.
.
hoje eu fechei os olhos e entendi o Sol
entendi que as coisas são feitas eternas
e que só hoje posso brindar o futuro
meus olhos passeiam pela vida com a certeza
de alcançar os rios mais bonitos do planeta
e tocar os pés no encontro de águas
chorar
e navegar em qualquer embarcação
para qualquer porto
porque o rio que passa na minha aldeia
são todos os rios do mundo
e nenhum rio do mundo
eu não tenho nenhum rio que passe em minha aldeia:
ela já é o rio
eu já sou a aldeia
ah! essas músicas idiotas não me saem da cabeça
não se pode mais fazer nada
um copo de chopp, cigarros, eu inventei promessas
e os futuros continuam os mesmos
somente o presente mente
só
eu seguro, então, nos seus braços
e juntos vamos contemplar a transitoriedade das coisas eternas
olhando o Sol, os prédios
a vontade de ser livre
o pombo atropelado no meio da rua
e o silêncio que de dele emana
antes eu saberia fazer rimas
e juntaria palavras como ímãs
mas hoje não sou mais poeta
perdi o alvo, a reta, a seta
estou nú diante de Deus (diante de mim mesmo)
lá vai aquele homem vestindo sua couraça
de pobreza e sorriso
eu daria um pão
eu daria minha vida
se não fosse pobre de espírito
se não pedisse migalhas de poesias
pelas ruas, pelos rios, tentando decifrar a natureza
cometemos muitos erros ao tentar decifrar a natureza:
a poesia se perde, como agora.
eu poderia dar pontos nos nós
dizer pra que vim ao mundo
falar a Verdade.
mas eu olho os olhos das crianças no metro:
elas não tem olhos, tem espelhos.
domingo, 31 de maio de 2009
sexta-feira, 29 de maio de 2009
beijo torto
um beijo torto
colocou o mundo no lugar
o beijo ainda existe
no lugares do meu amor
um beijo torto
que existe apesar do chão
da gravidade
azulejos
espelho do banheiro
escada
todo mundo passa
correndo
mas eu vejo
câmera-lenta
colocou o mundo no lugar
o beijo ainda existe
no lugares do meu amor
um beijo torto
que existe apesar do chão
da gravidade
azulejos
espelho do banheiro
escada
todo mundo passa
correndo
mas eu vejo
câmera-lenta
domingo, 24 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
A poesia nem existe
.
.
como faltou água hoje na descarga do banheiro
enchi um balde com água e desinfetante
depois que defequei.
joguei de uma vez só
e a minha sujeira desceu toda.
pouco tempo atrás eu estava pedindo
para alguém me limpar.
mas eu sei que o tempo não existe
do jeito que achamos que existe:
o que chamamos tempo
pode ser somente o acontecimento simultâneo
de eventos.
eu aqui jogando o balde com água e desinfetante
na privada
e os ponteiros do relógio do meu pulso
marcando 19:50.
o que eu gosto na poesia
é sincronizar
imagens
e
sons
que nunca existiram juntos.
desse jeito
ao ler a poesia
conseguimos viver no presente atemporal
de toda a nossa eternidade e efêmeridade
através de todas as banais ações e eventos
conseguimos viver a poesia
sem dimensões.
ler uma poesia assim
talvez seja
por um tempo indefinido (pois não há de fato)
ser o que se é,
sem metáforas
sem rimas
sem fim,
.
como faltou água hoje na descarga do banheiro
enchi um balde com água e desinfetante
depois que defequei.
joguei de uma vez só
e a minha sujeira desceu toda.
pouco tempo atrás eu estava pedindo
para alguém me limpar.
mas eu sei que o tempo não existe
do jeito que achamos que existe:
o que chamamos tempo
pode ser somente o acontecimento simultâneo
de eventos.
eu aqui jogando o balde com água e desinfetante
na privada
e os ponteiros do relógio do meu pulso
marcando 19:50.
o que eu gosto na poesia
é sincronizar
imagens
e
sons
que nunca existiram juntos.
desse jeito
ao ler a poesia
conseguimos viver no presente atemporal
de toda a nossa eternidade e efêmeridade
através de todas as banais ações e eventos
conseguimos viver a poesia
sem dimensões.
