Estava todo mundo da escola. A gente chegou numa van. Foi mó zuera na van. Cantamos mamonas assassinas, andré-roubou-pão-na-casa-do-joão, jogamos papel na cabeça do outro. Era um dia bem quente de verão. O sol. A primeira coisa que eu me lembro é de que o clube era bem grande, com espaços amplos e que quando a garotada chegou saiu correndo e gritando e pulando pelas cercas e bancos que tinham na frente. Rolou um fute. Uma cabeçada tremenda, devia ter uns 25 dentro de um campinho de areia. O André, se não me engano, fez um gol, meio de perto do gol. Era muita engraçado, porque todas as meninas estavam jogando junto também, então era aquele negócio de ir uns 6 disputar uma bola, as meninas chutando as canelas de todo mundo e a gente rindo, dando drible da vaca ou ovinho nelas. Eu até fiz um gol. A bola veio rolando e eu chutei que nem um maluco, de antes do meio de campo. Foi gol. Vibrei e soquei o ar como pelé. Logo depois, numa correria danada, escorreguei e me ralei todo. A gente estava jogando sem camisa. Me ralei na areia. Mas tudo bem.
Depois eu me lembro da gente curtindo uma piscina. Era uma piscina bem grande e o sol batendo nela refletia uma luz e eu deitei numa dessas cadeiras reclináveis de plástico branco e peguei os óculos escuros de alguém emprestado, me sentindo um cara de filme americano, olhando as meninas em seus biquínis e, se não me engano, pensei ou falei alto ou baixo: ê vida ruim.
Aquela calmaria durou apenas alguns instantes, quando começou uma gritaria: alguém tinha pego o enchimento de algodão de alguma garota e elas começaram a brigar, puxar o cabelo, numa cena bonita de se ver, tão bonita que juntou todo mundo e eu até pensei na hora, poxa, bem que poderiam me dar um guaraná e uma pipoca aqui, estou no paraíso. Antes, quando eu tava nadando naquela piscina, bem que eu tinha avistado uns dois chumaços de algodão, mas não imaginava que aquilo era o enchimento de alguma menina. Impressionante né. Naquela época a menina ter peito grande nem era tão grande coisa assim para mim, para os meninos. Como representantes exemplares do pensamento masculino brasileiro, ainda éramos (e somos) adeptos da verdadeira paixão nacional: bundas e pernas.
Depois daquela confusão, me lembro de pouca coisa...O Bruno me mostrando como andar de skate. Deve ter rolado brincadeira tipo verdade-consequencia. Não lembro de mais outra coisa não.
O que ficou mesmo foi aquela sensação, de olhar pra piscina, num belo dia de sol, e pensar que, anos depois, eu mais velho, lembraria daquela imagem, daquele som, daquele cheiro, pensando:
ê vida ruim.
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