no pátio de baixo.
não era o pátio da goiabeira, nem o pátio do campo de futebol. no pátio de baixo, eu fazia a aula de teatro, já de noite. ali também era o palco para o campeonato de paredão. era preciso descer uma escada com degraus pequenos e um corrimão de madeira. já perdi as contas de quantas vezes caí feio daquela escada. meu joelho conheceu cada degrau profundamente. por outro lado, aquela escada proporcionou a descoberta mais interessante depois de que tudo era átomo: as bundas das meninas, suas pernas e coxas e tornozelos.
estou dormindo. no chão, como costumava fazer.
acordo e está escuro. como nas aulas de teatro. mas o pátio está completamente vazio. o latão do lixo está virado, como quando a gente jogava porradobol e eu gritava como um louco.
então ouço as cores da parede:
- você está proibido de contar o que vamos te contar agora.
e então as tintas da parede do pátio foram desenhando uma figura humana. era o meu reflexo.
o desenho era transparentemente real. espantado, olhava-me com olhar recém-nascido. foi quando, numa nova configuração visual, as tintas desenharam o ambiente ao redor do desenho, tornando-se reflexos perfeitos do pátio. confuso, não distingui mais o que era reflexo e o que era o verdadeiro pátio. decidi sair dali, tentei correr na direção contrária, mas, estranhamente, não conseguia sair do lugar. percebi que não havia outra dimensão no espaço, que não a altura e a largura.
voltei os olhos para a parede, que agora esboçava um escrito:
"Não tente fugir do que é seu"
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