ao redor do mundo. Percebi que o mundo cabe na palma da visão. Percebi que a Terra tem mais água que terra. Percebi que as pessoas vivem amontoadas, tem muito espaço vazio sobrando. Bateu uma saudade. De quando eu não sabia nada.

Então eu me transformei. Cortei-me as asas. Escolhi um pequeno círculo de terra para viver. Estrategicamente escolhido, havia água, terra, sol, vento. Percebi que existe uma força maior do que podemos entender. Isso me intrigou. Decidi imaginar o que seria essa força.

Então eu me transformei. Dei-me a força. Criei, da água, da terra, da lama, um homem. Não sabendo ao certo como fazê-lo, fiz minha própria fisionomia. Terminei e contemplei. Faltava algo.
Faltava a saudade que batia em mim. Criei uma saudade feita de passarinho. Coloquei no coração do homem. O homem então chorou. Fiquei feliz.

Então eu me transformei. Cortei-me a força. Fiquei nu. Decidi virar algo inútil, pequeno, frágil, sem valor. Virei uma lata. O homem ainda vai me catar. Quando isso acontecer, passarinho vai voar do coração e pousar de novo da minha mão. Pra saudade voltar pra mim.

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