segunda-feira, 7 de maio de 2012

puro barato

percorro
teu corpo
palavra
escorrego
pela sala
num canto
do pescoço

esqueço
o tempo
sussurrando
vento
num fio
de cabelo
arrepiado

as mãos
assumem
o corpo
num toque
torto
enquanto
o mundo
gira
ao redor
da tua camisa
lisa
solta

espera
um pouco
o gozo
preso
solto
na ponta
da boca
morna

e morde
a carne
quente
na suave
violência
de tornar
o corpo
um só

envolve
o ar
num gesto
bruto
seiva
elaborada
com o nosso
suor

escorre
sujo
um sonho
fundo
um deus
de carne
um louco
som

e presa
na parede
como
presa
como
ventre
livre
dentro
como
a tua pele
e pêlo
ímpar

descreve
com o dorso
interroga
a curvatura
da cintura
com cintura
consentindo
em sufocar
o grito
gemido
ao dar

a cara
à tapa
a nádega
a faca
a esfera
ocular
o eclipse
lunar
a própria
terra
enterrada
em seu
gozar

espera
mais um
pouco
e eu já
rouco
arranho o
corpo
com os
dentes
enquanto
torce
a cama
o tempo
o espaço
sideral

invade
em movimento
vulcão de dentro
percorre o corpo
palavra
torto
invade o tempo
por entre as carnes
por entre as pernas
invade os mares
as primaveras
e vem de um tempo
que nem era tempo
e vem com força
invade a moça
transforma tudo
inventa um corpo
de um só corpo
inventa um som
maior que o om
inventa a espera
o esperma
fecunda a terra
inventa o verde
que não se perde
fazenda viva
inventa a vida
em forma vulva
e vem molhando
em seiva sangue sublimado
em sonho já sonhado
inventa um corpo em rima
em cima um do outro
se faz de outra
inventa ruas
por entre as pernas
e grita nua
palavras xulas
inventa a puta
se faz de muitas
inventa um jeito
se dá sem medo
entrega o seio
a minha língua
inventa rimas
e num crescendo
aumenta o ritmo
o corpo inventa
caminhos vivos
em meio a líquidos
e superfícies
descobre a pele
desperta vícios
alucinados
o olhar em branco
lençol molhado
o sol é lua
no céu nublado
o ventre uiva
a céu aberto
invade o músculo
em tempestade
inventa o corpo
e parte em arte
cada pedaço
teu corpo arde
em brasa fria
e na barriga
eu bebo e paro
avanço e bebo
o nosso oásis
até os pêlos
dos teus cabelos
invento redes
invento tardes
e deito e canso
descanso e deito
e durmo e acordo
e acordo e sonho
em tuas redes
invento o grito
do teu gemido
parece um mito
de muito tempo

...

agora dorme
agora pulsa
transborda tudo
e ri de tudo
inventa a carne rubra
até o umbigo
e vibra a nuca
em ondas livres
o corpo em pane
um tsunami
passou por dentro
agora dorme
agora pulsa
dragão mais lento
sorrindo leve
inventa um sono
inventa um corpo
agora sem corpo
agora livre
depois do ato

puro barato


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