ler uma poesia assim
talvez seja
por um tempo indefinido (pois não há de fato)
ser o que se é,
sem metáforas
sem rimas
sem fim,
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Teoria Quântica Unificada
Subtítulo:
Introdução e análise da dinâmica dos corpos em desmovimento
Tive o sonho místico dos cientistas
profetizei como Einstein, Descartes
o futuro do mundo em mil pontos de vista
Tive o sonho místico dos cientistas
profetizei como Einstein, Descartes
o futuro do mundo sem restos, sem pistas
o templo era toda a natureza e suas partes
Primeiro vi Deuses e Deusas lindas
inventando fenômenos, destruindo vidas
tive o sonho místico dos cientistas
por um corte preciso no tempo e no espaço
entendi Deus, os Homens e a Poesia
entendi que os poetas são deuses
e que Deus é poeta
vi Fernando Pessoa voando
com asas feitas de papel vagabundo
tinha também o Bandeira
pescando palavras numa
piscina de plástico
ao seu lado
Vinícius bebia chuva
de um copo de nuvem
tive o sonho místico dos cientistas
e fiz esse artigo
vou publicá-lo em algum periódico
de física avançada
Introdução e análise da dinâmica dos corpos em desmovimento
Tive o sonho místico dos cientistas
profetizei como Einstein, Descartes
o futuro do mundo em mil pontos de vista
Tive o sonho místico dos cientistas
profetizei como Einstein, Descartes
o futuro do mundo sem restos, sem pistas
o templo era toda a natureza e suas partes
Primeiro vi Deuses e Deusas lindas
inventando fenômenos, destruindo vidas
tive o sonho místico dos cientistas
por um corte preciso no tempo e no espaço
entendi Deus, os Homens e a Poesia
entendi que os poetas são deuses
e que Deus é poeta
vi Fernando Pessoa voando
com asas feitas de papel vagabundo
tinha também o Bandeira
pescando palavras numa
piscina de plástico
ao seu lado
Vinícius bebia chuva
de um copo de nuvem
tive o sonho místico dos cientistas
e fiz esse artigo
vou publicá-lo em algum periódico
de física avançada
terça-feira, 19 de maio de 2009
Importância
Todo aquele passado que enfrentarei amanhã me deu insônias anteontem.
Conhecer mais é entender menos. Meu coração está balbuciando uma língua arcaica:
- Omito o mito ou minto muito imito o mito omito o mito...
Hoje meu pai disse que eu estou perdido. Quisera, então, que ele tivesse me achado antes.
Antes havia do que se perder. Pois como pode um toque se perder se já afeto em ele não havia. Vejo naquelas crianças as sementes geneticamente modificadas de um eu que aos poucos não vou sendo.
- O mundo é difícil.
(o pulso animal, quase humano, murmura nas artérias)
Difícil é penetrar nas rochas sólidas que a solidão entre nós juntou. Todo aquele passado que enfrentarei amanhã não tinha me dado insônias hoje. Só nos comunicamos verdadeiramente por metáforas. Só falamos de nós mesmos quando falamos dos outros. Só dizemos a verdade quando mentimos, só choramos quando rimos, só falamos da vida quando falamos da morte. Só falamos do tempo quando falamos...quando silenciamos.
- Isso não é sério.
Precisávamos rir mais ontem e depois de amanhã eu teria rido. Rir é uma forma de gostar sem forma.
- E enquanto isso?
A importância das coisas, dos lugares que fotografou, das mulheres que amou, se esvai no mundo material. Pertence somente ao pó, poeira, florescendo as gramas e reciclando as terras. Esses objetivos, para quem acredita na vida que não tem sentido, não tem sentido.
Enquanto isso eu vejo a eternidade das coisas que não posso ver. A eternidade da música que não escuto. A eternidade suave das palavras de afeto que você nunca irá dizer. A eternidade breve dessa vida.
Enquanto isso eu me procuro. Eu te procuro. Sou eu o perdido?
Procuro-te perdido em mim.
