sábado, 19 de maio de 2012

flui

ela me fez entender heráclito
numa mesa de restaurante a quilo
que nem era vegetariano
com flores de plástico
chão de ardósia
2 formigas no chão

no rádio tocava
garotos não resistem aos seus mistérios
e you're beautiful
belas sugestões!

não quis mostrar
o caderno, o diário,
mas consegui ler
assim de relance
algumas palavras como
silêncio, suzana, etc...

nesse pacto secreto
como aqueles de infância
sobre coisas muito banais
mas secretas
o trato era escrever sobre o almoço
e ela fez um poema
muito melhor

não devia ter lido antes...

o desafio era estar
ser
ao mesmo tempo sem deixar
de poesiar
como se faz
protegido pelas conchas
da escrita

e assim
por mais que véus e enfeites de plástico
cobrissem um pouco o espaço
como em filmes de Wong Kar-Wai
(ou o Carvalho - como costumava apelidar)
por mais que as banalidades
as apresentações
e modos sociais
inventassem algumas conchas

algum sonho tava ali
talvez sendo carregado por formigas
talvez pulsando alguma vida
nas flores de plástico
nos gestos
no sorriso
em lembranças inventadas

e já que se pode caminhar pelo mesmo rio
duas vezes
se a frase às vezes não encaixa
e nessa ondulação flutuante
das coisas que se descobrem no mar
pequenos tesouros
fragmentos de antigos naufrágios
até águas de outros rios
tudo flui

estou até rindo agora
pensando:
por mais que eu tente
esse poema não vai ser tão bom
quanto estar lá
(ou quanto o poema dela)

ah! pro escambau!

quem falou que a vida se separa em poesia e em vida?
já até me falaram isso

mas eu não acreditei



Nenhum comentário:

Postar um comentário