sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pensar/fazer kynema/somnema




durante a própria filmagem do filme que o Grupo Lelepídedo de Criação está realizando, algumas questões vem à tona:

- liberdade.

muitas vezes o processo de realização impõe um resultado estético.
um filme de grande orçamento, dependendo de várias empresas, tendo que responder pelos seus argumentos, não pode se dar a liberdade de filmar o que quiser, de dizer o que quiser.

trazendo isso para a realidade subdesenvolvida de jovens da classe média que somos, com recursos digitais bons, e uma certa irresponsabilidade, os métodos possíveis de se realizar um cinema realmente surreal, que tenha impacto e vigor, não podem deixar de serem pensados/feitos, não necessariamente nessa ordem: pré-produção, produção, pós-produção canônicas.

afinal, o que é um filme?

na idéia?
tudo começa com a vida. o que você viu ontem dentro do ônibus vindo para o rio?
com quem você ficou? o que uma árvore te contou? em quem você vai votar para presidente do brasil?

no tema? o presente.
mostrar não só a fome de comida, mas principalmente, a de idéias.
mostrar que não queremos nem a faca, nem o queijo, mas a fome.

no enquadramento? a função da câmera varia de acordo com a desfunção mental. quanto menos razão melhor.
uma câmera pode ser sujeito, objeto, divindade, corpo humano, pensamento, som, invensom.

todos os mestres podem ser seguidos. dialogar com eles.

na movimentação de câmera? pesquisar o tempo.
e a câmera estática? pesquisar o espaço.

no som?
o som falaremos mais no somnema

na música?
a música como ruído produzido ao se jogar coisas que não existem na tela.
a música como a criação de um universo que não existe mas a gente acredita.
a música como manipulação invisível do sentimento de um tijolo.

- enorgia: energia/orgia.

é preciso alongar e aquecer a voz para filmar.
usar as expressões do corpo.
usar as inexpressões da alma
beijo, gozo, sexo.

engendrar a câmera dentro de um ritual de movimento e repouso e repetição
a câmera tanto pode ser a fogueira como a roda ao redor dela.
o importante é não registrar uma visão. ser uma visão. e ser um tato.

filmar com olhos vendados uma luta sexual.
uma suave violência.
o câmera morde o cangote da atriz e geme junto com ela.


- poética da antropofagya das aculturas

nosso herói nunca foi herói nem ator
nossa câmera tem miopia - que é a minha utopia
não enxerga de longe - é preciso estar perto, junto, colado, se movimentar junto
lutar junto, suar junto, entrar no ritual, desnudar a câmera é enxergar de perto - CLOSE: abrir.

ele é índio tomando coca-cola.
para nós é até branco. multicores. incolor.

no CineOP vimos um filme filmado por uma tribo indígena falando de um ritual.

esse índio, com sonhos americanos, é um sujeitobjeto dos nosso cinema.
assim como a visão que temos do índio que mora dentro da gente. não somos índios,
nem europeus, nem africanos, nem brasileiros. não somos nada. não podemos querer ser nada.

a parte isso temos em nós todos os sonhos do mundo.

- montagem barreana.

utilizar os preceitos de barros: tudo que não invento é falso.
nada pode ser inventado que já não tenha sido pela vanguarda soviética e sua classificação extensa
das impossibilidades do kynema em ter limites.

o montador é uma criança de aproximadamente 3 anos que nunca tocou na areia do mar.
o programa de edição é um tecladinho CASIO de brinquedo, que faz sons engraçados.
é preciso batucar para ter ritmo.
uma criança batucando um filme.

uma criança que come um filme e planta outro através da máquina-corpo, cagando numa tela.

- somnema.

o som é 50% de um filme.

o som é uma tela.
a tela é um ambiente acústico.

será preciso criar imagens através do som.
será preciso criar sons através da imagem.

no próximo artigo, mais sobre o somnema.




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