Improviso em Sevilha n:1
a arena eu vejo quando fecho os olhos
em Sevilha, o escuro é claro
os touros estão nas ruas
nas paredes e no creme
só vejo os meus passos
num passado que se perdeu
o Sol de Sevilha
seca o que nunca foi meu
o Som de Sevilha
berra um silêncio d'Orfeu
e eu firmo os pés na areia da arena:
revejo mil vezes a cena:
o pano vermelho é minha camisa
na brisa amena do dia em Sevilha
por que o dia
é Sevilha
assim como Sevilha
é o dia?
em Sevilha, o escuro é claro
os touros estão nas ruas
nas paredes e no creme
só vejo os meus passos
num passado que se perdeu
o Sol de Sevilha
seca o que nunca foi meu
o Som de Sevilha
berra um silêncio d'Orfeu
e eu firmo os pés na areia da arena:
revejo mil vezes a cena:
o pano vermelho é minha camisa
na brisa amena do dia em Sevilha
por que o dia
é Sevilha
assim como Sevilha
é o dia?
domingo, 17 de maio de 2009
Amanhã
escrevi esses versos daqui a vinte anos.
os versos ficaram mais lentos no futuro.
é a minha respiração que mudou amanhã.
ela queima quando passa nos pulmões
e quando sai no papel.
daqui a vinte anos
fiz a minha vida mudar.
escolhi o que colhi
escrevi o que eu vi
amanhã.
os versos ficaram mais lentos no futuro.
é a minha respiração que mudou amanhã.
ela queima quando passa nos pulmões
e quando sai no papel.
daqui a vinte anos
fiz a minha vida mudar.
escolhi o que colhi
escrevi o que eu vi
amanhã.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Vida Privada
Estava dormindo.
A luz acendendo me acordou.
Era ele.
Normalmente ele fazia de manhã.
Abaixou minha pálpebra
e começou.
A primeira foi de uma vez só.
Um mergulho até a minha garganta.
Depois demorou um pouco mais.
Saiu devagar.
Pensei na minha cidade,
naquele tempo em que eu ficava no meu lugar,
no meu canto.
Depois vieram e me tiraram de lá.
Me deram essa forma.
Às vezes não reconheço meu rosto.
Não fui eu que fiz o meu rosto.
Saiu devagar, mas saiu.
Ele se limpou.
Puxou o meu brinco.
O cheiro ainda ficou em mim.
Ele lavou as mãos.
E apagou a luz.
Não conseguia mais dormir.
Pausa
vou dar um tempo à poesia
vou deixar que ela saia
de seu atual casulo
livre, mais leve, consciente
de suas asas
e efemeridade
quinta-feira, 14 de maio de 2009
compasso em 5
ela anda
ela rebola
de banda larga
de bunda
ela anda
ela passa
na minha cabeça
sem pressa
ela anda
balança
a bunda
balança
a bunda
balança
o mundo
ela anda
e rebola
quadris
eu quis
entender
as coisas
eu caí
no chão
de bunda
ela bunda
anda
rebola
a terra
pra lá
e pra cá
ela rebola
a bunda
ela cai
de terra
em terra
e bunda
o mundo
ela rebola
de banda larga
de bunda
ela anda
ela passa
na minha cabeça
sem pressa
ela anda
balança
a bunda
balança
a bunda
balança
o mundo
ela anda
e rebola
quadris
eu quis
entender
as coisas
eu caí
no chão
de bunda
ela bunda
anda
rebola
a terra
pra lá
e pra cá
ela rebola
a bunda
ela cai
de terra
em terra
e bunda
o mundo
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Outro
Chorei páginas dos meus olhos.
Chorei até molhar os livres.
Quem fala em mim é sempre outro.
Chorei, enfim, de risos tristes.
Quem anda descalço no cinema
tem os pés pisando sonhos.
Quem corre atrás de morena
só tem os calos que calam
só tem os olhos nos olhos
do Outro.
Eu queria ser a terra nos pés.
Falta-me coragem para ser de terra.
Faltam-me páginas para molhar a terra.
Falto-me eu no Outro.
Pra que servem palavras senão para parar o sentido do mundo?
