você é um caracol
de batom vermelho
se enrosca fugindo do sol
e não escuta conselho
você é um caracol
labirinto de espelho
pode se ver um só
ou milhares de medos
você é morena
do cravo e canela
nem grande nem pequena
a altura dela
parece meu sonho antigo
que eu carrego acordado
combina muito comigo
uma mistura de fado
nunca ganhou poesia
a não ser do pai poeta
só pode ser fantasia
uma estória incorreta
como pode, menina
ninguém ter te escrito até ontem
se sei que por onde caminha
caracóis seduzidos se escondem?
como pode, menina
fugir pro casco espiral
sempre que o sol aproxima
por dentro constrói temporal?
você é um caracol-mulher
de batom vermelho
dança que nem a ginger
quando inventa de frente ao espelho
esse poeminha rimado
mal-rimado que nem de criança
parece algo quebrado
ritmo vai que balança
percebe que sonho acordado
nem preciso deitar e dormir aqui
você faz meu sonho sonhado
parecer como um filme de Berkeley
você é um caracol-criança
de batom vermelho flor no cabelo também
inventa do nada uma dança
que era só um cochilo num trem
me pede um cafuné num instante
no outro não sabe o que quer
você é um caracol-viajante
se enroscando no mundo que é
num mato perdido em minas
rasteja a memória no chão
cães, piques, meninas
tudo na palma da mão
conheço as estórias completas
conheço porque inventei assim
poetas são como profetas
escrevem o começo depois do fim
não tenha medo do sol
esse é meu conselho
você é um caracol
de batom vermelho
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