terça-feira, 24 de agosto de 2010

dobradura

ao dobrar a esquina
bem ali no meio da calçada
esbarrei num homem apressado
que era eu

e como se dobrasse um poema
as palavras, trocadas, agora
indefiniam-me melhor do que nunca
que eu me fosse

e como se dobrasse uma música
as pausas, agora compassos e desritmia
repercutiam no vazio da minh`alma
como um silêncio gritado
que eu seria

e como se dobrasse horizontes
as gaivotas alteravam suas rotas
em zigzagues de pollock
brincando de arte com os raios de sol
sombras de nuvens metafóricas
que podem ser

e como se dobrasse minha coluna
esparramando os braços sobre a geografia feminina
dessa cidade
eu faço origami
de mim mesmo

e fica um pássaro
com asas de palavras.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

gravidade

de olhos fechados
caminhando na ponta dos pés
sorrateiramente entrelaçamos nossos corpos
à procura de um silêncio azul por de dentro das vertigens
e vamos reconhecendo a memória do futuro, voando aqui no longe
por entre bandeiras de tripas e trinados vocalises enfeitando o chão celeste
e vamos descobrindo américas e cangotes onde a felicidade inventa limites em gorjeios
e vamos colorindo os sons com o toque áspero de um beijo perfumado de nadas roubados
como escravos construindo pirâmides ao contrário, nós entramos no barro da terra em plena madrugada

e cantamos um samba
e dançamos um samba
na ponta dos pés
no abismo

mesmo sabendo
que não tem abismo

só queda.

sábado, 21 de agosto de 2010

aniversário do blog - 2 anos

agora que me dou conta:
esse blog tem exatos 2 anos.
está fazendo aniversário hoje.
olhando para trás, para o primeiro post, percebo o quanto ele mudou
o quanto eu mudei.
eu texto eu mesmo.
é engraçado ver esse percurso todo,
2 anos escrevendo com uma certa regularidade
dão uma certa intimidade com o eu texto.
mas é sempre um mistério e sempre uma descoberta
das américas e cangotes.
percebo que me repito muito
isso é estilo.
não faz mal.
depois de 2 anos, que fazer?
como manter ainda o interesse nesse casamento com as palavras?
se bem que não é um casamento comum.
é meio aberto para o dentro.
e aberto meio para fora.
como um olho de onde sai uma pessoa de de dentro.
tempo tempo tempo tempo.
piscar e o poema passa.

recomendo pra todo mundo:
escreva. tenha um blog. escreva regularmente.
claro, não é porque escreveu que está bom.
mas escrever está além do bem e do mal.
e lá de onde tem o nada
é que vem o eu texto.
um bom poema é tão nada
tão transparentemente opaco
que só dá pra ver o leitor
vendo o mundo
vendado.

engraçado ver o primeiro post desse blog,
como eu não tinha idéia de onde chegar.

e consegui chegar!
no não lugar!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

brincando de arnaldo antunes mas podendo depois reescrever, mudar o título e virar uma poesia mais com cara de poesia séria

as coisas que valem a pena são de garça.

as coisas que valem a pena são de

graça

as coisas que valem

só graça

sogra

S.A

as coisas

que estão no vale

são as garças

voar no vale é de graça

voar pra valer

que nem a garça

faz

fax

faxina

as coisas que valem a faxina

são de graça

as coisas que valem

a rima

são grátis

são

loucas

são loucas, tá?

deu.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

elefantes em posições de yoga

é muito difícil fazer um poema
porque é preciso usar uma força descomunal
com as palavras
para juntar corpos tão díspares quanto contrários.

(força descomunal é força fora do lugar-comum)

(você pode até usar o lugar-comum
contanto que ele esteja fora do lugar)

um soco dócil.

um beijo do sol.

um céu aqui no meu pé.

ontem descobrirei.

Uma breve estória do eu finito

Minha vida começou quando comecei a escrever.
Essa frase.
Antes dela não havia luz nem barro.
Não havia nem mesmo o tempo verbal.
Só havia o desverbo.
E seres invertebrados começaram a andar por de sobre,
roçando nas letras e nos pequenos abismos.
Choveu fininho e depois muito.
O sol beijou no rosto de uma ameba
e ela floresceu virgem um verso
de poema.

