quarta-feira, 9 de maio de 2012

caracol de batom vermelho

você é um caracol
de batom vermelho

se enrosca fugindo do sol
e não escuta conselho

você é um caracol
labirinto de espelho

pode se ver um só
ou milhares de medos

você é morena
do cravo e canela

nem grande nem pequena
a altura dela

parece meu sonho antigo
que eu carrego acordado

combina muito comigo
uma mistura de fado

nunca ganhou poesia
a não ser do pai poeta

só pode ser fantasia
uma estória incorreta

como pode, menina
ninguém ter te escrito até ontem

se sei que por onde caminha
caracóis seduzidos se escondem?

como pode, menina
fugir pro casco espiral

sempre que o sol aproxima
por dentro constrói temporal?

você é um caracol-mulher
de batom vermelho

dança que nem a ginger
quando inventa de frente ao espelho

esse poeminha rimado
mal-rimado que nem de criança

parece algo quebrado
ritmo vai que balança

percebe que sonho acordado
nem preciso deitar e dormir aqui

você faz meu sonho sonhado
parecer como um filme de Berkeley

você é um caracol-criança
de batom vermelho flor no cabelo também

inventa do nada uma dança
que era só um cochilo num trem

me pede um cafuné num instante
no outro não sabe o que quer

você é um caracol-viajante
se enroscando no mundo que é

num mato perdido em minas
rasteja a memória no chão

cães, piques, meninas
tudo na palma da mão

conheço as estórias completas
conheço porque inventei assim

poetas são como profetas
escrevem o começo depois do fim

não tenha medo do sol
esse é meu conselho

você é um caracol
de batom vermelho

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