Não sou Manoel de Barros.
Não posso ser Manoel de Barros.
Não posso querer ser Manoel de Barros.
À parte isso, tenho em mim sonhos molhados de peixes e vaginas.
Queria ter 7 anos, mas tenho.
Admiro cães vadios que se lambem sem dar bom-dia.
Sou irresponsável para ser vadio.
Poesia pra mim já nasce com recheio de minhas porcarias.
Seria preciso enxugá-las com minha reza e meu orgasmo.
Mas tenho preguiça de não fazê-lo.
Acabo começando sem começos, como aquele mágico decadente tira papel infinitamente da boca: sou prolixo e pró-lixo.
Ontem me chamaram de prolixo.
Chorei
de emoção.
Os poetas que eu mais admiro sempre foram profissionais de lixo:
são os maiores consumidores daquilo que a civilização descarta.
Prefiro um cão que um fernando henrique cardoso.
Prefiro um doido sem botas que um acadêmico.
Prefiro um churros no chão que um charuto cubano.
Palavra que não se faz de trouxa não merece meu desrespeito verbal.
Eu gosto quando elas vem rebolando, se insinuando todas, mexendo seus quadris silábicos.
As palavras são assanhadas para poema.
As imagens roçam suas vergonhas em mim procurando acasalar com minhas palavras duras.
Eu só digo sim.
Sou facinho pra poema.
O silêncio que vem de mim fica cantando música caipira numa viola sem corda.
(talvez por isso eu fico rouco)
Não posso fugir dos seres que não sou.
Só me resta recolher na beira de meninas os amores que perdi
e fazer um pequeno barco de papel para conquistar cangotes e américas.
Não posso fingir que me sou.
Palavra de poema é quase de teatro: tem que ser ridícula pra falar de amor
e tem que amar a vida pra falar de tragédia.
Quem não tem rima só pode rir de si mesmo.