sábado, 23 de maio de 2009

A poesia nem existe

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como faltou água hoje na descarga do banheiro
enchi um balde com água e desinfetante
depois que defequei.

joguei de uma vez só
e a minha sujeira desceu toda.

pouco tempo atrás eu estava pedindo
para alguém me limpar.

mas eu sei que o tempo não existe
do jeito que achamos que existe:

o que chamamos tempo
pode ser somente o acontecimento simultâneo
de eventos.

eu aqui jogando o balde com água e desinfetante
na privada
e os ponteiros do relógio do meu pulso
marcando 19:50.

o que eu gosto na poesia
é sincronizar
imagens
e
sons

que nunca existiram juntos.

desse jeito
ao ler a poesia
conseguimos viver no presente atemporal
de toda a nossa eternidade e efêmeridade
através de todas as banais ações e eventos
conseguimos viver a poesia
sem dimensões.

ler uma poesia assim
talvez seja
por um tempo indefinido (pois não há de fato)
ser o que se é,

sem metáforas
sem rimas

sem fim,

Um comentário:

  1. Eu gostaria de ter um computador em frente à privada também, para poder cagar e escrever poesia ao mesmo tempo.

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