quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

na cidade a janela encerra todos os infinitos
e o cristo redentor abraça algumas nuvens
no apartamento do vizinho tocam músicas bregas
e aqui a minha vó traz as rabanadas

é preciso fechar os olhos para escutar a cidade
o doce silêncio que ela faz quando fecha os olhos
o silêncio de crianças abrindo presentes
e de pais conversando sobre o mercado de trabalho
e as primas bonitas falando de beijar
e as tias falando da última doença ou do pé inchado

deito no chão mesmo
a embriaguez do suco de uva e do pernil me contam causos
e descubro um novo risco no teto ao lado da luminária

é natal
tem gente nas ruas sem ninguém
sem comida
e eu aqui

talvez no próximo
eu saia por ai
fazendo alguma coisa

hoje eu to cansado de ser bom

no natal a gente pode ser até burguês né
tudo está perdoado

e amanhã
ainda vamos enterrar os ossos

a vida é bonita
tem coisas que deixam a gente triste
tem outras que deixam feliz

eu já tomei tristeza, já tomei alegria

hoje tomo poesia

3 comentários:

  1. isso resume toda minha noite.
    sensacional, taiyo. peculiar e comum, não sei bem como.

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  2. gostei muito! Me lembra a sua avó cantando e seu avô cantando... que genética !!!

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