quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Memórias 1

Inauguro hoje, dia 17 de dezembro de 2009, uma espécie de autobiografia de coisas que eu lembro, e de lembranças inventadas. Se você leitor quiser saber ao certo a veracidade desses fatos e memórias, só posso responder citando o Manoel de Barros: “só dez por cento é mentira: o resto é invenção.”.

Uma das minhas lembranças mais remotas e a sensação de tocar na areia pela primeira vez. Não sei se é uma lembrança da sensação ou se é apenas uma sensação imaginada pelo jeito que minha mãe contou o ocorrido.

Era um dos meus primeiros dias numa creche, quando decidiram me mostrar o parquinho, onde tinha aqueles brinquedos e o chão todo de areia. Pensando hoje, parece que a areia é uma forma de evitar que as crianças se machuquem ao cair. Uma boa idéia. Pois sempre caem, é inevitável.

Eu devo ter pisado na areia e estranhado. Que coisa esquisita...o chão agora não é duro como os outros chãos...Deve ter sido curioso. E com aquelas perninhas tortas eu tentei andar um pouco na areia.

Pelo pouco que me lembro, eu devo ter estranhado tanto, que decidi sentar na areia e analisar aquele chão esquisito, com as minhas próprias mãos, numa atitude claramente experimental, de um futuro homem da ciência, instigado pelo conhecimento. Exagerei um pouco, mas ficou legal. É melhor guardar as imagens e sons com um pouco de exagero nas partes legais, nas partes que animam. Juntando tudo, a vida parece mais viva na memória.

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Quando eu fiz 13 anos decidi mudar minha vida completamente. Já não era mais o mesmo Taiyo. Ou não queria ser. Definitivamente, estava entrando na adolescência. O primeiro passo foi na escolha do presente de aniversário.

Fui para uma livraria dessas enormes que vendem de tudo, direto para a seção de música, cds, dvds. Já tinha algo em mente. Dois cds: um do Jimi Hendrix que eu tinha lido sobre na revista Playboy, e outro do Black Sabbath...acho que era Black Sabbath ou AC-DC.

Segurei os cds nas mãos, todo confiante, e peguei uma daquelas maquininhas para tocar e ouvir o disco no fone de ouvido. Epifania: sem saber, deixei o volume no máximo. Sorte ou não (nada é por acaso), a primeira música do disco do Hendrix começava justamente com uma porrada na guitarra, uma palhetada forte pra cacete, muito alta e distorcida.

Aquele som fudeu qualquer neurônio da criança que existia em mim.

No natal, pedi uma guitarra:

“Igual a do Jimi Hendrix”.

Agora sim, a criança estava morta, e um longo período conhecido como adolescência estava para começar, com muito rock (Hendrix, Sabbath e Zepellin, drogas (guaraná, açaí e paçoca) e sexo (solitário). É triste mas é alegre.

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