Se eu pudesse sumir
voando nas minhas palavras
desaparecendo na minha linguagem
virar um pó
sem imagem
nem som:
mistério.
Chorei até molhar os livres.
Quem fala em mim é sempre outro.
Chorei, enfim, de risos tristes.
Quem anda descalço no cinema
tem os pés pisando sonhos.
Quem corre atrás de morena
só tem os calos que calam
só tem os olhos nos olhos
do Outro.
Eu queria ser a terra nos pés.
Falta-me coragem para ser de terra.
Faltam-me páginas para molhar a terra.
Falto-me eu no Outro.
Pra que servem palavras senão para parar o sentido do mundo?
Se eu pudesse sumir
voando nas minhas palavras
desaparecendo na minha linguagem
virar um pó
sem imagem
nem som:
mistério.
terça-feira, 12 de maio de 2009
Passatempo
quem mexe e entorta frases
e fura vazios no queijo
e desenlaça o cadarço da água da pia
de vez em quando vira passatempo.
quem pula relógios feitos por raios de sol
e cisma em escutar o que está escondido
nas mão fechadas da amiga
é na verdade mentira.
se você descobre quantas gotas de vidro
caem da chuva
e quantas poeiras o carro do pai
brinca de futebol
você também vira passatempo.
é inevitável.
quem gira a cabeça de um cão
ao chegar no apartamento
tem dentes brancos e postiços
quem desliga a tv com um pedaço de vassoura
sonha que está na penumbra que vem do oceano atlântico
quem corre atrás da lua
e come frango com quiabo
e depois dá um pedaço da lua
para o garfo provar
merece o meu respeito.
e fura vazios no queijo
e desenlaça o cadarço da água da pia
de vez em quando vira passatempo.
quem pula relógios feitos por raios de sol
e cisma em escutar o que está escondido
nas mão fechadas da amiga
é na verdade mentira.
se você descobre quantas gotas de vidro
caem da chuva
e quantas poeiras o carro do pai
brinca de futebol
você também vira passatempo.
é inevitável.
quem gira a cabeça de um cão
ao chegar no apartamento
tem dentes brancos e postiços
quem desliga a tv com um pedaço de vassoura
sonha que está na penumbra que vem do oceano atlântico
quem corre atrás da lua
e come frango com quiabo
e depois dá um pedaço da lua
para o garfo provar
merece o meu respeito.
domingo, 10 de maio de 2009
Mãe
Saí do seu ventre
para entrar para a História
você é o começo da minha memória
Fiquei na sua barriga
comendo a sua comida
sem ajudar na conta
ouví o que você ouvia
sentí o você sentia
e até sonhei seus sonhos
nosso coração bateu junto
no pulso da nossa alegria
de meu vir-ao-mundo
às vezes quando te vejo
percebo que você se vê
no meus (teus) olhos
às vezes quando sinto medo
eu guardo um pequeno segredo:
chamo o teu nome baixinho
desculpa se não comprei presente caro
não foi falta de carinho
sou apenas um estagiário
pra mim também só tem sentido
se o presente for sentido
como um poema espontâneo (especialmente criado)
você me deu a luz
nos sentidos infinitos dessa palavra
espero dar-te, então
o brilho dos meus olhos
ao viver na tua sombra
para entrar para a História
você é o começo da minha memória
Fiquei na sua barriga
comendo a sua comida
sem ajudar na conta
ouví o que você ouvia
sentí o você sentia
e até sonhei seus sonhos
nosso coração bateu junto
no pulso da nossa alegria
de meu vir-ao-mundo
às vezes quando te vejo
percebo que você se vê
no meus (teus) olhos
às vezes quando sinto medo
eu guardo um pequeno segredo:
chamo o teu nome baixinho
desculpa se não comprei presente caro
não foi falta de carinho
sou apenas um estagiário
pra mim também só tem sentido
se o presente for sentido
como um poema espontâneo (especialmente criado)
você me deu a luz
nos sentidos infinitos dessa palavra
espero dar-te, então
o brilho dos meus olhos
ao viver na tua sombra
sábado, 9 de maio de 2009
A dança
Da nuvem insensata que pairava na permanência dos cinzas urbanos, da paisagem absoluta, turvando a memória e dissipando a infância em cada gesto dos carros, em cada ruído artificial; da nuvem que nem a imaginação pode transfigurar em outro objeto, meu grito, e minha lágrima, ambos feitos de pura poeira maquínica, meu grito de desespero diante do silêncio ensurdecedor que precedeu a descoberta de mim, em cada partícula do veneno químico de minha saliva, transbordava um vírus moderno; da nuvem mais inconsequente, feita do sussuro do mais oriental dos textos; estava plasmado no espaço, no ar, no céu, um mistério ancestral e vazio, no chão que imitava madeira, nas ferrugens não tão velhas do armário e na secura da minha garganta: as palavras para descrever o mundo trocaram de par na dança da linguagem das coisas.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Não Rima
noite não rima com boite
é boate, que não rima com boato
mas me disseram que a noite late
que o leite moça, que não rima com:
como almoço
janto a janta
que não rima com tanta coisa tonta
que não rima nem de sina nem de bairro
que não rima nem é feito de barro, que não é manoel
nem de.
