domingo, 31 de maio de 2009

pontos

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hoje eu fechei os olhos e entendi o Sol
entendi que as coisas são feitas eternas
e que só hoje posso brindar o futuro

meus olhos passeiam pela vida com a certeza
de alcançar os rios mais bonitos do planeta
e tocar os pés no encontro de águas
chorar
e navegar em qualquer embarcação
para qualquer porto

porque o rio que passa na minha aldeia
são todos os rios do mundo
e nenhum rio do mundo

eu não tenho nenhum rio que passe em minha aldeia:
ela já é o rio
eu já sou a aldeia

ah! essas músicas idiotas não me saem da cabeça
não se pode mais fazer nada
um copo de chopp, cigarros, eu inventei promessas
e os futuros continuam os mesmos

somente o presente mente


eu seguro, então, nos seus braços
e juntos vamos contemplar a transitoriedade das coisas eternas
olhando o Sol, os prédios
a vontade de ser livre

o pombo atropelado no meio da rua
e o silêncio que de dele emana

antes eu saberia fazer rimas
e juntaria palavras como ímãs
mas hoje não sou mais poeta
perdi o alvo, a reta, a seta
estou nú diante de Deus (diante de mim mesmo)

lá vai aquele homem vestindo sua couraça
de pobreza e sorriso
eu daria um pão
eu daria minha vida
se não fosse pobre de espírito
se não pedisse migalhas de poesias
pelas ruas, pelos rios, tentando decifrar a natureza

cometemos muitos erros ao tentar decifrar a natureza:
a poesia se perde, como agora.

eu poderia dar pontos nos nós
dizer pra que vim ao mundo
falar a Verdade.

mas eu olho os olhos das crianças no metro:

elas não tem olhos, tem espelhos.

Um comentário:

  1. isso ficou lindo:
    "antes eu saberia fazer rimas
    e juntaria palavras feito ímãs,
    mas hoje não sou mais poeta,
    perdi o alvo, a reta, a seta,
    estou nu diante de deus"

    abraços

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