Minha vida começou quando flores e eu
nos abrimos para o sol penetrar.
Ele umedeceu o chão dos silêncios
com saliva quente e multidão.
A gravidade insistiu em cair sobre nossos
.............................centros...............................
deslocando o peso das frases para o
...............................................................fim
como..................em
...........elefantes......posições
................................................de yoga
se desequilibrando em pluriversos paralelos.
Do primeiro gozo ao cair no chão cresceu um
poema.

Minha vida começou quando terminou.
Como terminou
modificou-si-chão
Onde terminou
movimentou-si-em-vão
O quê terminou
coisificou-si-tão
Quem terminou
identificou-si-não
poema.

Começar um poema é começar a viver.

sábado, 14 de agosto de 2010

cair

tropeçar
cair
jogar o umbigo no teto
terreiro
tropeçar
olhos fechados
jogar a coluna no teto
cair no céu
olhos abertos
cair em sol
tropeçar
em cima de tua
terra e vista
cair
novamente cair
relembrar o que não viu
sonhar com teu cheiro
travesseiro
abismo
sentir o perfume
laranjanela
ela caminha
cair do silêncio
cantar
uma aquarela
segundos intensos
segundas intenções
terceiro sol
cair
a noite
em si
tropeçar no abismo de ser
feliz
pedalar a madrugada
num sorriso num pé
pisar o terreiro
sagrar
sangrar de si
em cima do céu
chorar
cair
tropeçar numa pedra
no caminho
uma pedra
espirro de poeta
espinho
cair
novamente e novamente
cair
inventar um destino
cair
cair


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

mapa

escrevo um soneto com meu corpo
e percebo que não é um soneto
já que não tenho forma
nem conteúdo

sou todo nada.

escrevo um soneto com meu corpo
e bebo lágrimas da lua sem copo
direto no gargalo do galo da noite
gauche na garganta um grito entalado

sou todo nada.

escrevo um poema com meu sangue
mas não serve
porque poema que é poema
não coagula

sou quase tudo errado.

escrevo um silêncio com berros
acasalando socos com borboletas
acasalando formigas com bombas atômicas
acasalando olhos de moscas com boings 747

sou enquanto não me sou.

escrevo sinceridades falsas
sobre tudo o que não sei
sobre eu e você
sobretudo: nada

soumos eus e voceus numa jangada.

escravo com meu corpo
de palavras cativadas

escracho - SKASHOW - SCJAJREUH - SCRSJFCO
esterco - 01111100001101000100110100111000101111110100010010010

escrevo com meus medos
pesadelos mais sonháveis que a vida

escrevo com meus nadas
naus e as náuseas
de navegar por mares ias
como quem navega bacias
quentes de barrigas lisas
meninas

escrevo com meu desejo
de querer tudo ao contrário

odut oa oirártnoc aroga

só te prometo uma coisa:

minto

mato

meto
---------------------
não tenho mapa
a não ser meu corpo




sábado, 7 de agosto de 2010

Paraty

Não sou Manoel de Barros.
Não posso ser Manoel de Barros.
Não posso querer ser Manoel de Barros.

À parte isso, tenho em mim sonhos molhados de peixes e vaginas.

Queria ter 7 anos, mas tenho.
Admiro cães vadios que se lambem sem dar bom-dia.
Sou irresponsável para ser vadio.

Poesia pra mim já nasce com recheio de minhas porcarias.
Seria preciso enxugá-las com minha reza e meu orgasmo.
Mas tenho preguiça de não fazê-lo.
Acabo começando sem começos, como aquele mágico decadente tira papel infinitamente da boca: sou prolixo e pró-lixo.

Ontem me chamaram de prolixo.
Chorei
de emoção.
Os poetas que eu mais admiro sempre foram profissionais de lixo:
são os maiores consumidores daquilo que a civilização descarta.

Prefiro um cão que um fernando henrique cardoso.
Prefiro um doido sem botas que um acadêmico.
Prefiro um churros no chão que um charuto cubano.

Palavra que não se faz de trouxa não merece meu desrespeito verbal.
Eu gosto quando elas vem rebolando, se insinuando todas, mexendo seus quadris silábicos.
As palavras são assanhadas para poema.
As imagens roçam suas vergonhas em mim procurando acasalar com minhas palavras duras.
Eu só digo sim.
Sou facinho pra poema.

O silêncio que vem de mim fica cantando música caipira numa viola sem corda.
(talvez por isso eu fico rouco)

Não posso fugir dos seres que não sou.
Só me resta recolher na beira de meninas os amores que perdi
e fazer um pequeno barco de papel para conquistar cangotes e américas.

