quinta-feira, 20 de maio de 2010

Análise descientífica do trecho inicial do Poema Sujo do Gullar

Metodologia Descientífica:
Inexplicitar a coerência dos versos iniciais através de um estudo desestruturalista, utilizando como base conceitual: a Agramática de Padre Ezequiel, orientador de Manoel de Barros; a Metafísica de Álvaro de Campos e o Zen-Bundismo de Lô Borges no disco do tênis.

Antes de começar a ler, por favor, abra este link:
http://www.youtube.com/watch?v=uU5f-LXmqRo&feature=related
e ouça a música enquanto lê.
Ao terminar, escute de novo, e repita, até terminar o estudo.
Grato.

O poema de Gullar começa assim:

"turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos mole do que duro menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro"

nesse trecho de abertura podemos observar claramente nada.
um desentranhamento da vida que não é a vida ainda
vem sujo do que não é poema.

como uma flor que se vomita
vem em pétalas e comida: seiva bruta

como um vulcão que se erupta
vem em lava, baba, vulva: se exita

uma não-poesia
também pode entrar na poesia
porque poesia também é puta
dá pra todo mundo
dependendo do apreço que se pague

e Gullar continua:

"como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
"

aqui aprendemos que cu pode entrar na poesia
e que a poesia pode também entrar no cu
misturamos imagens na cabeça do leitor/poeta
que vai construir esse filme de sons mentais
através da repercussão da palavra no corpo
na retina
na rotina

outra deslição é que
podemos achar o azul de várias formas:

"para achar o azul eu uso pássaros" (Manoel de Barros)

Gullar usa gato, galo, cavalo
e cu

continua:

"
tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
"

a questão dos orifícios poéticos por onde escorrem e penetram o
escorrimento lírico é aqui abordada com imprecisão acientífica

o corpo adquire autonomia poetal
e passa a controlar o fluxo de palavras para a re-produção criativa

corpo corpo
torpor torto
muito torto
trata o olho como um porto
donde partem naus gordas
em direção ao extremo nada
além, dos além

"um Oriente ao Oriente do Oriente" (Pessoa)

seria mais fácil cortar o aço
do que as palavras
de um poeta

seria um laço feito de cordas vocais vazias
que une o grito de dor do poeta
e a poesia?

Inconclusão:
É inevidente, portanto, que o trecho inicial do Poema Sujo, de Ferreira Gullar, necessita de mais estudos metodológicos para uma melhor análise descientífica de seus procedimentos agramaticais, seus desentranhamentos e seu uso de palavras chulas.

Concluimos que um poema nunca se conclui*

*é mais fácil para a poesia sair voando das palavras. dessa forma, ela pode pousar no ombro do leitor e sussurar um silêncio melodioso. as sinapses neuroniais do leitor vão se desformar, distorcer, até sair um pequeno curto eletromagnético chamado por Gullar de "espanto". é o espanto que impede a conclusão de um poema, visto que o espanto não está inserido na temporalidade aristotélica: é puro espaço vazio e tempo infinito.


3 comentários:

  1. Agora você vai argumentar minhas críticas à sua escatologia com trechos de Gullar.
    Se achando muito esperto, né?
    Tá bom, você venceu...batata frita.

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  2. tá tudo muito bem (bem) tá tudo muito bom (bom), mas rrrrrrrealmente... mas rrrrrrrrrealmente

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  3. tava lendo parte desse poema segunda-feira! ou seria terça? deixei até de estudar por isso!

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