o ventilador
na boca da cama
nem engana
o calor
ela me olha
na cama
na boca de
uma mulher
a cara
o cabelo amassado
não enganam
que ela amou
ontem
o sol
na pele de lençol
altura da bunda
também deita
nela
eu mais desejo
que escrevo
estrelas no lençol
ela tampa a boca
com uma estrela
lá fora a obra
bate
aqui é só
pulsação
parece outra
cidade
parece
coração
perdida em sono
na boca do dia
me perco no corpo
nas curvas
desse bicho solto
largado
lagarto
na cama
espalhado no tempo
de uma sexta-feira
infinita
de leve
ainda dormindo
esboça um sorriso
vindo do sonho
o lençol respira
num ciclo
movendo estrelas
em pleno dia
na boca da cama
galáxias da cama
esparramado universo
fabricando verso
numa brincadeira
ainda dormindo
esboça um sorriso
é quase um mantra
de sonhos lindos
e sem pijama
só de calcinha
invade a retina míope
de um poeta
o meu desejo
na boca da tua pele
se faz primeiro
impulso
instinto
depois tela
depois palavra
depois mentira
depois invenção
depois verdade
depois mito
mais ou menos
nessa desordem
na boca do sentido
vem um leve grito
do seu gemido
mesmo ainda dormindo
escuto os sons
da madrugada
me vem idéias
loucas
nem tão loucas
de escrever-te
comigo mesmo
em tua pele
essa poesia
ensaiamos faz tempo
o pé descoberto
pra fora do lençol
uma parte do ombro
uma do joelho
atrás dos cabelos
e as mãos em pose
(um quadro cubista?)
água não se recorta
só flui
e o lençol
na boca do corpo
se esparrama
como rio de janeiro
em ínicio de junho
paredes abacate
a cama branca
travesseiro tropical
lençol branco
de estrelas
e um corpo
chocolate ao leite
doce
(com alguma pimenta, brasileira)
um corpo que se derrete
na boca de um poeta
eu mais desejo
que escrevo
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