domingo, 25 de abril de 2010

Exercício de Desentranhamento da Vida - 1 (sem revisão)

pessoas elaboram fazendas
fazendo poemas de coisas pequenas
enquanto o sol se põe
e põe na memória um desejo

poemas fazem pessoas
na minha cabeça
nascem bebês rindo

foi nas paredes da escola?
foi nas paredes da creche
escalar os muros da memória
e morrer um centímetro a cada salto

seria preciso desenverter os fatores do tempo
pular e pular e pular a cada invento
cada brincadeira dança das cadeiras
dança

eu te vejo com olhos abertos e mãos desembaraçadas
girando no pátio
segurando um sanduiche
driblando as minhas promessas de juventude

cachorro quente
a gente foi feito num jogo
onde o vencedor num tem

a moça do cachorro quente
a moça da cantina
a fala errada
silêncio lambuzando nossas mãos
saudade gritada com uniforme suado
você me olhando de lado
enquanto o beijo se possuia

era você ou era ela
era menina era mulher
pegar a areia com as mãos
pegar nas mãos cobertas de incertezas
e fabricar sonhos sólidos

eu só queria a lua
o sol
as estrelas

você só queria um beijo
uma transa
uma gozada
duas gozadas
três gozadas

teus olhos filmam o meu tato
fogo fato feto filosofia fado
virgem sem vírgula
vagina aberta insígnia
virgo

as palavras percorrem o sangue
derretido
seria um gosto de sol
uma fibra do coração
involuntariamente
sentido

você explodiu a minha cabeça
jimihendrix na guitarra preta e branca
volume máximo de volúpia
grita e geme e grita e geme e pula e treme
e trina o canto o canto da boca e louca e brusca
a buça ofusca a fuça a tua música e minha musa
a brisa nua que a janela refletia
em teu seio surdo aos meus apelos
e pelos e pulgas
e primas sinas e sonhos

quero ver o teu sorriso encharcado de sol

era na holanda era?
ou era a tua dança solitária no quarto escuro de olhos fechados e mudos
era uma flutuação dos planos
era um engano na tarde sangria
o sol mijando na cidade
e cidade inteira dormia

briga de galo na piscina
na vagina
na piscina da casa da amiga
briga de galo com as mãos nas coxas
ainda moças ainda nossas
ainda roxas de frio de calor de calafrio
eu apalpava tuas carnes
e vocês nem gemiam ainda
briga de galo e de galinhas
espumas flutuantes dentro das pequenas fotografias
minhas mitologias
briga de galo
festa de gala
poesias
ice kiss na janela da sala e professora velhinha
a gente escondia os sorrisos dentro de papéis de bala
e ficava apertado não mijar na sala

paredão solidão
no pátio de baixo eu pari um jogo
no mesmo lugar que você perdeu o jogo
no mesmo lugar que eu dormia no chão
no mesmo chão que você corria descalça
na mesma calça que sua bunda enchia
na mesma companhia de sempre e de nunca
no mesmo nunca de sempre

fernando pessoa pegando fogo com o pau na mão na sala de estar
previnindo a todos de que ele não estava lá
nem era ele nem o eu lírico
era um espírito
um fantasma edifício
apaixonadamente eu mordo o teu poema
e sinto o sangue palavral fluindo e escorrendo no meu corpo aberto
em pus em porra em pintura pollockiana
ferocidade ferro cidade pelo cimento desse poema vou construir uma revolução

nem a bíblia nem a história
foi a poesia que trouxe o big bang
um universo numa casca de nós mesmos
filho da puta do pessoa
das pessoas todas
que usaram esse corpo português feito de mitos mentiras e palavras
eu te soco
e te estupro lentamente
como quem escreve um poema com prego nos dentes

fogo muito fogo
era quando aquela
menina
a gente se via se comia
no play do prédio no play da peça na brincadeira de criança adulta
explorar os sentidos
ver com olhos ouvir com as mãos

nos plays das festas americanas
os passos se impregnavam das lembranças
das crianças que a gente iria ser quando senhoras e senhores
aqui estão todas as suas dores
aqui é o lugar de expôr as promessas do mundo
todas as memórias todas as mulheres do mundo
na pista de dança

seria uma coreografia
uma geografia nua
não consigo ouvir
não consigo escutar de tanta música
não consigo entender quem eu sou que você é
quem você somos
quem somos eu

seria uma coreografia nossa
o que dançamos embriagados pelo vento de maio
destruidos pelo fogo do inferno
pelo rock
pelados

eu assustei você de tanto eu
mas pode abrir os olhos agora
o mundo acabou
somos só simplesmente os mesmos

crianças aprendendo a nascer

4 comentários:

  1. assustou. se poesia desse dinheiro você tava milhonário.

    não sei bem qual o seu negócio com o paredão e o icekiss, mas tem tanta coisa boa aí dentro do seu exercício-artemegalomaníaca que eu fico até sem jeito de comentar.

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  2. ô flávia, obrigado!
    que bom que você se assustou,
    esse poema é um exercício-gullar, se é que existe isso,
    então vai dedicado pra ti, por ter me relembrado desse grande poeta.

    valeu pela relembrança, e não se acanhe,
    comente!

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  3. awwww.
    então se esse entrar pro livro vou querer meu nome em uma nota seca na página , uma nota dessas que fazem a gente pensar "quem será essa sortuda aí com nome no rodapé?"

    é bem gullar esse negócio de nota do autor com nome de mulher. fica a dica.

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  4. não vou dizer nada porque iria empobrecer.

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