a rima pode ser
na língua
na retina míopa
na ná vasconselina, em fim
em finita brincadeira
a rima
arruma
a rua
da lira
a rima
arruma
a rua
da lira
arromba
a lua
e delíra!
As Meninas
no fundo do ônibus da escola
você me pediu pra namorar com você
eu perguntei:
- o que que eu preciso fazer?
você me falou:
- ah, a gente tem que andar de mão dada, e você me dar presente.
- então tá.
desde aquele dia
aquele dia de sol que cega a gente de tão sol
as meninas não eram mais meninas
eram coisas que queriam que a gente fizesse alguma coisa
pra ficar junto delas
um ano depois
dentro da cabine do banheiro da escola
uma outra me deu um beijo na boca
as amigas dela subiram nas privadas
das cabines ao lado
pra olhar
cinco segundos depois
a menina e as amigas tinham ido embora
e eu lá
acho que eu to parado
naquela cabine do banheiro
até hoje
tentando entender
as meninas
você me pediu pra namorar com você
eu perguntei:
- o que que eu preciso fazer?
você me falou:
- ah, a gente tem que andar de mão dada, e você me dar presente.
- então tá.
desde aquele dia
aquele dia de sol que cega a gente de tão sol
as meninas não eram mais meninas
eram coisas que queriam que a gente fizesse alguma coisa
pra ficar junto delas
um ano depois
dentro da cabine do banheiro da escola
uma outra me deu um beijo na boca
as amigas dela subiram nas privadas
das cabines ao lado
pra olhar
cinco segundos depois
a menina e as amigas tinham ido embora
e eu lá
acho que eu to parado
naquela cabine do banheiro
até hoje
tentando entender
as meninas
terça-feira, 5 de maio de 2009
Passou
Cruzei a paisagem rasgando sua imagem desfocada. A fotografia em pedaços dançava no ar que ficava para trás. O carro fazendo o papel da memória. E o papel do filme brilhando naquele sol que a lua faz. Na estrada os sentimentos freiam na proporção em que se acelera. Era só uma imagem. Mas antes era minha.
Peraí!
Peraí!
Quem falou que o céu é azul?
que as coisas caem?
que pra lá é o sul?
que o mar é salgado?
que 2 + 2 são 4?
que Deus é Um?
Eu repito que o céu é azul.
O céu repete que azul é.
O azul repete que céu é eu.
O repete repete que o céu é azul que o céu.
O repete repete que o céu é azul que o céu é.
Azul.
Se o céu azul fosse o céu azul
fóssil assim azul
se o seu céu e o meu céu fossem assim
azuis
os seus, os céus, ósseos fossem fósseis
assim fáceis assim
não teria poesia
e seria azia
em vez de asa.
Quem falou que o céu é azul?
que as coisas caem?
que pra lá é o sul?
que o mar é salgado?
que 2 + 2 são 4?
que Deus é Um?
Eu repito que o céu é azul.
O céu repete que azul é.
O azul repete que céu é eu.
O repete repete que o céu é azul que o céu.
O repete repete que o céu é azul que o céu é.
Azul.
