domingo, 30 de novembro de 2008
Capote (não é o Truman, mas é verdade)
O seu valor
se cair o meu número
nosso número da peça
peça de jogo
jogo da vida real, sonho real
eu preciso de ajuda
para me encontrar sozinho
eu só penso em conjunto
só nego o eu-divino
eu quero sair pela noite
e ao mesmo tempo ser dia
eu quero abrir aquela ferida
e fechar com honra o amor
eu te quero
como você não é
eu te quero sua
eu te quero mulher
perigos vamos encontrar
e eles são necessários para amar
sem dor não tem graça
sem farsa não é fingir
o sentimento humano da gente
gente que só pensa em viver
eu quero a sua vida perdida
eu quero razão de viver
tua família e aminha
nosso filho feito de nós
nós somos a pátria bandida
que declarou guerra à hipocrisia
e fez, uma revolta no coração
eu quero você
totalmente nua, crua, na rua
escura pedindo esmolar de amor
e ao mesmo tempo sabendo
o seu valor
(cadernos adolescentes)
Art-Ista-Tud-Ocul-Todos
assim como meus silêncios não estão no espaço
cada pedaço do meu corpo em movimento não está no tempo
assim como cada olhar que apreende o mundo não está no ponto de vista que a vemos
o que eu quero é a palavra que não está escrita nela
o silêncio que não está entre ela
o movimento que não vibra do seu som
a visão de tudo que não se vê por ela
isso é cinema
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Nada - cadernos adolescentes
atalho
fica fácil chegar
caminho cheio de
curvas
muito sinuoso
e há algo escondido
profundamente
há um tesouro
enterrado
ou uma
maldição antiga
que desencoraja qualquer
aventura
e eu sou um aventureiro
sem fronteiras e sem medo
e conheço teu segredo
só não conheço eu mesmo
eu não pertenço nem tenho
numa mão o vazio
noutra o tempo
fragmentos de memória
retalhos do quase-nada
você marcou a minha história
mas não ficou nenhuma marca
ELETRODOMÉSTICA
Ter limosine, piscina e telefone celular,
limpar a bunda com dólar e arrotar caviar
Eu queria ser amigo de Kelly, Brendon, Brenda e Donna
Ser vizinho de Daryll Hanna pra brechar sua bundona
A Daryll Hanna e sua bundona
A Daryll Hanna e sua bundona
Lá em Beverly Hills
Lá em Beverly Hills
Eu queria ter um porsche, poder tocar com os Walsh
Eu queria ter um porsche, poder tocar com os Walsh
Os Walsh, Os Walsh Os Walsh
Lá em Beverly Hills
Lá em Beverly Hills”
Escolhi esse curta pois senti uma tremenda habilidade cinematográfica do roteirista, diretor, montador e produtor Kléber Mendonça Filho. Um domínio da técnica para sublimá-la. O filme flui de tal forma que, à primeira vista, não percebemos.
Sem deixar de lado o humor, Kléber tece uma crítica inteligente ao mundo mecânico e aprisionado no tempo da doméstica, um mundo dependente de inúmeros aparelhos eletrodomésticos, um mundo enclausurado na rotina.
Como válvula de escape, o voyerismo, a vida alheia, um baseado, e por fim, o gozo cronometrado na máquina de lavar. Até os momentos de prazer são cronometrados, mensurados, maquínicos.
A montagem sabe ser ágil, como também sabe ser econômica. Percebemos um domínio dos cortes, do raccord, da utilização do som, da música.
Como no livro de Luis Carlos Maciel, “O Poder do Clímax”, a construção narrativa baseia-se no climáx, uma imagem-mãe: uma doméstica se masturbando e tendo um orgasmo com a vibração da máquina de lavar. Uma simbiose digna de Cronenberg, a doméstica elétrica, a eletrodoméstica.
Reflexões: Música e Sociedade nos Séculos XIX e XX.
A atividade musical nos grandes centros urbanos contava com figura do mestre-de-capela. Um funcionário real, que organizava a atividade de outras Igrejas. Kurt Lang foi o pioneiro desse estudo, e contesta a idéia de Mário de Andrade do baixo desenvolvimento técnico dessa época.
O mestre-de-capela seria uma espécie de diretor musical. Ensaia (organização), compõe (secundário), ensina, mantêm o arquivo (manuscrito, é proibida a imprensa - séc XVIII). São padres com formação musical paralelamente ao ritual religioso. O músico é um artesão, com a possibilidade de ascenção social.
