quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

acabo de ligar o ventilador
está quente aqui
e ela lá na sala vendo simpsons

calça jeans escura
lap top na cadeira
escrever deveria ser algo

as risadas percorrem os cômodos
seria um sonho
se eu estivesse acordado

papéis, quadros de irmã
o chão é de madeira
desenhos na parede branca

a janela range
acho que é o vento
quase como se jogasse pedrinhas no vidro

sabe quando pisca a luz
e você acha
que foi você que piscou?

o nariz escorre
tenho preguiça de pegar papel
antes eu escrevia em papel

ainda não li muita coisa
nem escrevi quase nada
mas sinto como se pouca coisa realmente foi dita

ou será dita ainda
abro os jornais
e as palavras são fotos e as fotos são palavras

viver deveria ser poesia
remar deveria ser poesia
e não rimar

mas às vezes o mar está agitado
e às vezes os olhares não esperam os corpos
e fica aquele espaço entre o feito e o não feito

fica o espaço entre o passado e o futuro
a que chamamos presente
seria mais fácil só viver

lá fora poderia chover
e alagar a cidade
como na baixada fluminense

os ratos agora sabem morrer nas calçadas
e quem estiver de sapato não fica de pé
tratores vão abrir a terra para plantar poesia

será tão difícil assim enxergar
que só o abrir dos olhos
faça milagres modernos?

um embrulho branco
procura mãos limpas
para presentear

o céu teima em escurecer
mesmo quando a gente
só quer acordar

acordei lá prás três
a noite ontem
durou talvez

justo agora que eu me emocionei
vem essa merda
de pensamento

poesia poderia ser não pensar
uma espécie de meditação
ativa

enquanto os dedos digitam
o corpo inteiro
digita junto

em uníssono
formando
composições

quantos por aí se dizem poetas
até eu mesmo já me disse
agora eu tento apenas silênciar a poesia

de tanta palavra
o que fica
é o silêncio

de se saber
código
linguagem

e de nunca
se ser
o que é


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