Se o céu azul fosse o céu azul
fóssil assim azul
se o seu céu e o meu céu fossem assim
azuis
os seus, os céus, ósseos fossem fósseis
assim fáceis assim
não teria poesia
e seria azia
em vez de asa.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Boca
na boca vou provar o mundo
como quem bota a boca no mundo
na boca vou provar o mundo
como a bota bota a perna no mundo
como a galinha bota ovo novo
como a panela bota nela o ovo
como a gema é amarela e mela
como a boca cabe tudo do mundo
como a parede pega a rede e balança
como a balança deixa a pança maior
como a maior das maravilhas fervilha
como a comida na ida ainda moída
como a boca bota a boca no mundo
o sabor da lua é um vazio na boca
o sabor da lua é uma boca mordida
o sabor da sua boca vaza a lua mordida
o saber do mundo louco lua minguante
por mais que a boca abra louca e cante
eu como o mundo com a boca
que baba
como quem bota a boca no mundo
na boca vou provar o mundo
como a bota bota a perna no mundo
como a galinha bota ovo novo
como a panela bota nela o ovo
como a gema é amarela e mela
como a boca cabe tudo do mundo
como a parede pega a rede e balança
como a balança deixa a pança maior
como a maior das maravilhas fervilha
como a comida na ida ainda moída
como a boca bota a boca no mundo
o sabor da lua é um vazio na boca
o sabor da lua é uma boca mordida
o sabor da sua boca vaza a lua mordida
o saber do mundo louco lua minguante
por mais que a boca abra louca e cante
eu como o mundo com a boca
que baba
domingo, 3 de maio de 2009
Era
era uma vez tantas vezes
e tantas eras e tantas heras
e vez em quando enquanto era
vezes tontas: era ela.
e tantas eras e tantas heras
e vez em quando enquanto era
vezes tontas: era ela.
Destrambelha
é quando vira a canoa
pula o rodeio
destrambelha o horizonte
nosso coração sonolento
quer devorar sonhos de algodão
nas nuvens
é quando pula o cão
na água do mar
brilho - olho - solidão
encostar o ouvido no sabor das coisas
apalpar a delícia da lembrança
como suco de abacate
pula o rodeio
destrambelha o horizonte
nosso coração sonolento
quer devorar sonhos de algodão
nas nuvens
é quando pula o cão
na água do mar
brilho - olho - solidão
encostar o ouvido no sabor das coisas
apalpar a delícia da lembrança
como suco de abacate
sábado, 2 de maio de 2009
Quase
queria a sensação de encostar na areia pela primeira vez.
colocar os pezinhos pequenos na espuma da onda quebrada.
levantar, desequilibrado, e andar até minha mãe.
queria a sensação de dominar o mundo, a cada palavra.
as coisas cismam em estar.
eu queria o quase.
colocar os pezinhos pequenos na espuma da onda quebrada.
levantar, desequilibrado, e andar até minha mãe.
queria a sensação de dominar o mundo, a cada palavra.
as coisas cismam em estar.
eu queria o quase.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Poesia se faz?
Uns falam sobre a concisão. Não disperdiçar palavras.
Cortar, cortar. Catar feijões.
Um trabalho mineirador, que penera as palavras.
Achar a essência da poesia.
Sua forma mínima no tempo. Seu espaço mínimo no tempo.
Faz sentido. Parece que grande parte dos poetas, ou
a parte dos poetas grandes, segue essa "regra".
Mas,
poesia se faz?
Ou se acha,
descobre?
Ah, mas mesmo assim, achando-a como um diamante bruto:
é preciso lapidá-la?
Eu não sei ainda...
O que vocês acham?
Cortar, cortar. Catar feijões.
Um trabalho mineirador, que penera as palavras.
Achar a essência da poesia.
Sua forma mínima no tempo. Seu espaço mínimo no tempo.
Faz sentido. Parece que grande parte dos poetas, ou
a parte dos poetas grandes, segue essa "regra".
Mas,
poesia se faz?
Ou se acha,
descobre?
Ah, mas mesmo assim, achando-a como um diamante bruto:
é preciso lapidá-la?
Eu não sei ainda...
O que vocês acham?
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