Com a descoberta do ouro em MG, Portugal vai proibir os mosteiros e conventos (clero regular). Só haverá em MG o clero secular, remunerado pelo Estado. Uma forma de evitar o contrabando.
Nas Irmandades de Leigos, ou seja, irmandades privadas, um sistema de editais públicos (arrematações) para organizar a atividade musical em um ano gerava grande concorrência e demostrava a profissionalização da atividade. Podemos perbeber o “mulatismo” dos vencendores desse sistema, indicando o espaço de ascenção social para os afro-descendentes.
Nas Corporações musicais, o mestre detinha o domínio das técnicas, uma atividade artesanal, nos moldes das antigas corporações de ofício.
Como se deu a decadência do ouro para a atividade musical?
Mário de Andrade, chegando em Ouro Preto em 30/40 e ouvindo tudo desafinado. O parâmetro se perdeu. Eles não ouviram o eco de algo que foi muito importante no passado. Kurt Lang não percebe que as corporações de ofício tinham arquivos, técnicas.
1960, a Igreja se moderniza e muda o repertório. É recomendado que o latim fosse abolido para se cantar e realizar os ofícios na língua nacional. Os padres entenderam: toca fogo. Grande parte dos arquivos, incluindo as músicas se perderam. Nâo temos arquivos do período colonial preservados.
II. Música e Sociabilidade no Rio de Janeiro Imperial.
A figura central que permaneceu foi a de Padre José Maurício. Em suas obras, podemos perceber que aos poucos a música religiosa vai sofrendo influência da música profana – teatro/ópera.
A chegada da corte imperial no RJ traz uma nova dinamização para a música. Como forma de sociabilidade das elites, novos espaços foram abertos e novos ritos sociais se firmaram. As danças de salão da tradição européia, e principalemente dividida em 3 grandes espaços: A Igreja, Capela Real, o Teatro, Real Teatro, e a câmera, Real Câmera.
Qual a função social? Status. O rei é visto. O fato das elites se estabelecerem com tal, demarcar status social e político, hierarquia. Reproduzir o comportamento da corte. Modelo absolutista francês. A ópera como espetáculo absolutista.
De longa tradição musical, Dom João VI cantava o gregoriano. O conhecimento musical é algo que faz parte da formação, da sociabilidade.
A missa que soa como ópera.
A elite não vai a Igreja para reazar (ou só). Profanização da forma sacra, influÊncia austríaca (Viena) na corte do RJ. A burguesia reproduz o comportamento da aristocracia.
Império Luso-Brasileiro: existia o projeto de transferência para evitar a independência da colônia. Nâo havia unidade – a noção de Brasil.
José Maurício, negro, ao ser apoiado por Dom João VI , demonstra um projeto de Império.
Pedro II mais tade vai bancar os estudos e produzir a estréia do Guarani, de Carlos Gomes. O objetivo é claro: mostrar que o Brasil é um país civilizado, propaganda política. Fica evidente a importância da ópera como elemento fundamental para o imaginário da corte. É nesses espaços que se constrói o conceito de elite.
III. Música e ideologia no Brasil República.
1880, década final da monarquia. Leopoldo Miguez e Alberto Nepomuceno.
Desenvolvimento da técnica de composição e reprodução (execução). Desdobramento na formação e profissionalização. Projeto de escola (Instituto Nacional de Música): formar a base.
Disputas na crítica: Rodrigo Barbosa e Luiz de Castro, ligados na música alemã; e Oscar Guanabarino, na italiana.
Questão da elite: canto em português, mestiçagem: tornar a música popular algo erudito. A idéia de se formar uma consciência de país. Uma consciência nacional. Pensar uma música com o conceito de nação. Fazer parte do pensamento positivista. Aproveitar a forma tradicional mas alterar os símbolos da monarquia (como na bandeira nacional, no hino nacional).
III. Moderno.
Pensar o moderno: duas vias: nacionalismo de Mário de Adrade e o dodecafonismo de Koellreutter, “Música Viva”.
Koellreutter, fugido do nazismo, chega no Brasil e organiza o movimento “Música Viva”, numa crítica ao academicismo e a estética tradicional. Percebe o predomínio do nacionalismo de Mário de Andrade na produção musical, bem como o seu ideal de forma neo-classíca reacheada de melodias do folclore nordestino.
Propõe uma outra relação com a música, mais liberdade de criação:
Pensar a divulgação, o ensino, a renovação do ambiente musical ainda com os conceitos cristalizados do nacionalismo.
Koellreutter não é um combatente do nacionalismo, é antes um questionador de seus dogmas: o nacionalismo é só uma possibilidade entre outras.
