domingo, 30 de novembro de 2008

Capote (não é o Truman, mas é verdade)

, e quando a gente é criança ficam umas imagens na nossa cabeça. Às vezes eu fico pensando: como é que eu pensava quando era criança? Como que eu enxergava o mundo? Como eu pensava? E nessa intriga, lembro de quando sofri um acidente automobilístico. Começo dos anos 90. Eu tava indo, não, eu tava voltando de um sítio? Era algo como um sítio, uma casa de campo-praia, algo no interior, é, praia não era. Podia ser em Petrópolis. Na serra. Ou no interior fluminense. Estávamos voltando pela estrada. Não sei por que, mas ao pensar nessa época lembro tão somente da "fada do dente". Pois é, meio gay, mas as imagens nebulosas que vêm são da minha mão achando um brinquedo que minha mãe colocou debaixo do travesseiro. Na noite anterior um dos meus dentes tinha caído. Ou foi arrancado amarrando um fio dental na maçaneta da porta. Uma prática comum naquela era histórica. Pois era um carrinho. Um carrinho daqueles de brinquedo, pequeno, que talvez tinha um mecanismo de rodas que quando você atritava ele para trás e ficava repetindo isso, depois soltava, ele saía correndo e batia no pé da sua mãe. Ou entrava naquele lugar escroto debaixo do sofá. Era uma bosta. Tinha que ir até a cozinha e pegar uma vassoura para tirar o carrinho dali. Estávamos voltando pela estrada, de noite. Tava a minha mãe, o namorado e eu. O carro parece que subiu num morrinho, não sei direito como, acho que estávamos em alta velocidade. O carro subiu e voltou capotando, girando, girando. Minha mãe, ninjamente pulou pela janela antes de capotar. Incrível. Acordei com as porradas, os estrondos. Mas não no momento do estrondo. Parecia que eu acordei, e comecei a ouvir os estrondos, depois que eles tinham acontecido. Um troço muito doido, pensei agora. Parecia que eu estava ouvindo um som já passado. O som do capote. Aconteceu o seguinte: o porta-malas caíu em cima de mim enquanto eu dormia. Não presenciei nada, apesar de ter. Acordei já de cabeça pra baixo, intacto. Intacto? O namorado da minha mãe ficou machucado, pois se arrastou por entre os cacos para me pegar. Intacto? Chorei no princípio. Chorei um pouco mais do que estou falando. Mas o choro não foi um choro comum. Foi um choro diferente. Um choro silêncioso. Respeitoso. Intacto? Algo, além de mim, capotou naquela noite. Um brincar de carrinho, pegar o carrinho com a vassoura. Acho que agora o meu carrinho tinha um novo motorista. Um pouco mais prudente. Ou não,

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