terça-feira, 25 de novembro de 2008

Reflexões: Música e Sociedade nos Séculos XIX e XX.

I.Profanização/Decadência? – Música e Sociedade – séc. XVIII e XIX.

A atividade musical nos grandes centros urbanos contava com figura do mestre-de-capela. Um funcionário real, que organizava a atividade de outras Igrejas. Kurt Lang foi o pioneiro desse estudo, e contesta a idéia de Mário de Andrade do baixo desenvolvimento técnico dessa época.
O mestre-de-capela seria uma espécie de diretor musical. Ensaia (organização), compõe (secundário), ensina, mantêm o arquivo (manuscrito, é proibida a imprensa - séc XVIII). São padres com formação musical paralelamente ao ritual religioso. O músico é um artesão, com a possibilidade de ascenção social.
Com a descoberta do ouro em MG, Portugal vai proibir os mosteiros e conventos (clero regular). Só haverá em MG o clero secular, remunerado pelo Estado. Uma forma de evitar o contrabando.
Nas Irmandades de Leigos, ou seja, irmandades privadas, um sistema de editais públicos (arrematações) para organizar a atividade musical em um ano gerava grande concorrência e demostrava a profissionalização da atividade. Podemos perbeber o “mulatismo” dos vencendores desse sistema, indicando o espaço de ascenção social para os afro-descendentes.

Nas Corporações musicais, o mestre detinha o domínio das técnicas, uma atividade artesanal, nos moldes das antigas corporações de ofício.

Como se deu a decadência do ouro para a atividade musical?
Mário de Andrade, chegando em Ouro Preto em 30/40 e ouvindo tudo desafinado. O parâmetro se perdeu. Eles não ouviram o eco de algo que foi muito importante no passado. Kurt Lang não percebe que as corporações de ofício tinham arquivos, técnicas.
1960, a Igreja se moderniza e muda o repertório. É recomendado que o latim fosse abolido para se cantar e realizar os ofícios na língua nacional. Os padres entenderam: toca fogo. Grande parte dos arquivos, incluindo as músicas se perderam. Nâo temos arquivos do período colonial preservados.

II. Música e Sociabilidade no Rio de Janeiro Imperial.

A figura central que permaneceu foi a de Padre José Maurício. Em suas obras, podemos perceber que aos poucos a música religiosa vai sofrendo influência da música profana – teatro/ópera.
A chegada da corte imperial no RJ traz uma nova dinamização para a música. Como forma de sociabilidade das elites, novos espaços foram abertos e novos ritos sociais se firmaram. As danças de salão da tradição européia, e principalemente dividida em 3 grandes espaços: A Igreja, Capela Real, o Teatro, Real Teatro, e a câmera, Real Câmera.
Qual a função social? Status. O rei é visto. O fato das elites se estabelecerem com tal, demarcar status social e político, hierarquia. Reproduzir o comportamento da corte. Modelo absolutista francês. A ópera como espetáculo absolutista.
De longa tradição musical, Dom João VI cantava o gregoriano. O conhecimento musical é algo que faz parte da formação, da sociabilidade.
A missa que soa como ópera.
A elite não vai a Igreja para reazar (ou só). Profanização da forma sacra, influÊncia austríaca (Viena) na corte do RJ. A burguesia reproduz o comportamento da aristocracia.
Império Luso-Brasileiro: existia o projeto de transferência para evitar a independência da colônia. Nâo havia unidade – a noção de Brasil.
José Maurício, negro, ao ser apoiado por Dom João VI , demonstra um projeto de Império.
Pedro II mais tade vai bancar os estudos e produzir a estréia do Guarani, de Carlos Gomes. O objetivo é claro: mostrar que o Brasil é um país civilizado, propaganda política. Fica evidente a importância da ópera como elemento fundamental para o imaginário da corte. É nesses espaços que se constrói o conceito de elite.

III. Música e ideologia no Brasil República.

1880, década final da monarquia. Leopoldo Miguez e Alberto Nepomuceno.
Desenvolvimento da técnica de composição e reprodução (execução). Desdobramento na formação e profissionalização. Projeto de escola (Instituto Nacional de Música): formar a base.
Disputas na crítica: Rodrigo Barbosa e Luiz de Castro, ligados na música alemã; e Oscar Guanabarino, na italiana.
Questão da elite: canto em português, mestiçagem: tornar a música popular algo erudito. A idéia de se formar uma consciência de país. Uma consciência nacional. Pensar uma música com o conceito de nação. Fazer parte do pensamento positivista. Aproveitar a forma tradicional mas alterar os símbolos da monarquia (como na bandeira nacional, no hino nacional).

III. Moderno.

Pensar o moderno: duas vias: nacionalismo de Mário de Adrade e o dodecafonismo de Koellreutter, “Música Viva”.
Koellreutter, fugido do nazismo, chega no Brasil e organiza o movimento “Música Viva”, numa crítica ao academicismo e a estética tradicional. Percebe o predomínio do nacionalismo de Mário de Andrade na produção musical, bem como o seu ideal de forma neo-classíca reacheada de melodias do folclore nordestino.
Propõe uma outra relação com a música, mais liberdade de criação:
Pensar a divulgação, o ensino, a renovação do ambiente musical ainda com os conceitos cristalizados do nacionalismo.
Koellreutter não é um combatente do nacionalismo, é antes um questionador de seus dogmas: o nacionalismo é só uma possibilidade entre outras.
O movimento vai agregar diversos compositores como: Claudio Santoro, Guerra-Peixe e Edino Krieger.
“Não há arte revolucionária sem forma revolucionária”, retomando a idéia de vanguarda, o movimento busca provocar a transformação.
MANIFESTO MÚSICA VIVA 1946
- refuta a arte acadêmica
- não há arte sem ideologia (pensamento marxista)
- arte ligada a realidade (utilidade)
- arte engajada politicamente
No final dos anos 40, Santoro participou de um congresso no leste europeu, onde a palavra de ordem era uma arte facilmente compreendida pelo povo – o conceito de arte revolucionária de subverte com Stalin e o pensamento do realismo socialista soviético.
Os compositores que faziam parte da vanguarda são perseguidos. Os outros pedem desculpas ecomeçam a resgatar o tradicional clássico e romântico.
- Resgate do tonal – empatia com o público
- Voltar a música para o século XIX (final do romantismo)
- Desprezo pela música instrumental
- O texto vai ajudar a chegar mais perto da mensagem revolucionária

Nova repressão da arte. As vanguardas são consideradas decadentes, degeneradas.

IV. Contemporâneo.

Os desdobramentos da polarização ideológica da Guerra Fria repercutem de diversas formas na música. Aos poucos, as questões políticas puderam substituidas por questões estéticas (há algo mais político que a estética?).
O tropicalismo surge como elo aglutinador de tendências, refutando a idéia de tradicionalismo na forma e conteúdo, mensagem revolucionária.
A importância de Koellreutter se faz sentir em seus alunos, como Rogério Duprat, que traz o contemporâneo e a vanguarda para o popular. O nacionalismo agora se relativiza, se antropofagiza realmente.
A música se liberta?

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