O movimento vai agregar diversos compositores como: Claudio Santoro, Guerra-Peixe e Edino Krieger.
“Não há arte revolucionária sem forma revolucionária”, retomando a idéia de vanguarda, o movimento busca provocar a transformação.
MANIFESTO MÚSICA VIVA 1946
- refuta a arte acadêmica
- não há arte sem ideologia (pensamento marxista)
- arte ligada a realidade (utilidade)
- arte engajada politicamente
No final dos anos 40, Santoro participou de um congresso no leste europeu, onde a palavra de ordem era uma arte facilmente compreendida pelo povo – o conceito de arte revolucionária de subverte com Stalin e o pensamento do realismo socialista soviético.
Os compositores que faziam parte da vanguarda são perseguidos. Os outros pedem desculpas ecomeçam a resgatar o tradicional clássico e romântico.
- Resgate do tonal – empatia com o público
- Voltar a música para o século XIX (final do romantismo)
- Desprezo pela música instrumental
- O texto vai ajudar a chegar mais perto da mensagem revolucionária
Nova repressão da arte. As vanguardas são consideradas decadentes, degeneradas.
IV. Contemporâneo.
Os desdobramentos da polarização ideológica da Guerra Fria repercutem de diversas formas na música. Aos poucos, as questões políticas puderam substituidas por questões estéticas (há algo mais político que a estética?).
O tropicalismo surge como elo aglutinador de tendências, refutando a idéia de tradicionalismo na forma e conteúdo, mensagem revolucionária.
A importância de Koellreutter se faz sentir em seus alunos, como Rogério Duprat, que traz o contemporâneo e a vanguarda para o popular. O nacionalismo agora se relativiza, se antropofagiza realmente.
A música se liberta?
18 músicas
creio
tê-lo
perco
cedo
sono
inteiro
medo
minto
sinto
fome
fogo
queima
preso
junto pedaços de aços de cacos de mim
juro pedaços de maços cigarros sem fim
cada cadáver do corpo revela a adaga do caos
causa perdida do corpo divide em pedaços o ar
sábado, 22 de novembro de 2008
Comentário amigo sobre "Uma Brincadeira chamada Amigo"
"Quando você pediu para que eu fizesse a crítica ao seu texto, uma dúvida tão logo veio-me à mente: por que tal texto, se há tantos outros. Foi só avançar um pouco na leitura para de imediato dar-me conta de que se tratava de um tema que tangencia toda a história que, de uma forma ou de outra, estará presente em meu curta. Isso tudo, é claro, com uma diferença básica: no caso do filme a maré parte de rios que possuem a mesma fonte; no caso da sua história, é o contrário: a maré separa o que não se une senão por acaso ou, o que a torna mais interessante, por inocência.Vou falar um pouco da forma do texto; e para fazer uma redundância necessária, comecemos pelo início. Ao modo de um argumento de um filme, você inicia o texto com uma data: 1994. De modo a conferi-la concretude, isto é vida e vivência, você faz apelos a extratos mnemônicos de ordem cognitiva. É o Leblon, é o Senna, é o Dragão Chinês. Mas não para por aí: logo em seguida trás – o que em minha opinião importa mais – as impressões sensíveis. Aí é o esfarelar com os pés, a surpresa das joaninhas (as fumigas), o charme, o efeito do sol, o que importa. Por meio dessas duas estratégias você reconstituiu o lugar.Depois de montado o cenário, você traz à tona a frase que vai permear toda a história: “a maré sempre leva, e a gente não percebe”. A própria história não deixa de ser, ela mesma, levada pela maré da memória, do afeto e da percepção. Aí entra um outro ponto em torno do qual a frase vai ganhar todo o seu sentido: a brincadeira ‘Amigo’. É pelo amigo, pela amizade (ainda que circunstancial e fugidia) ali criada, que a história nos leva à inocência infantil. Sim, o menino que hoje você “chamaria de pivete”, o que implica não apenas uma categorização da ordem dos fatos, mas um juízo de ordem normativa – o qual incute dentro de si uma série de atribuições pré-reflexivas atinentes à periculosidade do referente –, conseguia ser apenas um menino. A amizade implica, ainda que tacitamente, uma inocência, que engendra uma relação de incondicionalidade. O amigo, amigo mesmo, a gente aceita de modo intransitivo; e a criança é o ser que, devido a sua ainda não inculcação e incorporação dos padrões e taxionomias sociais, ainda consegue escapar ao que para um adulto é óbvio. Por isso, a criança é instrumental e utilitária: ela usa, por mera adequação, o que ela entende adequar-se ao que precisa; e ela também é amor: o amigo é aceito, e pronto.Só mais tarde, a gente aprende que o garoto é pivete. E que por ele podemos – sobretudo devemos – ter dois sentimentos: o asco e a pena. O problema é que isso não para por aí. Aquele menino também aprende que ele próprio é um pivete. Afinal, ele não é olhado apenas pelas crianças que com ele brincam de modo gratuito; os adultos também