Não posso fingir que me sou.
Palavra de poema é quase de teatro: tem que ser ridícula pra falar de amor
e tem que amar a vida pra falar de tragédia.
Quem não tem rima só pode rir de si mesmo.



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

salva me saliva

(o maior perigo é se tornar amigo das sombras que dançam nas praças vazias
cheio de cores de amores e sobrenomescheiro de novas formas de odoresadoro o seu cheiro de dendê e de doença////é minha crença esse ritmoque a vida caminha apressadanas trilhas do meu silêncioinvisto nabolsa de valores ínfimos.........

um átomo de surpresa
subo em cima da mesa
nego o negro do sangue
e sambo em cima da reza):

salva minha saliva
salva a dor e a tristeza
canta um sonho distinto
cospe em cima da mesa

salva a sua promessa
de não ter mais certeza
acho a vida tão linda
nua em cima da mesa

salva a dor do pecado
sal e amor numa praia
particular o recado
de aplaudir essa vaia

salva a sua canela
feito um doce gelado
beijo de sobremesa
beiju caramelado

come a fruta madura
se lambuza de fado
louca lua minguante
parece um c ao contrário

cães dormindo na rua
e eu sonhando acordado
tudo virando nada
fumaça de baseado

salva as mães africanas
com seus bons requebrados
cor de pele profana
coração degredado

salva a porta dos mares
onde dançam os deuses
quero os risos solares
perco os sisos e feudos

adoro o seu cheiro de vida
sublimando a certeza
quero a dança da morte
viva em cima da mesa

joga um charme na praça
arde em chama sem brasa
brasil nas palmas das mãos
fode os sonhos em vão

joga à sua maneira
yoga televisão
joga uma capoeira
cai e se joga no chão

planta uma bananeira
come manga com os pés
sobe na goiabeira
cidade toda ao revés

canta e dança uma musa
usa e abusa de mim
faz um pecado nos USA
salva a dor de ser assim

cataclisma urbano
roubando marias de mim
um ciclista sem pernas
contornando o jardim

salva a linda menina
salve olinda também
salve a dor do prazer
e o prazer que não vem

salve a bola de gude
presa no seu olhar
universo amiúde
alaúde solar

vou cagar nessa estrada
poesiar meu amor
choro bandolins de lágrimas
fujo de onde for

mija numa parede
muro das lamentações
está tão longe da gente
escreve em mijo "perdão"

salva me saliva de sonhos
sonha e salva a cidade
sabe que eu nunca minto
só quando digo a verdade

saiba que eu nunca minto
só quando digo a verdade

domingo, 1 de agosto de 2010

lista preu me lembrar: salvador/semcine/uff

- odara medley no ônibus, com baixolão, durando uns 15 minutos, entrecortando com sossego, e passando o chapéu em algum posto de parada de estrada com uma velhinha colocando 30 centavos depois de dizer depois eu coloco mais é que eu to apertada

- música infinita

- filmes nigerianos! (peido, gente que rouba coisas, pés elefantíacos, MULEQ CAPETA!)

- filme holywoodiano no ônibus: num fode!

- não tomar banho

- aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhh (fine) aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah (final de teorema do pasolini)

- uma velha coroca não sabendo falar sobre glauber/pasolini

- samba, suor, falta de cerveja, bundas, cabelo afro, negras fortes, rebolar, a origem do povo brasileiro

- cheiro de dendê e mijo

- nova schin

- ficar preso no próprio corpo / mágica de colocar a moeda no cutuvelo

- acarajé: R$2,50

- festa no praia dos livros: festa numa livraria: dança afro e caribenha/eletro!

- elevador lacerda não tem graça

- o cachorro falando "ação" - filme do pasolini

- michelange quay - cineasta maneiro pra caralho do haiti que falou com a gente e que curte glauber, godar e pasolini - o cara é lelepípedo e não sabe

- roger é um treco doido

- tradutores simultâneos: não fode! (o maneiro foi a torre de babel mesmo! francês, inglês, espanhol, italiano até português!)

- não fode!

- sessão de 4 horas: "eu gostaria de chamar a equipe...": não fode!

- filme da helena - "desbundante"

- simone spolladore nua - deus existe e é um escultor e poeta

- selinho na Helena Ignez - musa do cinema brasileiro