os vêem; e ele se vê através dos adultos. E não é senão por meio desse olhar que esse menino, o pivete, vai – também – ser conduzido. Agora o pivete cresceu, tornou-se efetivamente isso. O olhar o transformou, o transfigurou. E agora? A questão é perguntar: será que é possível ainda nutrir por esse menino afeto e consideração? Será que é possível buscar nele alguma complementaridade que não seja aquela da assimetria incutida pela pena? Se a justaposição dos dois corpos, do seu e do dele, ocorrerá novamente um dia, não sei. Fato é que acontecerá em outras circunstâncias.Agora é a hora de voltar ao meu curta. A história que ali eu apresento reflete de alguma formas duas trajetórias, uma certa continuidade de onde para sua história. Mas para não cair em um determinismo que a idéia da “maré que nos leva” pode deixar entender, vou tentar fazer pesar o outro lado, ou o mesmo, só que de outra forma. Aqui, fico com Sartre: o que vale a pena ser contado é o que cada um fez com o que a maré fez de vocês.
Abs.
Diogo."
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Montagem dentro do plano
Aquilo que aparece no plano ou o que desaparece, o que não se acostumou a ver?
Num tiroteio de feridos e rolos perdidos,
o turbilhão dos nossos avós,
a saudade louca de recriar o que não acabou ainda,
estar no presente.
Pensar na Tailândia é pensar no Brasil?
Pensar no mundo é pensar no Brasil?
ou pensar no Brasil é pensar no mundo?
Existem fronteiras ainda?
Existem fronteiras ainda?
Existem fronteiras ainda?
Existe faroeste, o oeste desconhecido, o mistério do Japão, existe ainda?
E se essas coisas existem, por que não conseguimos ver?
Por que não conseguimos ver dentro do plano?
O problema não é a câmera, não é o som, não é a luz.
Onde está o plano?
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Plano de fuga
Sociedades e páginas
Um plano inclinado na escuridão
O primeiro plano de um rosto
Segundo um evangelho perdido
Três reis e três retas, um horizonte em seta
Um filme feito de músicas
Três notas de um acordar
Um acordo sem notas no jornal
Uma crise financeira global
O primeiro plano de um rosto
Seguindo até o fundo do poço
Num plano sequência final
Um plano feito de fugas
Primeiro plano de jovens rugas
Na janela do planalto central
Um teatro do absurdo, surdo, bumbo, surdo-mudo
O plano geral: brasilento, brasilindo, brasilouco, brasiluz
Mitologia do que já foi um dia
Um silêncio no meio da dodecafonia
Teus cabelos, planos ao infinito
Um plano de fogo
Um pano de fundo
Canto de gente que saíu do mundo e voltou vivo
Cantos, esquinas, lisas, vazias
Textos na internet, minha foto, seu vídeo, meu blog,
Sexos na xerox, minha máscara, seu espelho, meu globo
Perdi, entre abraços e apátridas meu país e minha gente
As linhas tênues da fronteira de Platão
A profecia escrita nos pratos
O plano em close-up, seus olhos, seus olhos, teus olhos,
Tesouros
Uma fuga feita de planos
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Como os romanos faziam
deitar no chão, com o prato de macarrão no meio da gente
e a gente toda brincando de história
história em roda
misturando fatos de todas as épocas da nossa amizade
com macarrão e molho de atum
Vamos fazer como os romanos faziam
uma herança cultural marcada em sangue
uma distância do jornal da manhã seguinte
um passado paradoxal aqui na nossa esquina
o mesmo sentimento de anos atrás
o mesmo surrealismo nas histórias
as mesmas caras de jovens
as mesmas histórias
Vamos fazer como os romanos faziam
contando piadas em volta do jantar
contando a nossa vida pulsante no pulso do relógio da cozinha
um rodízio de crepe
Poesia da adolescência
em câmera-lenta, e tenta tornar meus olhos mais
belos, com o reflexo desses reflexos naturais meus
de tocar o que é belo e ver filmes europeus
sem me perguntar se tem sentido ou não
sem preocupar com o caminho, direção
seu corpo é quase eterno de fato
falta ainda uma rima, poesia de poeta nato
minhas mãos filmam tudo passo a passo
como um diretor pasmado com a atuação da luz
sobre teus cabelos, que reduz os meus erros
em apenas formas diferentes de acertar
não deixa a fama e a fantasia te mudar
o teu futuro é obscuro mas tem cheiro de glória
aprende a amar e faz a tua história
como quem faz uma obra de arte
mas não-sólida
livre
Dilúvio de Hoje
o meu espaço se esvazia em gotas
a cada passo um infinito profundo
e no fundo do passo eu passo pelo labirinto-mundo
as gotas de chuva na janela da cidade
as poças no chão da faculdade
um quase dilúvio de promessas
e nessas águas calles, nessas calles águas
a opacidade dos sonhos me enganou
de promessas não curtas, não longas
queria saber os segredos do tempo em que não havia tempo
do tempo em que nossa aldeia ficou submersa
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Pedi a conta
O tempo num labirinto.
Hoje, às 18 horas, pedi a conta do café.
Hoje, às 18 horas, Prometeu rouba o fogo.
Hoje, às 18 horas, um índio avista algo na praia.
Hoje, depois de sentar-me na mesa da calçada, e tomar o café, eu pedi a conta.
Mas poderia ser Prometeu, que depois de sentar-se numa rocha do Olimpo, roubou o fogo dos Deuses.
Ou poderia ser um índio, hoje, que, sentado na areia, avistou algo na praia.
Eu, depois de sentar-me aqui na calçada da Rua Visconde de Pirajá, olhando as pessoas, os carros, a vida borbulhante e o espumante da senhora da mesa ao lado, eu tomo meu café. Mas poderia ser Prometeu, que cansado da prepotência dos Deuses, senta-se numa pedra, no Monte Olimpo e pensa num plano, um plano para a Humanidade, ali embaixo, a vida acontece. Ou o índio tupinambá, que, sentado na areia de uma praia na Bahia, não entende quando, de repente, estranhas figuras chegam na areia da praia, como 2 batedores de carteiras que chegam na frente da calçada do café, ou como 2 guardas sonolentos protegem um segredo dos Deuses.
Eu, avistando 2 batedores de carteira, que atacam, agora, uma senhora rica. Com a mesma violência que um capitão português catequiza o índio, numa praia da Bahia, hoje, às 18 horas.
Prometeu passa pelos guardas e esconde o fogo numa planta. Ou poderia ser o batedor de carteira, que esconde em seu bolso da calça jeans a carteira da senhora que sente que foi roubada, ou o índio que é obrigado a entregar seu colar com uma pedra brilhante.
Eu estou aqui, sentado na calçada, e acabo de tomar o meu café. Estou sentado quando percebo que uma senhora, ou um índio, ou Prometeu, está sendo assaltada. Eu, ou um índio, ou uma senhora, já não sei, só sei que jogo minha xícara de café ainda cheia, pois acabo de pedir meu café, que ainda não chegou. Eu jogo minha xícara de café vazia, que se quebra no chão da calçada.
Ou poderia ser o pedaço das vestes de Prometeu, que cai agora no chão, denunciando que ele roubou o fogo dos Deuses. Ou o índio, que antes de entregar seu colar com uma pedra de esmeralda, joga nela um feitiço mortal.
Eu acabo meu café, agora, às 18 horas, e acorrentado numa montanha, recebo a visita constante de capitães portugueses, cujas carteiras são roubadas, ou não, pelos Deuses.
Eu acabo meu café e peço a conta.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Realmente
Não tem nada de mais em ser feliz
Não tem nada de mao em ser feliz
Não tem nada de maio ensemble li
Não tem nada de maior semblante ali
Nâo tem nada de maiores mantras a lira
Nâo tem nada de maiores mandarins a li-re
Não tem nada de mais em ser ali, realmente.
Paredes da Poesia
com a tinta fresca da cuca fresca do dia-a-dia
Quero pintar as paredes da poesia
com pinturas rupestres do tempo da minha tia
quero mijar nas paredes do orgulho
a poesia fresca que esvazia o ego
a poesia que resta no fim desse entulho
mijando os muros do silêncio como um cão cego
quero pendurar panfletos nas paredes da vida
fazendo propagandas enganosas sobre os enganos da vida
afinal, cada um tem a sua
parede, muro, porta da casa, família
quero autografar as paredes da memória
com o sorriso da criança que fui e que serei um dia
rabiscar uma carta de amor
ser livre
frases de amor que a gente copiava do papel das balas Ice-Kiss